Capítulo 40

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Como sacos de batatas

Anna

Ajeitei o cabelo, limpei o batom borrado e passei um gloss que estava escondido sob o vestido, respirei fundo e me preparei para sair, entretanto, antes que eu pudesse sair, ouvi um barulho oco, como se um saco de batatas tivesse caído no chão.

Embora eu soubesse que não havia sacos de batas flutuando como fantasmas pelos corredores da casa, dei de ombro, pois não era algo que eu me importasse. E daí se um bêbado tropeçou nos próprios pés e caiu no chão? Não era algo com que eu devia me preocupar no momento. Era?

Eu gostaria de ignorar e voltar para o concurso, todavia, minha consciência me traiu e me obrigou a sair do banheiro e procurar o bêbado escandaloso que caiu feito um saco de batatas no assoalho caríssimo da dona da casa. Segui pelo corredor, olhando o cuidadosamente todos os ambientes. Já estava cansada e preocupada com o horário, pois eu não devia estar ali.

Guilherme vai me matar. Guilherme vai me matar e com razão. Se eu fosse o Guilherme também me mataria. Anna, qual é o seu problema garota?

Desferi um pequeno tapa em minha cabeça, sinal da minha indignação comigo mesma. Outra que merecia um tapa era Michele. Ela não deveria dar forças para a minha falta de noção. Não se incentiva alguém que deseja pular da ponte, você convence a pessoa do contrário.

Ora bolas.

Segui até fim do corredor, onde uma porta estava entreaberta. Não era tão longe do banheiro, então daria para ouvir o barulho. Contudo, o que um bêbado fazia ali, tão longe da festa?

Senti uma angustia escalar meu coração e subir pelo pescoço. Não é nada, Anna. Por mais que eu tentasse me convencer do contrário, algo em mim dizia que eu não devia estar ali. Algo berrava para eu ir embora e deixar o bêbado se virar sozinho. Algo esbofeteava o meu coração, alarmando-me para o pior. Eu estava começando a acreditar que eu deveria confiar nesse "algo".

Suspirei e, com a mão trêmula, afastei a porta que rangeu ao se abrir. Em um primeiro momento, meu cérebro não captou a mensagem transmitida pelo meu olhar e olfato. No momento seguinte, ele entendeu e simplesmente surtou.

Sangue, tem sangue aqui.

Isso mesmo, Anna. Essa coisa vermelha pelo chão é sangue, não toque nisso!

Então eu caminhei até a vítima e fiz a última coisa que eu deveria ter feito, toquei no corpo. Minha respiração estava irregular e meu coração palpitava. Eu conhecia aquela jaqueta de bad boy e eu precisava ter certeza.

Virei o corpo pesado para que eu pudesse ver o rosto.

Não...

Não pode ser.

Por favor, não.

Francis...

Um grito fino, como eu nunca pensei que pudesse sair da minha garganta, saiu. Eu comecei a chorar de forma desesperada, vendo o sangue banhar o rosto de Francis. Eu não me importava mais com o meu estado, não importava mais com as minhas mãos manchadas de sangue, não me importava mais com o meu vestido ensanguentado. Eu só queria limpá-lo e, talvez, se eu tirasse todo aquele líquido espesso e vermelho de seu rosto, não aparecesse nada além de um pequeno corte.

— Francis. — Chamei, mas ele não se moveu. — Por favor, acorde.

Ele não acordava, não se mexia e eu não tinha certeza se ele estava respirando. As lágrimas salgadas me fazia fechar os olho. Tentei enxugar o rosto, mas tudo o que consegui foi me sujar ainda mais de sangue. Aquilo não podia estar acontecendo. Eu não podia perder outra pessoa.

O Amor dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora