Ariana
Desci até onde estava acontecendo o velório, que havia terminado minutos atrás. O céu estava cinzento, um vento gelado se chocou contra o meu corpo quando deixei as dependências do castelo e caminhei pela grama até lá, sinal de que o inverno estava mais próximo do que pensávamos.
O caixão ainda estava no centro, mas não havia mais ninguém além dos coveiros, que estavam ocupados cavando. Muitas flores estavam espalhadas pelo chão, flores que provavelmente caíram de cima da madeira escura que guardava o corpo do meu ex namorado.
Encarei aquilo por alguns segundos de longe, lutando com os meus pés travados para tentar chegar perto e me despedir do meu primeiro amor.
Então me movi. Em passos lentos me aproximei e pedi para que um dos homens abrisse o caixão; de primeira ele hesitou, porém meu tom áspero e meu título de rainha me davam o que eu queria, e então ele me obedeceu.
O corpo estava pálido, realçando seus cachos e barba negros, Jon vestia roupas de couro castanhas e sua capa com partes em pêlo animal. Sua barba estava bem feita e seu cabelo estava solto, com parte dele presa em um pequeno coque atrás da cabeça, ele costumava usar esse penteado e ficava lindo. Sorri ao me lembrar. Suas mãos estavam posicionadas em seu colo e sua espada estava entre elas, descendo até por entre suas pernas.
Passei as pontas dos meus dedos pela lâmina e subi até seu rosto, me inclinando um pouco para encarar seus olhos adormecidos, angelicais como sempre. E agora para sempre. Eu tinha a impressão de que a qualquer momento ele ia acordar e íamos voltar para as nossas vidas e o nosso relacionamento secreto, só que não era bem assim e eu sabia disso.
Por um momento meu subconsciente me enganou e me fez acreditar que ele estava vivo. Que era apenas um sono profundo, cujo os curandeiros não conseguiram detectar os batimentos extremamente fracos e por isso decretaram morte, mas levei um choque de realidade ao perceber que ele não tinha mais cor. Não tinha mais calor. Seu corpo estava duro e morto.
— Acorda. –falei perto de seu rosto, acariciando sua bochecha.– Jon, acorda. –pedi com a voz já embargada e mais lágrimas se formando em meus olhos.– Sou eu, a Ari, nós temos muita coisa pra viver ainda, por favor...
— Majestade, precisamos enterrar. –alertou um dos coveiros em um tom triste e também receoso, provavelmente tinha medo de eu mandar matá-lo por isso.
— Jon, amor, por favor. Nós vamos fugir, eu anulo o acordo, que se dane o Canadá, vamos casar, ter crianças e um cachorro chamado Bob. –sorri enxugando meus olhos, quando éramos crianças ele quis um cachorro mas seus pais não deixavam.– Você só precisa acordar.
Apoiei a minha cabeça no peito dele e chorei. Eu precisava parar com isso, mas ao mesmo tempo parecia a única forma de pôr os sentimentos pra fora sem dar prejuízo, como no quarto.
Ouvi mais um "majestade" atrás de mim e uma mão no meu ombro, então levantei meu rosto e o beijei por uma última vez. Selei seus lábios frios, porém ainda macios, e quando me afastei, os encarei, sentindo falta da nossa sintonia.
Aí notei um ardor metálico e forte vindo de sua boca semi-aberta, também percebi que seus lábios estavam mais roxos do que deveriam, com pequenas veias azuis saltadas. Isso é... não pode ser. Ele se jogou da escada.
Veneno?
Mas onde Jon conseguiria veneno?Me aproximei da boca dele para sentir o cheiro novamente, eu conhecia, quando era criança fui treinada para reconhecer caso alguém tentasse envenenar minha comida ou minha água.
Me levantei de cima dele, com as bochechas já secas e uma expressão confusa, e abracei meu corpo em uma tentativa falha de me aquecer do frio, Olhei para os homens e assenti, dando permissão para fecharem o caixão novamente e enterrarem, e fiquei ali até que fizessem, mas minha cabeça estava a mil.
Disseram que foi proposital, que Jon se jogou, tinha um bilhete assinado por ele no meu quarto, não faz sentido ele morrer envenenado. E por que os médicos não perceberam isso quando examinaram o corpo???? Por que não alertaram dia Lizzie e tio Mav? E meu pai? Será que ele sabia mas encobriu para não deixar as coisas piores?
Talvez Jon tenha ingerido sozinho e então caiu das escadas.
Mil e uma perguntas e teorias rondavam a minha mente e eu não tinha tempo para pensar nelas. Eu precisava ir à reuniões com nobres, precisava treinar, precisava cuidar para que Justin não destruísse meu castelo...
Justin.
Quais são as chances de ele ter alguma coisa a ver com a morte do irmão? Talvez seja por isso ele chegou tão sorridente e tão cheio de marra.Nah, Justin sempre foi assim.
Enfim, eu precisava ir atrás disso, nenhuma peça desse quebra cabeças se encaixa e eu preciso montar ele direito.Ariana, não foi suicidio, foi assassinato.
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Perfectly Wrong
FanfictionUma história de uma princesa não muito convencional que é obrigada a se casar com um príncipe que não vai muito com a cara dela. Paixão, ódio, mágoas e amor rodeiam esses dois por um bom tempo, até a primeira troca verdadeira de olhares. Shawn e Ari...