Capítulo 33

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EU

Anna

Eu sempre quis um amor fácil, daqueles em que as pessoas simplesmente se gostam e ficam juntas e felizes. Para alguns, pode parecer entediante, todavia, para mim, era o melhor do relacionamento. Nunca entendi por que as pessoas desejam viver um conto caótico de fadas, com bruxas más, caçadores, venenos e tudo para dar errado. Do conto de fadas, eu só desejo o "felizes para sempre", mesmo sabendo que essa é a frase mais falsa de todas as histórias.

Eu era o Superman e "meu amor" a minha criptônima. Embora eu fosse o Batman, Francis era o meu Coringa. Ele era a bala à queima roupa, alojada em minhas entranhas, enquanto eu não passava de sua presa. Eu era uma presa fácil para o Lobo em questão. Eu sabia disso, Guilherme desconfiou e Francis tinha certeza.

— Meu amor, por favor, me perdoa. — Ele falou e todos os meus músculos travaram.

Eu senti a mão esquerda de Guilherme se tensionar em meu braço, eu senti todos os olhares de crítica se transformarem em curiosidade, eu sentia medo. Dor. Raiva. Nojo. Aflição. Senti cada pequeno centímetro de pele se arrepiar e um arrepio gelado subir pela coluna até a nuca.

Eu parei.

Meu coração parou.

O mundo parou e me observou.

— Anna, não pare de andar. — Guilherme falou e a tensão em sua voz foi suficiente para eu perceber que ele estava controlando todo o ódio que estivera guardando. — Eu vou matar esse desgraçado se olhar para a cara dele.

Então eu decidi por mim mesma que nem Francis, nem ninguém, pisaria em mim novamente. Eu respirei fundo e senti os meus músculos relaxarem e meu coração entrar em equilíbrio. Eu era dona de mim e das minhas vontades, eu era a única a estar sofrendo e a única a ser punida. Eu e apenas eu, poderia resolver toda aquela confusão.

— Eu preciso dizer uma coisa. — Falei para Guilherme e me virei para Francis em seguida.

Eu estava diante das minhas duas maiores paixões. Eu busquei ansiosamente por elas, eu desejei e espelhei a minha felicidade em suas respectivas existências. Eu esqueci de me querer primeiro, de me amar primeiro. Eu vivi todo esse tempo em busca de algo que me proporcionasse felicidade, quando a felicidade estava em mim.

Observei os rostos em volta e reparei no rosto contraído de Henrique, que me observava com um misto de dor e raiva. Ao seu lado estava Christian, segurando a sua mãe e olhando Henri com cautela, em seguida, ele me olhou como se dissesse "O que você está fazendo? Não está vendo como Henrique está prestes a ter um infarto? Saia logo daqui."

Ao lado de Henrique e Christian, estavam Mariana, Rayssa e Michele. Rayssa segurava o rosto de Mariana, enquanto a minha irmã chorava. Em muito tempo, foi a primeira vez que vi Mariana chorar. Ela parecia irritada e Rayssa tentava colocar sua cabeça no lugar. Aquelas duas não me enganavam. Não mais.

Ironicamente, um sorriso se formou em meu rosto. A felicidade sempre esteve em mim, enquanto eu procurava por ela nos outros. A felicidade estava em mim, quando escolhi um vestido para o concurso com a minha irmã. Estava em mim, quando cantamos alto ao som da buzina de Romeu. Estava em mim, quando eu e Samanta pulamos bêbadas no lago e sempre esteve em mim. Esteve em tantos momentos, quais eu nem me recordava mais.

Continuei observando os outros olhos, como os preocupados de Samanta, os venenosos de Rubi, os críticos de qualquer desconhecido e, então, os de Francis. Estavam vermelhos, húmidos e quentes. Quentes como nunca antes foram. A boca estava semiaberta, os olhos arregalados, os ombros caídos. Em nada, parecia o rapaz confiante por quem me apaixonei.

