Suíça, 1502.
Eu sentia os golpes. Sentia como eles me atingiam e ouvia em alto e claro tom o som de como cada raspada da lâmina em minha armadura grunhia de forma fria. Metal com metal. "A guerra é uma linguagem universal" eu cresci escutando isso, em reuniões que costumava entrar escondida e até mesmo nos próprios campos de treinamento enquanto os soldados mais jovens guerreavam entre si e seus treinadores gritavam.
O suor escorria pelo meu rosto, assim como escorria pelas minhas costas, me dando a sensação de que eu poderia traçar o caminho certo na minha cabeça das gotas correndo pela linha da minha coluna. O inverno está vindo. Meus músculos se remoíam em meu corpo, estavam exaustos, e a cada passo que eu dava o impacto dos meus pés se firmando no chão me fazia estremecer. A guerra é uma linguagem universal. Era o que martelava na minha cabeça cada vez que eu me dava conta de onde eu estava e qual era o meu propósito, até que, com um último suspiro de força e cansaço, meu adversário caiu.— O que dizemos ao deus da morte? –falei com uma voz séria, apoiando a ponta de minha espada embaixo do queixo de meu oponente caído.
— Hoje não. –disse ele com um sorriso orgulhoso no rosto que me fez sorrir em seguida e ajudá-lo a levantar.– Está evoluindo, vossa majestade.
— Eu diria que sim, Riddick. –apoiei a minha espada em seu suporte no meu cinturão, e fui tirando as proteções de meus braços.– Espero um dia chegar a ser como você.
— Vai chegar princesa. –Riddick era um dos líderes do exército de meu pai.– Com um pouco mais de treino acredito que em algumas semanas vossa majestade será convocada para o cargo militar. –ele brincou.
A fala dele me fez revirar os olhos, porque era óbvio que mulheres não podiam entrar em serviço militar. Inclusive eu nem poderia estar treinando, mas eu insisto em ir contra as regras de meu pai por necessidade, nenhum homem poderá me proteger se nem eu mesma consigo fazer isso.
— E como vão os preparativos para o casamento? –disse ele de forma sutil.– Parece que o noivo está atrasado.
Me sentei em um banco por ali e tirei a minha armadura, para guardar no lugar onde os outros recrutas guardavam também.
— Ele deveria ter chego ontem. –falei voltando a caminhar com Riddick em direção à entrada, eu precisava voltar para o quarto para tomar banho, estava toda suada, com meu cabelo preso em um coque bagunçado que eu acabara de fazer, mas minha espada continuava em minha cintura.
— Não vai guardá-la? –perguntou Riddick sobre a espada.
— Agulha não deve ser guardada com as outras, ela não é uma espada comum. Quando podemos treinar de novo?
— Paciência, vossa majestade. Com o príncipe por aqui, recebi ordens para te deixar longe do campo e dos soldados.
— Ordens vindas de meu pai, eu suponho. –digo em um tom de deboche, porque como treinávamos escondidos, meu pai não fazia nem ideia de que eu vivia aqui.
Riddick assentiu com um sorriso, sem mostrar os dentes, no rosto e parou de caminhar quando começamos a chegar perto da entrada. Mantínhamos cuidado para que o rei não nos visse juntos.
— Até amanhã? –perguntei com um sorriso extremamente empolgado e pidão no rosto.
— Tenha paciência, princesa. Tenha paciência. E não esqueça..
— A guerra é uma linguagem universal. –proferi, vendo Riddick sorrir mais uma vez e virar as costas, voltando ao seu posto.
Depois que ele saiu, entrei no castelo, passando pela cozinha e roubando uma maçã. Você pode estar se perguntando como meu pai não desconfia dos meus treinamentos se eu estou andando abertamente com uma espada na cintura e toda suada.
Pois bem, eu ganhei essa espada de um amigo próximo, creio que meu único verdadeiro, quando minha mãe morreu. Jon disse que se eu queria vingá-la, primeiro precisaria estar devidamente armada e acrescentou que as melhores espadas possuem nomes, por isso "Agulha". Eu insisti para que pudesse treinar, mas claro que meu pai não deixou, então eu decidi fazer isso sozinha espetando bonecos de feno.
Do ponto de vista do meu pai, aquilo não iria longe, então ele não deu importância e, quando comecei os treinamentos reais, para ele continuava sendo apenas eu bancando a soldada. O que é bom, porque assim ele não interfere.— Milady, vossa majestade a chama na sala do trono. –disse Hedwig, o conselheiro real, me tirando de meus pensamentos.
Hedwig era um sujeito bom, ele sempre cuida de mim, me acorda, me lembra de meus compromissos. Vou com a cara dele.
— Agora? –pergunto engolindo um pedaço mordido da maçã.
— Agora, milady. Creio que seja importante.
Concordei com a cabeça e o dispensei, caminhando direto para a sala do trono. Parei na frente das grandes portas de madeira escura à minha frente e terminei de comer a maçã, me virei para a direita e sorri deixando o resto na mão de um dos soldados da guarda real. Eles ficam ali sempre depois do ataque 7 anos atrás. Suspirei ao lembrar do acontecimento, mas logo agradeci de forma sutil ao soldado e abri as portas entrando na sala enquanto limpava a minha boca. Meu pai estava sentado no trono conversando com um homem relativamente alto, pele clara e cabelos castanhos que estava de costas para mim, os dois interromperam a conversa quando me ouviram entrar e eu parei perto das escadas em frente ao trono.
— Me chamou? –perguntei segurando no suporte em minha cintura.
Percebi um certo olhar de reprovação quando ele me viu naquele estado, mas ignorei.
— Ariana, quero que conheça alguém. –disse se levantando.– Este é Shawn, príncipe herdeiro da coroa Canadense, seu noivo.
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Perfectly Wrong
FanfictionUma história de uma princesa não muito convencional que é obrigada a se casar com um príncipe que não vai muito com a cara dela. Paixão, ódio, mágoas e amor rodeiam esses dois por um bom tempo, até a primeira troca verdadeira de olhares. Shawn e Ari...