Capítulo 7

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Ariana

Quando vi ele se aproximando, meu coração disparou. Ele vai me beijar??? Pensei, sem reação. Fiquei certamente aliviada quando ele desviou os lábios para o meu ouvido, porque não sei o que eu faria se ele de fato me beijasse. Se eu empurraria ou se eu retribuiria. Também não sei qual seria a reação de meu pai e de Jon..

Jon.

O que ele diria???

Shawn sussurrou algo como um "ainda não, princesa" e imediatamente senti um arrepio percorrer meu corpo, tanto pelo sussurro quanto pelo "princesa" que parecia tão sexy saindo da boca dele, e, quando ele se afastou, por impulso segurei sua mão e logo entrelacei nossos dedos. Por que fiz isso?

— Ei. –disse.

Ele se virou.

— Quer dar uma volta? –perguntei insegura do que estava fazendo e dei um leve aperto em sua mão, firmando mais nossos dedos entrelaçados.
Nunca tive um namorado ou alguém com quem pudesse andar de mãos dadas sem ser meus pais, a sensação era gostosa.

— Claro. –ele abriu um sorriso encantador e eu retribui esse sorriso, sentindo minhas bochechas corarem levemente.

Passei por ele, sem soltar sua mão, e o guiei para fora do salão, e logo para fora do castelo. Mas não para o jardim, só para fora.
Caminhamos de mãos dadas por um bom tempo até eu realmente me tocar do que eu estava fazendo e soltar a mão dele, mas ele a agarrou novamente, me trazendo pra mais perto.

— Para onde estamos indo?

— Longe do castelo. –digo caminhando calmamente ao lado dele.

— Vai me levar pra longe pra me matar? –ouço sua risada e sorri minimamente.

— Não.. Ainda não, príncipe. –ironizei parando de caminhar ao chegarmos à um riacho.

     O fino rio corria por ali entre algumas flores e árvores e o som da água batendo nas pedrinhas era relaxante. Soltei a mão de Shawn e me sentei em uma pedra grande à margem do rio, dando espaço para que ele se sentasse e dando batidinhas ao meu lado para sinalizar.
A noite estava linda, pela primeira vez nesse inverno o céu estava estrelado, o que significa que amanhã vai dar sol. A lua estava maior do que o normal também e uma brisa gelada batia sobre nós, me fazendo abraçar meu corpo.

— Está com frio? –pergunta Shawn, se sentando ao meu lado.

"Não, to me abraçando porque tenho muito amor próprio", me deu vontade de responder. Mas me deram ordens para ser agradável.

— Um pouco. Mas está tudo bem.

— Aqui. –ele diz tirando seu casaco e colocando ao redor de mim, pressionando suas mãos em meus ombros. E, depois de muito silêncio, ele se pronuncia novamente.– Por que me trouxe aqui?

— Não sei. –digo sincera.– Eu tenho vindo muito aqui nos últimos anos.

— Por que?

— Sempre faz tantas perguntas assim? –vocifero começando a ficar impaciente.

— Só quando tenho interesse. –diz me fazendo revirar meus olhos.

Fiquei alguns instantes em silêncio, pensando se eu contaria pra ele sobre a minha mãe e tal, abri a boca algumas vezes ameaçando dizer algo mas nada parecia certo no momento.

— É por causa da sua mãe, né? –ele perguntou gentilmente e eu levantei meu rosto, fitando seus olhos.– tudo bem. Quando se sentir pronta para falar, estarei aqui. –ele diz desviando o olhar e o levando até o riacho.

Respirei fundo.

— No dia em que houve a rebelião, era um tempo em que o reino estava em crise. Meu pai tentava segurar gastos de todos os lados e criar alianças econômicas com outros países para conseguir empréstimos. Pessoas que eram contra a coroa invadiram o castelo disfarçados de empregados. Nós estávamos jantando, me lembro como se fosse ontem. Eu, meu pai, minha mãe, Hedwig, Jon e os pais dele. Todos à mesa, rindo e conversando, e quando nos demos conta, um deles tinha uma faca na garganta de minha mãe. –faço uma pausa. Não posso chorar, não na frente dele. Limpo minha garganta e sinto o olhar de Shawn sobre mim.– Ele disse para ninguém gritar pelos guardas ou ele cortaria a garganta dela.

