Capítulo 3

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Ariana

Caminhei o mais rápido possível em passos extremamente largos e pesados até o meu quarto. Acho era possivel escutar o barulho do saltinho das minhas botas batendo no mármore abaixo de mim em qualquer parte do castelo. Não acredito que vou ter mesmo que aparecer nesse baile. Não acredito que vou ter que me casar. Não sei se estou mais brava com a festa, com o fato de eu ter que usar um vestido e uma merda de uma coroa ou com o fato de que meu pai ainda não se esqueceu dessa droga de casamento. Sei que é importante, sei mesmo, mas não vou me casar com quem não conheço e muito menos amo.
Tudo bem, o garoto tinha boa aparência e parecia simpático, mas isso não significa que não seja, sei lá, um psicopata. Alguém que só quer o poder de usar a coroa de um país forte.

Tirei o meu cinturão, que carregava a minha espada, e larguei no chão sem dó quando cheguei no quarto. Fechei a porta com força e me taquei na cama. UGH QUE ÓDIO. Eu pensei que eles nem vinham mais, visto que era para terem chegado faz tempo.

— Estou atrapalhando? –pergunta Hedwig abrindo a porta lentamente.

Tiro as mãos de meu rosto e o encaro ainda deitada.

— Vai estar se veio aqui pra mandar eu me vestir.

     Ele soltou uma risadinha, que me fez sorrir, e entrou. Me sentei na cama, cruzando as minhas pernas em perna de índio e o encarei com uma expressão cansada, apoiando a lateral de meu rosto em minha mão direita.

— Creio que conheceu o principe Shawn. –ele diz com um sorriso, agora, em seus lábios, um sorriso que mostrava claramente o quão sarcástico ele estava sendo.

Revirei meus olhos.

— Conheci. Infelizmente.

— Não faça esta cara, ele é um ótimo rapaz. –ele vem até mim e estende a mão para que eu saia da cama, e eu o faço.– Precisa se comportar esta noite, milady. Você sabe que é o que seu pai quer.

— Eu sei, mas por que ninguém se importa com o que eu quero?? Quero dizer, se eu tivesse voz neste castelo, meu pai não precisaria ter que formar uma aliança com outros países. Eu acharia outra forma.

— Como? Estando com os soldados no campo de batalha? –indaga Hedwig com o mesmo sorriso de antes no rosto. Ouch.– Você não pode lutar, Ari. Seu pai precisa.. O reino precisa –ele se corrige– de uma aliança militar. Perdemos muitos homens na última guerra e poucos estão se alistando, mesmo que seja um processo obrigatório.

Ele tem razão. Anos atrás tínhamos milhares e milhares de homens treinando no mesmo lugar em que eu estava mais cedo, tantos que praticamente faltavam treinadores e mal tinha grama, de tanto que o terreno era pisoteado. Em contrapartida, atualmente é raro ver mais do que 600 homens ali.
Suspiro, assentindo, e volto meus olhos a Hedwig que basicamente implora para que eu aceite isso tudo.

— Vai estar comigo até o fim disso, não vai? –pergunto à ele com uma voz insegura.

    Este homem esteve comigo desde os meus primeiros passos, ajudando minha mãe a cuidar de mim quando meu pai estava fora. Ele é meu maior conselheiro e a pessoa em quem mais confio nesse castelo.

— Vou. Mas para que isso aconteça, você tem que se arrumar. Caso contrário, nossas cabeças estarão na sala do trono. –o homem de idade e cabelos grisalhos afirma descontraído, me fazendo rir, e eu o agradeço com um abraço.

Hedwig logo se retira de meu quarto e as minhas servas entram para ajudarem a me preparar. Tiro as minhas roupas completamente sujas de terra e suor, dando à uma delas, e caminho até o banheiro, entrando na banheira que está cheia quase até a borda, com água morna, relaxando meus músculos e fechando meus olhos. Sinto uma das mulheres começar a lavar meu cabelo quando apoio minha cabeça na borda da banheira, enquanto a outra passa a esponja de banho pelos meus braços. "Vai ser uma longa noite" penso comigo mesma.

[...]

Depois do meu demorado banho, visto um vestido escolhido por meu pai. É vermelho, um pouco puxado para o rosa, com detalhes em um tom mais escuro, não sei descrever estes detalhes porque não são desenhos específicos mas são bonitos, e eles ressaltam meus seios e a minha fina cintura. Quando o visto, tenho que prender a respiração para que apertem mais um pouco nas minhas costas, "isso é um saco" bufo me olhando no espelho, fazendo a mulher atrás de mim rir baixo.
O vestido é longo, pelo menos a saia não é rodada, e cobre os meus pés, então opto por calçar as minhas botas de sempre, que por sinal eu uso pra treinar as vezes. Ninguém merece ficar de sapatinho à noite inteira.
Me sento em minha penteadeira e uma das servas se posiciona atrás de mim também, a mesma que lavou meu cabelo antes. O mesmo é deixado solto, mas com duas tranças, uma em cada lateral, que se encontram atrás e são presas juntas. Um penteado escolhido por mim, e eu pareço simplesmente outra pessoa. Alguém totalmente diferente de quem entrou aqui há algumas horas atrás.
     Coloco um colar, com um amuleto como pingente, era da minha mãe, tem o símbolo do nosso reino e uma rosa cravado na pedra. Meu pai deu para ela quando se casaram e ela se tornou oficialmente uma Butera, me apeguei a este colar mais do que à minha espada, pra ser sincera.

— Está bonita. –alguém diz na porta do quarto, me dando um susto e obrigando a me virar rapidamente para ver quem era. Revirei os olhos discretamente assim que vi.

Era ele.

— Você me assustou. –disse com a voz firme, porém um tanto baixa, fazendo um gesto para que todas saíssem de meu quarto, nos deixando a sós, e voltando a olhar meu reflexo no espelho em minha frente.

— Perdão, majestade, não foi minha intenção. Posso? –pergunta Shawn, falando sobre entrar em meu quarto.

Apenas aceno com a cabeça.

— O que faz aqui? –pergunto sem dar a menor importância para se estou sendo grossa ou não.

— Trouxe algo para você. Um presente vindo do Canadá, tão raro quanto sua extraordinária beleza. –"é um idiota" penso comigo mesma.

— E o que seria? –pergunto sem total interesse.

— Só se virando para descobrir. –ele diz com um sorriso radiante e galanteador no rosto, posso ver pelo espelho.

Respiro fundo e me levanto, indo até o homem de cabelos escuros e olhos claros à minha frente e parando perto do mesmo, esperando uma resposta.
Ele tira de trás do corpo uma flor branca. Um cravo? Quase começo a rir quando vejo a planta em suas mãos, mas mordo meu lábio segurando a risada e pego a flor. Ele sorri satisfeito para mim e eu me aproximo dele lentamente, quase colando nossos corpos, fico tão perto que posso sentir a respiração nervosa dele, ele provavelmente pensou que lhe agradeceria com um beijo. Mas não. Então, jogo a flor, que ele me deu, em cima da cama desfazendo o sorriso dele.

— Você vai perceber, Shawn, que eu não sou como as outras mulheres. Presentes não me agradam. –digo com nossos lábios quase grudados e logo me afasto, passando por ele até minha espada, que não tirei do cinturão, e penduro ela na cadeira em que estava sentada antes.– Ah, e não pense que consegue me enganar. Eu moro aqui há 18 anos, sei que você arrancou este cravo do jardim de trás. –pisquei, agora eu sorria de canto, e saí do quarto.

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