Capítulo 53

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Ariana

Quanto mais eu corria, mais meus pulmões imploravam por ar, não só pela corrida, mas pela situação. Me sentia prestes a ter um ataque de pânico, Aalyiah não tinha acreditado em mim e aquilo me dava tanto medo, medo de ela ter o mesmo fim que o irmão de Justin, medo dele prender ela em algo que a torture pro resto da vida sem que eu pudesse fazer nada.

A notícia que meu pai havia chego e me esperava na sala do trono foi um alívio, de primeira pensei que ele seria a pessoa perfeita para que eu contasse o que descobri. É meu sangue, eu posso confiar nele. Conseguiríamos dar um jeito de expulsar os Mendes daqui ou ao menos matar os dois responsáveis por isso tudo.
Meu corpo gritava por um desacanso, não dormi a noite inteira e agora estou aqui grávida e com a cabeça girando. Não me sentia pensando direito e provavelmente não estava mesmo.

Corri por aquele corredor branco com grandes arcos na maior velocidade que meu corpo aguentava e, assim que vi a grande porta de madeira da sala do trono, não hesitei em abri-la o mais rápido possível.

— Não deixem ninguém entrar. –pedi desesperada aos guardas, não queria ninguém atrapalhando a minha conversa com o meu pai, muito menos um Mendes.

A porta atrás de mim foi fechada logo depois da confirmação dos dois enormes homens de armadura posicionados em frente a ela, do lado de fora, e meus olhos rolaram pela sala a procura de meu pai.

— Pai, eu preciso conversar com você, a Elara... –afirmei quase sem conseguir respirar e meus olhos se fixaram no trono, quando uma voz feminina completou minha frase.

— Matou meu melhor amigo? –disse irônica.

Paralisei. Meus pés travaram no chão e eu só conseguia ver ela sentada no meu trono, de pernas cruzadas, vestido longo e um sorriso arrepiante nos lábios.

— Ficou sem palavras? –perguntou erguendo uma das sobrancelhas.– O que foi, princesa? Achou que ia entrar aqui, encontrar seu paizinho querido e contar tudo o que descobriu?

— C-como sabia que...

— Ouvi sua pequena conversa com a minha filha no corredor. Você realmente deveria aprender a falar mais baixo quando está assustada.

Um nó se formou na minha garganta, não haviam mais lagrimas em meus olhos, eu estava com raiva.

— Por que você fez isso? Por que matou o Jon? Por que quer me matar????? –gritei quase que indignada, ameaçando dar um passo mas recuei colocando a mão na minha barriga, eu precisava me acalmar. Por mim e pelo bebê.

— Você quer dizer o seu namorado? –minha expressão mudou de puta pra "como sabia?" e ela sorriu em resposta, como se tivesse lido minha mente.– Querida, não é como se vocês dois conseguissem esconder, né. Acredito que até Shawn sabia. Ou não, ele é bobo demais em você para notar qualquer erro seu.

— Jon não foi um erro. –rebati rapidamente com amargura. Não foi, nunca vai ser.

— Pena que está no inferno.

— Eu não consigo entender... Quais seriam os seus motivos???? Se foi pelo nosso relacionamento, era só ter vindo falar comigo, não tinha necessidade de uma morte!

Elara deu um sorriso com compaixão (algo que ela claramente não tem no coração), sem mostrar os dentes, apenas pressionando os lábios, e então se levantou, descendo os pequenos degraus que erguiam o trono e caminhando até mim.

— Vamos voltar uns 10/15 anos atrás. Na noite em que sua mãe faleceu. –ela dizia andando ao redor de mim lentamente, seus saltos tilintavam no chão e o barulho ecoava pela sala de mármore, enquanto eu visualizava tudo novamente em minha memória.– Um rebelde invadiu o palácio e cortou a garganta da sua mãe. E por que?

— A Suíça estava em um período de crise, os camponeses mal tinham comida em suas casas. –respondi encarando o chão, sem entender onde ela queria chegar com aquilo.

— Isso foi o que o seu pai te contou para acobertar a situação, você era criança, não entenderia os reais motivos. Motivos que até hoje ele não descobriu.

A porta do outro lado da sala foi aberta, era como uma saída de emergência, menor, para em caso de ataque pudéssemos sair correndo por ela. Justin adentrou o cômodo, trancando a passagem com a chave, a qual guardou em seu bolso.

Eu não entendia. Se estivéssemos em um desenho, fumaça provavelmente sairia dos meus ouvidos agora.
Ele caminhou até nós e se posicionou pouco atrás de mim.

— Trouxe ele aqui pra me segurar? –debochei, com direito a uma risadinha nasalada, mas Elara ignorou minhas palavras.

— Eu estava prometida a Robert. Eu nasci em uma família de nobres, não sou da realeza e não tinha obrigação de me casar com alguém que eu não queria. –prosseguiu, voltando a caminhar ao meu redor.– Nós éramos muito ricos e costumávamos viajar muito, em uma dessas viagens eu me apaixonei. Ele era jovem, encantador, montava a cavalo e caçava como ninguém. Quando nos encontramos pela primeira vez, foi amor à primeira vista, típico amor patético de jovens que você pensa que vai ser real e durar pra sempre.

— Presumo que tenha assassinado ele também. –interrompi nem um pouco interessada na história. Pelo menos não por fora. Ela revirou os olhos.

— Vai me deixar terminar ou vai ficar me interrompendo? –perguntou impaciente e meu silêncio lhe deu um passe para continuar.– Costumávamos nos encontrar sempre durante a minha estadia, corríamos pela neve, cavalgávamos, ele sempre me presenteava com flores do castelo e acariciava minha bochecha. No dia depois do nosso primeiro beijo, ele me contou que estava noivo de alguém e disse que precisávamos nos afastar. Que ele amava essa mulher e que eu fui um erro.

Nessa parte, ela parou de caminhar e pude ver as chamas em seus olhos que encaravam o nada. Era ódio puro. Quem diria que essa mulher pudesse ter se apaixonado de verdade algum dia, jurava que nem coração ela tinha.

— Esse homem era seu pai, Ariana. –ela me olhou e eu quis rir. Tá, até parece.– Seu pai estava noivo de sua mãe e alguns meses depois de voltar para o Canadá tive a notícia de que você havia nascido. Aquilo me deixou tão brava, era pra ser eu no lugar dela, mas no final fui forçada a me casar com alguém que voltava pro castelo bêbado, cheio de mulheres e me batia quando eu não queria me juntar ao sexo com elas.

Por um segundo senti pena de Elara. Tinha uma grande possibilidade dessa história toda ser mentira, mas a parte do Robert bater nela eu sabia. Shawn me contou um tempo atrás que o pai faz isso até hoje e que agora depois de adulto ele se metia no meio para impedir, mas que se preocupava já que não estaria mais em casa.

Talvez Elara fosse uma jovem radiante, feliz, que fazia o bem e esperava que o universo retribuísse isso. E o que ela ganhou foi alguém que não a merecia e que acabou amargurando-na. Fazendo-a se tornar essa mulher terrível que é hoje.

— Passei anos da minha vida arquitetando um plano, sempre pedindo notícias de vocês e sempre recebendo respostas como "não poderiam estar mais felizes". Até que um dia eu estava farta de tudo isso e decidi que precisava fazer alguma coisa, que Harold só poderia ser feliz se fosse comigo, e como não aconteceria, então...

— Ele não seria feliz com mais ninguém. –foi minha vez de completar a frase.– Você matou a minha mãe? –meus olhos se encheram novamente.

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