O rosto estava machucado, bem mais do que o de Guilherme. O olho esquerdo estava roxo e inchado, a boca estava ferida, o supercílio cortado. Um verdadeiro caos. Se o mundo caminhava em direção ao caos, fazia sentido se meu mundo se encaminhasse em direção ao rosto de Francis.

Eu abri a boca, mas as palavras não estavam prontas. Eu não havia me preparado para aquele momento. Então, por algum tempo, apenas fiquei parada de frente para ele, olhando-o duramente, com a boca aberta, pensando nas palavras certas, para que não houvesse arrependimentos mais tarde.

— Quando eu te conheci, foi mágico. Eu realmente achei que você seria alguém importante em minha história. — Eu suspirei, pensando no momento exato em que conheci Francis. — Acabou que você foi. Francis, você me mostrou que, apesar das minhas fraquezas, eu não preciso de alguém para ficar em pé, afinal, eu tenho as minhas próprias pernas.

Eu sorri.

As pessoas ainda me olhavam, atentas às minhas palavras, como se elas valessem ouro. Francis também me observava com cuidado e dor. Eu não sabia exatamente por que, mas eu chorava e sorria, como se uma combustão de sentimentos estivesse ocorrendo dentro de mim. Eu solucei, respirei fundo e prossegui:

— Você me mostrou que eu não preciso encontrar o cara dos meus sonhos para ser feliz, mas se eu quiser encontrá-lo, ficar com todos os caras do universo para isso, eu posso. Enquanto eu não ferir ninguém, poderei fazer o que eu quiser.

— Eu sou esse cara, Anna. — Ele deu um paço, mas eu não me movi. Ainda olhava fixamente em seus olhos.

— Não. Você não é, pois o cara dos meus sonhos é perfeito. Ele é a peça exata que completa o meu quebra-cabeça, portanto, foi idealizado e... — Eu olhei para as pessoas curiosas que não moviam um pé do lugar. — Levante a mão agora, quem é perfeito.

Todos permaneceram quietos.

— Eu sei que não existe um cara perfeito, não fora da literatura. Eu respeito isso, até porque, eu estou longe de ser perfeita. — Eu fiz um intervalo, tomando ar. — Mas você, Francis, está longe da imperfeição. Ou da perfeição. Você é um crápula, idiota, machista e egocêntrico. Você achou que eu deveria fazer as suas vontades e se aproveitou de uma garota bêbada. Eu poderia te chamar de maluco, mas não acho justo usar uma doença para amenizar as suas atitudes e a sua falta de caráter.

— Ui. — Eu ouvi em coro.

— Anna, já chega. — Guilherme falou, segurando o meu braço.

— Vocês acham que eu o traí? — Eu perguntei para o meu público. Então gargalhei secamente. — Sim, sou eu a garota do vídeo. Mas, o garoto no vídeo é Francis. Ele se aproveitou de mim, enquanto eu estava bêbada.

Eu gritei, olhando em seus olhos. Eu podia ver que ele havia se arrependido. Eu conseguia sentir a energia que emanava em seu olhar. Mas era tarde demais. Ele havia quebrado algo muito preciso, a minha confiança em mim e nas outras pessoas do mundo. Eu nunca mais veria os homens de outra forma, por mais doces e amáveis que fossem. Talvez, isso não fosse de todo ruim.

Ele chorava. As lágrimas escorriam pelo rosto, umedecendo as suas bochechas pálidas e chegando aos seus lábios mais vermelhos do que o comum. Ele não falou uma palavra, sabia que não tinha esse direito e eu me senti grata.

— Me perdoa, Anna. — Ele falou com a voz embargada.

Eu não tive tempo de responder, pois, Guilherme cansou de controlar a própria raiva.

— Você é um moleque. — Ele berrou, quando partiu para cima de Francis, desferindo um soco em seu rosto.

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Com amor, Karol 

O Amor dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora