Já fazia algumas semanas que a garota mais popular da escola, a Bárbara Chavéz, ficava me olhando, lançando olhares sórdidos na minha direção. Valentina me disse que era porque os garotos ultimamente têm prestado mais atenção em mim do que nela, deixando- a com ódio.
Estava eu resolvendo as tarefas de Matemática, que a propósito parecia escrita em árabe, quando a patricinha se colocou frente à minha cadeira. O professor estava na diretoria, imprimindo as fichas que mandaria para a tarefa de casa.
- Com dificuldade para resolver as questões? - ela veio com uma falsa amizade, irônica. Todo mundo sabia que o hobby dela era se gabar por ser boa em exatas, por mais burra que fosse em todas as outras. E que se exibia por o pai dela ser um advogado de sucesso, sendo amigo de todos os professores da escola.
- Depende...você vai me ajudar? Porque, se não for, vou ter que te pedir para parar de me atrapalhar - respondi com o mesmo tom de ironia e sarcasmo. Comigo não tinha esses joguinhos, gostava de ser direta.
- Sua burrice me dá pena - ela riu.
- Se eu fosse mesmo burra, assumiria. Pelo menos não fico bancando uma falsa inteligência, como certas pessoas - larguei o lápis, estendendo os dois braços para baixo, como que me espreguiçando.
Os outros alunos viraram para trás, impressionados com as minhas respostas.
- Jura estar bancando a inteligente, não é? - respondeu, sem ter respostas.
- Eu sou - terminei a discussão, pegando meu lápis novamente e continuando minha atividade. Se ela achava que era capaz de fazer perder meu senso, se enganava.
- Você gosta de desenhar, Débora? - Bárbara ainda não havia saído de frente da minha cadeira.
- Gosto - olhei lentamente para cima, com uma mistura de ódio e curiosidade.
- Sabe, terá uma competição de desenho próximo mês - ela respondeu - todo ano tem. E eu sempre tiro o primeiro lugar.
- Ah, seu pai compra?
Todo mundo da sala riu.
- É o seguinte, espertinha - ela prosseguiu - vamos ver quem é a melhor no desenho, aparentemente a única coisa em que você é boa.
- Não é verdade - Ruan interviu - ela é boa em tudo.
- Cale a boca, seu fracassado - Bárbara olhou com uma cara de nojo para meu amigo. Meu ódio por ela só aumentou - então esse é o seu guardinha? Mas ele é de um nível tão baixo - fez um gesto com o polegar para baixo.
- Pois é...e olha que o nível dele está a muitos acima do seu.
- A competição - ela alterou a voz - vai decidir qual é a melhor. Eu estou te desafiando. Me prove que é melhor.
- Não preciso provar nada a você - respondi, tranquila - mas gostei da ideia da competição. Qualquer coisa te aviso, ok?
- Voltem para os seus lugares - o professor abriu as portas, sentando na sua cadeira - acabaram os exercícios propostos?
Não, graças a Bárbara. Senti meu rosto esquentando de ódio.
Na correção, percebi que eu estava mesmo com dificuldades em Matemática. Coloquei a mão na cabeça, tirando- a quando me lembrei que, por sorte, conhecia alguém que poderia me ajudar.
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- Amiga, você fechou a boca dela - Valentina me deu um tapinha no braço, animada - aquela menina é ridícula. Tomara que ela não tenha te atingido.
- Não atingiu - ri. Era verdade. Conviver com Ricardo havia me tornado quase imune a opiniões negativas.
Na saída da escola, nos separamos. Valentina e Esther seguiram o lado esquerdo, enquanto a casa de Sophie e Ruan ficavam do lado direito.
Como esperado, quando cheguei de frente à casa da minha meia- irmã, Joel estava junto com o grupo.
- Cunhada chegouuu - Chris gritou, acompanhado de outros cumprimentos dos outros garotos. Joel me deu um sorriso.
- Olá - respondi, também com a voz alta, animada. Dei um abraço em todos, demorando mais em Joel. Ultimamente tenho me aproximado mais deles, conversando sempre que Sophie levava os mesmos na casa. Ou seja, todo dia. Quanto ao Joel, fui umas outras 3 vezes na casa dele. Depois da minha confissão, sentíamos que podíamos compartilhar tudo.Me sentia muito bem- vinda lá, a mãe e o pai dele me tratavam muito bem e eu e o Joel sempre tínhamos algo a falar, seja da faculdade, com relação à minha escola, a família dele...tudo. Até o cachorro já ficava feliz em me ver.
- Tchau, Ruan - me despedi do meu amigo, ganhando uma piscada e um sorriso em troca. Vi ele se afastar, percebendo também que o mesmo havia olhado para trás.
- Mas o Joel tem preferência no seu coração, não é? - Chris quis garantir.
- Meu Deus, que chato! - o empurrei, vendo Joel abaixar a cabeça e dar um sorriso fofo.
- Entrem - Sophie nos convidou.
Ficamos conversando no sofá, até que eles acabaram indo para a cozinha, buscar água para tomar, resto apenas eu e Joel.
- Joel - me aproximei dele no sofá. Estava com vergonha de pedir ajuda.
- Sim? - ele pareceu curioso. Ele já não ficava mais tão envergonhado perto de mim, até porque havíamos nos tornado muito amigos.
- Você pode me ajudar em Matemática? - perguntei - porque você faz arquitetura, e...
- Claro - respondeu, simpático - aqui ou na minha casa?
- Na sua casa - preferi - se não for incomodar.
- Ainda não percebeu que nunca será um incômodo - ele falou, baixinho.
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A meia-irmã [ * EM REVISÃO * ]
RomanceFilha de um empresário rico, Débora Koch é mandada para o México. Será que a fuga de sua mãe serviria como uma ajuda ao destino ou para o seu declínio emocional? [PLÁGIO É CRIME! ART.184 do Código Penal]