— Princesa.. –ele diz em um tom de "não precisa continuar", mas eu ignoro.

— Lembro-me perfeitamente do homem. Barba rasa, cabelo curto e praticamente com a altura de meu pai. Ele fez minha mãe se levantar e sair de perto da mesa, ainda com a faca em sua garganta. Ele queria que meu pai renunciasse e gritou para que ele o fizesse. Eu estava apavorada, minha mãe sussurrava para mim que tudo ia ficar bem e que eu deveria manter a calma.

[ Flashback ]

— RENUNCIE! AGORA! –o homem grita. Seus olhos vermelhos como sangue, uma veia saltando em sua testa e ele cuspia quando falava.

— Por que está fazendo isso? –Jon, ainda criança, pergunta ansioso. Sei disso porque eu estava assim também, mas não conseguia dizer nada, ou fazer nada, apenas tremia e focava meus olhos nos lábios de minha mãe para entender o que ela dizia.

— Por que??? Porque o povo está cansado de sofrer lá fora com fome e frio enquanto vocês, nobres idiotas, estão aqui rindo como se nada estivesse acontecendo. –ele cospe com raiva.

— Todos estamos segurando as pontas, Porter. –meu pai diz.– Abaixe a faca, amigo.

— Amigo? –pergunta o pai de Jon, Henry.

— Ele já foi um nobre. –meu pai sai de seu lugar e caminha devagar até ele.– Vivia aqui no castelo, em nossos bailes, banquetes, sempre vestindo e comendo do melhor, me aconselhando e sendo meu braço direito. Até que ele faliu. Gastou toda a fortuna dele em mulheres e bebida, e quando veio me pedir dinheiro eu disse não. E sabe por que? –meu pai diz se posicionando à minha frente, olhando para o homem.– Porque um homem que arruina a família, não merece minha misericórdia.

[ Flashback Off ]

— As palavras de meu pai ecoaram pela sala de jantar. O tom dele saiu tão frio e seco, e era visivel que as palavras acertaram o peito do homem à minha frente em cheio. Eu vi ele travar o maxilar e, assim que meu pai deu mais um passo para tirar a faca das mãos dele, os guardas arrombaram a porta e ele simplesmente cortou a garganta dela. Sem dó ou ao menos esforço. –agora eu estava em lágrimas, não soluçava, mas sentia elas escorrerem por minhas bochechas.

     Senti a mão de Shawn em meu rosto, ele secou cada uma com seu polegar, me olhando atenciosamente. Estava de noite, mas o céu estrelado refletia seu rosto e eu conseguia ver sua expressão. Pena, mas dor de certa forma.

— O sangue dela jorrou na minha roupa. –falei com um nó na garganta.– Os guardas pegaram Porter e o levaram pra longe junto com os outros rebeldes que disfarçados. O corpo dela caiu no chão em uma poça e Jon correu até mim, me puxando para seu peito e me impedindo de ver a cena enquanto meu pai chorava em cima do corpo. Naquele dia, quando eu me dei conta do que aconteceu, eu só consegui sair correndo. Corri o mais rápido que eu podia e aí eu cheguei aqui, por um acaso, e gritei. Gritei com todo o ar dos meus pulmões e me sentei nessa pedra. Não caiu nenhuma lágrima dos meus olhos, eu estava em transe. –funguei, respirando fundo e me afastando um pouco para passar as mãos por meus olhos.– Venho aqui todos os dias desde então.

     Passei a mão em uma parte da pedra onde ainda tinha manchada uma pequena marca do sangue da minha roupa naquele dia. Depois olhei nos olhos do homem ao meu lado e eu realmente achei que ele fosse dizer algo, um "sinto muito" ou um "nossa, deve ter sido difícil" que é o que geralmente todos que descobrem o que aconteceu falam, mas ele apenas me abraçou, me trazendo para si assim como Jon fez comigo aquela noite. Ele beijou o topo da minha cabeça e me apertou de uma forma reconfortante, enquanto passava a mão pelos meus cabelos soltos.

— Eu estou aqui. –ele disse tentando me acalmar e parar as lágrimas que ainda insistiam em cair.– E está tudo bem.

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