Capitulo 9

355 28 16
                                    

Ariana

     Despertei com a luz radiante do sol na minha janela e o vento gelado que a adentrou. Eu estava coberta, mas a brisa batia em meu rosto. Abri os olhos devagar por conta de toda aquela claridade e sorri me lembrando da noite de ontem. Da despedida. Do quase beijo.
Acho que a parte mais dolorosa foi a de relembrar todo o dia da morte da minha mãe. Em anos eu não havia me aberto assim pra ninguém, nem mesmo para meu pai ou Jon. Jon, por mais que tenha me visto chorar, nunca me ouviu desabafar.

Olhei para a janela, avistando um passarinho de pequeno porte nela, pipilando com suavidade. Era o primeiro dia de uma das minhas estações do ano favoritas. O céu não tinha nuvens, as folhas caiam das árvores e pintavam o chão com suas cores alaranjadas e amareladas.. Ah, o outono.

Bom dia, princesa. –indagou Hedwig, que me fez despertar dos pensamentos em um susto, entrando em meu quarto com um sorriso meigo em seus lábios.

Oi, Hedwig. Já disse pra me chamar só de Ari. –retribui o sorriso, apoiando as minhas mãos na cama e dando um impulso para levantar meu tronco e me sentar.

Força do hábito, princesa. Digo, Ari. –ele me lança uma piscadela que me faz soltar uma pequena risada.– Já são 09:00h, você precisa levantar. Hoje começam os preparativos para o casamento. –diz ele indo abrir as cortinas, por inteiro.

Está cedo demais para isso. –resmunguei, passando as mãos pelo rosto.— Por que os empregados não podem cuidar disso? Ou a rainha lá, a mãe dele. Eu não tenho paciência pra essas coisas, sabe que nunca me importei com essas coisas.

— Porque o casamento é seu e talvez você possa achar um dom de decoração que não sabia que tinha.— Ele ergueu uma sobrancelha. Certeza que ele estava animado para me ajudar com a festa.— Agora, ande. Pedi a Margaret que preparasse seu banho e suas roupas estão ali. –ele aponta para um pequeno sofá com um dos meus vestidos e sapatos por cima.– Se apresse, alteza, sabe que seu pai não gosta de ter que esperar para tomar café. –Hedwig se retira, fechando as portas com as duas mãos e eu logo caio na cama de volta.

Eu detesto qualquer tipo de comemoração, vocês sabem, então estou com 0 animação pra esse casamento. Não é porque eu acordei bobinha que em um passe de mágica quero casar.
Mas ok, com coragem, respirei fundo e resolvi me levantar de vez. Caminhei até o banheiro, prendendo o meu cabelo em um coque, Margaret tinha aprontado tudo, então apenas retirei meu pijama, o colocando em um cesto para que lavassem, e entrei na banheira.
O banho não durou muito, já que eu precisava me aprontar rapidamente. Então, ao sair dali, vesti o vestido que Hedwig havia posto em cima do sofá e me sentei em minha penteadeira.
Margaret e mais algumas servas vieram para arrumar meu cabelo, que eu optei por deixar solto, já que estava um tanto frio no dia de hoje, sem a minha coroa dessa vez. Detesto. Me olhei no espelho por alguns instantes, segurando o medalhão antigo de minha mãe.

Está pronta, princesa? –Hedwig pergunta, me fazendo o olhar pelo reflexo do espelho à minha frente, assim como com Shawn na tarde anterior.

Estou. –digo em um suspiro e me levanto, soltando o medalhão. Olhei para os meus sapatos que eu deveria calçar e taquei o foda-se, já estou de vestido, me recuso a usar sapatinhos também. Então me levantei e fui até o canto do meu quarto pegar as minhas botas de sempre, o vestido as cobriria então não teria problema.

Eu tenho que usar vestidos, joias e "maquiagem" porque eles estão aqui, senão já estaria com uma armadura e a agulha.
Agulha.
Em pura teimosia, peguei um dos meus cinturões mais finos, meramente discreto eu diria, e coloquei na minha cintura, apoiando agulha nele. Nunca saio sem minha espada, queira meu pai ou não.
Saí do meu quarto e passei pelo corredor, a porta de Shawn estava entreaberta e, por um segundo passei lentamente na frente. Consegui ver parte do seu peitoral exposto enquanto ele vestia a camisa e não consegui evitar sorrir, claro que mordi meu lábio para controlar esse sorriso. Eu não sou assim. Cogitei em voltar e chamá-lo para vir comigo tomar café, COGITEI, mas essa ideia se desfez quando esbarrei em alguém.

— Ei!!! Olha por onde and.. –levantei meu olhar e era a rainha. Caramba, nunca sei o nome dela.– Oh. Mil perdões, majestade. Pensei que fosse algum empregado.

— Tudo bem, eu também não vi você. –ela sorriu doce, mas esse sorriso tinha algo por trás. Vi ela fitar minha espada, mas ignorei isso.– Indo tomar café?

— Sim, quer me acompanhar? –perguntei torcendo pra que ela negasse.

Ela riu em uma risada agradável, mas eu podia sentir algo errado.

— Acabei de sair de lá. Estou apenas indo chamar meu filho. Seu pai te espera impaciente.

— Uma das virtudes dele. –sorri amigável.

— Bela espada. –ela finalmente disse.– Será muito util algum dia. Com licença. –ela fez uma pequena reverência e se retirou.

Ok. Respirei fundo e ignorei aquela cena estranha, voltando a seguir o meu caminho pelo corredor até as escadarias. Desci elas comprimentando todos, como geralmente faço, até que, quando estava quase chegando na sala do café, senti algo puxar meu braço com certa força e me tirar de meu caminho.
Imediatamente peguei na minha espada e empurrei a pessoa na parede, pressionando ela contra a garganta.

— Eieiei, calma. Sou eu. –ele sorriu com aquele sorriso maravilhoso e seus olhos cor mel que me deixam idiota e eu suspirei em alívio, o soltando. Ele riu.

— Mas o que.. –falei depois do susto que levei e sorri ao ver quem era.– Seu idiota, eu levei um susto.

— Tem que andar menos dispersa, princesa. –ele me reverenciou, trocando as nossas posições e me prensando contra a parede dessa vez.– Bom dia. –e beijou minha bochecha.

Pude sentir meu rosto corar levemente. Eu sou péssima pra demonstrações de afeto.

— Bom dia. –retribui o beijo na bochecha, ainda encostada na parede, porque ele me prensou contra ela.– Dormiu bem?

— Dormi, e você?

— Muito. Por que me puxou pra cá? Eu estava indo tomar café, sabe que meu pai detesta esperar. Vou acabar em encrenca.

— Vim te chamar pra um passeio. Seu pai nem vai ligar.

— Eu preciso tomar café. –manhei um pouco, meu estômago roncava.

— Já cuidei disso, princesa. Vamos? –ele estendeu a mão.

Confesso que, nesse momento, não era lá o meu sonho sentar com o meu pai e a família real canadense pra tomar um lindo cafézinho da manhã, mas também estava preocupada com a bronca que levaria depois.
Ah que se dane. Guardei a espada no suporte em minha cintura e assenti, segurando sua mão e saindo dali com ele.

Perfectly Wrong Onde histórias criam vida. Descubra agora