Capítulo 30

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Ariana

Ouvir toda a história da Jasmine e do bebê me deixou meio surpresa. Eu não sabia que ele seria pai, achei que o motivo de tamanha rebeldia fosse por conta de casar com alguém estranho, até porque era o meu motivo. Não imaginei que uma criança e uma mãe mortas estavam envolvidas. Fiquei triste por ele, eu via a expressão triste em seu rosto e as lágrimas cortaram o meu coração, me comoveram ao ponto de me fazerem chorar também. Apenas algumas lágrimas que eu enxuguei rapidamente.
Enquanto ele falava que ia ser fiel à mim, minha cabeça começou a ficar confusa. Eu estou com o Jon e eu o amo com todas as minhas forças desde que eu era só uma criança, mas agora, com o meu marido na minha frente sofrendo e disposto a ser todo meu, não parecia certo. Meu coração disparou quando ele entrelaçou as nossas mãos e agora tudo parecia mais errado ainda. O beijo foi praticamente tortura e eu sabia o que eu tinha que fazer, terminar com o Jon não seria fácil, mas era necessário. Sempre julguei meu pai por ter amantes, eu não vou ser como ele.
Acho que Shawn percebeu a minha incerteza, mas ignorou totalmente. Eu fiquei um pouco estranha enquanto decorávamos os biscoitinhos, estava desconfortável comigo mesma, até que finalmente terminamos e fomos cada um pro seu quarto. Ele me acompanhou até o meu, comico agarrada em seu braço, e beijou minha testa, se despedindo com um selinho, quando chegamos. Eu sorri e entrei no quarto, suspirando alto e me jogando na cama. Agora estou aqui na banheira pensando em como falar com o Jon.

— Eu não posso magoá-lo... –falei para mim mesma em um tom baixo.– Não posso magoar nenhum dos dois.

Memórias nossas passaram pela minha cabeça. Cada momento, cada sorriso, cada passeio, tudo o que eu conseguia me lembrar. Minha cabeça doía com tantos pensamentos e meu coração apertava cada vez mais com a angústia de que se eu fizer isso, talvez nunca mais vamos nos falar ou nos ver. Fechei os olhos prendendo a minha respiração e deslizei pela banheira, ficando submersa por alguns instantes. Ou pelo menos o tempo suficiente pra eu ficar sem ar e me obrigar a voltar pra superfície. Passei as mãos pelo meu rosto, tirando o meu cabelo dali, e abri os olhos respirando fundo uma última vez.
Eu preciso resolver isso.

[ ... ]

Já vestida em um vestido preto de mangas compridas e detalhes dourados, usando uma coroa pequena e nada chamativa, me olhava no espelho com o meu cabelo sendo escovado por uma das empregadas. O amuleto da minha mãe estava em meu pescoço e eu não conseguia parar de mexer nele em nervosismo. Hedwig bateu na porta e disse que o jantar estava pronto, que eu deveria descer, então eu fiz um sinal para que a moça parasse de mexer no meu cabelo e me levantei, indo até a porta.
Decidi que ia conversar com o meu melhor amigo depois do jantar, não queria um clima estranho na mesa, então fui até a sala de jantar normalmente. Encontrei Aalyiah no caminho e fomos conversando até chegar lá. Elogiei a roupa dela e ela a minha, talvez virássemos boas amigas, apesar da diferença de idade.

— Eu queria dizer algumas palavras. –disse meu pai se levantando depois que todos já estavam sentados, voltando todos os olhares para ele.– Amanhã a essa hora, vocês dois estarão casados e serão os novos rei e rainha da Suíça. –disse para mim e Shawn, que estávamos sentados um na frente do outro.– Confiar o trono a alguém que conheci há pouco não é fácil, mas confiar em alguém que veio de mim, que eu vi crescer e que é sangue do meu sangue, só me enche de orgulho.

Eu sorri. Meu pai era tão emocionado em mim que eu acho que até deixava Harold bravo por ele não falar de nós dois, só de mim.

— Você vai ser uma rainha tão doce e sábia como a sua mãe. E você –olhou para Shawn.– meu jovem, terá sorte em tê-la ao seu lado. Que um novo reinado se inicie. Aos dois. –ele levantou a taça e todos na mesa repetiram a última frase, levantando as taças também. Até Jon.

— Aos dois. –ele me olhou com uma expressão indecifrável e encostamos as nossas taças. Não sei dizer se ele estava desconfortavel ou só lidando com isso naturalmente.– O que foi?

— Precisamos conversar. –disse de uma vez.

— Precisa ser agora?

— Ariana? Querida, está pronta para amanhã? Receio que você já deveria estar na cama. Precisa se levantar cedo para começar os preparativos. Escolheu o seu vestido? –era a mãe dele.

— Escolhi. –sorri abertamente ao lembrar do vestido, acho que era a única coisa boa nisso tudo.

— O rodado, creio eu. –sugeriu Elara.

— Não, na verdade eu... Decidi usar o vestido de casamento da minha mãe. –todos me olharam, inclusive meu pai. Ouvi ele pigarrear, talvez tenha até se engasgado.– Tudo bem? –perguntei cautelosa.

— Precisa trocar de vestido. –ele respondeu ríspido.

— Me dê um bom motivo para isso. –pedi começando a me irritar.

— Dados os anos, creio que ele esteja praticamente em pedaços. Não vai querer estar mal vestida no seu casamento.

— Não que eu me importe com a minha roupa, mas ele estava em bom estado. Os danos, que eram pequenos, foram reparados pelas costureiras.

      Ele ia responder, mas Shawn logo cortou e, com um sorriso amigável no rosto, me defendeu.

— Eu acho uma ótima ideia. É uma forma de ter ela por perto, certo? –olhou para mim e eu assenti, agradecendo apenas com os lábios. Ele piscou.

— Bom, amanhã logo após a cerimônia nós voltaremos para o Canadá. –disse o pai de Shawn.– Quero agradecer-lhes pela hospitalidade com a nossa família, mas precisamos voltar. Já estamos fora de casa tempo demais.

— Tão cedo assim? –pergunta meu pai.– Pelo menos fiquem para a festa.

— Já vão tarde. –resmunga Jon perto de mim, me arrancando uma risadinha. Seu braço estava ao redor da minha cadeira e eu me encostei em seu peito.

— Nós também. –agora era tio Maverick, pai de Jon, quem falava.– Jon logo será nomeado e precisamos chegar em casa antes do inverno.

O inverno.

— Precisam mesmo ir, tio? –perguntei manhosa. Não queria que fossem. Ele sorriu.

— Precisamos, princesa. Mas não se preocupe, quando piscar, nosso filho estará aqui para te visitar e visitar Shawn. Ele sempre conta os segundos.

— Eu também. –sorri e abracei Jon de lado, que revirou os olhos sorrindo e beijou minha cabeça.

— Sendo assim, será sempre bem-vindo. –disse Shawn, trocando um toque com o amigo.

— Não pensem que vão se livrar de mim tão cedo, tenho que vir ver se vocês não estão acabando com o país. –brinca nos fazendo rir.

Comemos, conversamos e por fim todos se levantaram e deixaram a mesa. Era a hora de conversar com o meu namorado, mas não queria fazer isso no nosso quarto, queria um lugar mais calmo e com menos gente por perto, então segurei o braço dele e o guiei para fora do castelo, para andarmos pelos arredores.

— Então.. sobre o que que quer conversar?

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