Acordei com os barulhos de carro vindos da rua. Eles sempre me acordavam e o resultado era o mesmo: eu ficava irritada e com minha cabeça doendo pelo resto do dia. Mas por incrível que pareça, nem me importei. Talvez porque o barulho dos carros fossem o menor dos meus problemas naquele momento.
Me levantei da cama, ignorando os enjoos e disposta a ir para a escola. De que adiantaria ficar em casa o dia todo remoendo os meus problemas e imaginado mil castigos e punições que Ricardo me daria? Pelo menos na escola eu me distrairia, mesmo que fosse com aquele professor doido de Geografia que daria a primeira aula. E também estava sentindo falta das minhas amigas.
Uma semana já se passou desde que eu descobri que estava grávida, e desde então minhas únicas reações têm sido ficar o dia todo jogada na cama e estudando, mesmo que em casa. Todo dia Valentina e Esther estavam passando na minha casa para me passar o assunto do dia e me deixar copiar o caderno delas, que cada dia mais se enchiam de anotações e mais anotações. Elas não sabiam do motivo que estava me levando a faltar às aulas. E não saberiam nem tão cedo.
Jasmine ficou enlouquecida com o resultado do meu teste do começo, mas agora parece mais conformada. Ela ainda me achava muito imatura para ter um filho, mas eu percebia que o motivo dela estar mais aliviada é que Ricardo não deu um pingo de atenção a todas as ligações que ela fez, não atendendo a nenhuma delas.
Quanto à mãe do Joel, me chamou na casa dela e pediu pessoalmente para eu ir morar com eles, recebendo da minha parte desculpas e uma promessa que eu nunca pretendia cumprir, de que daqui a uma semana eu iria. O problema é que já se passou uma semana e eu não sei qual é a outra desculpa que eu vou dar, já que tentar convencê-la que estou bem na casa de Jasmine não funciona muito bem.
O Joel continuava o mesmo, sendo que ainda mais preocupado comigo, sempre me perguntando se eu não estava sentindo algum desejo...bem, se desejar estar formada e em Paris conta, eu estava sim, com muito!!! Estava tentando ser tão carinhosa com ele quanto ele era comigo, mas às vezes aquele grude todo me deixava estressada. Se ele estava daquele jeito comigo morando com Jasmine, imagina morando na casa dele! Eu amo o Joel, sinceramente não imaginava minha vida sem ele, porém acho estranho quando ele passa a mão na minha barriga, massageando com os dedos.
Troquei de roupa, colocando aquela farda horrorosa que, por mais duvidoso que seja, estava sentindo falta. Sentia falta de tudo. Da entrada da escola, dos meus professores malucos, das patricinhas e daqueles jogadores de futebol (ainda bem que o Joel não lê pensamentos). Precisava voltar para lá e tirar meu pai, Joel, Jasmine e Patrícia da minha cabeça, senão logo iria surtar de vez. Não aguentava mais olhar para o rosto deles e perceber que eles estavam com pena, como se eu fosse uma menininha indefesa que precisa de ajuda. Eu sou praticamente uma mulher, não preciso que ninguém me proteja, nem que muito menos fique me mimando nem achando que eu preciso desistir da minha vida por causa de um teste que ninguém sabia se estava certo!
Quando desci as escadas, percebi que Sophie e Jasmine conversavam na cozinha, porém pararam quando me viram. Lancei um olhar curioso para elas, porém no fundo não estava nem aí. Tudo o que eu mais queria era sumir daquela casa e, de preferência, não voltar nunca mais. Já estava cansada de ficar que nem uma prisioneira ali dentro, não pondo os pés para fora sem o Joel nem para respirar.
- Vai para a escola? - Sophie perguntou, fazendo cara de dúvida - achei que você não iria mais. O Joel sabe disso?
- Vou sim, ainda não morri - falei, me irritando com a pergunta dela. Desde quando eu precisava dar satisfações ao Joel sobre o que fazia ou deixava de fazer? - ele não precisa saber, não tem o direito de controlar a minha alma!
Sophie e Jasmine arregalaram os olhos, vendo que eu estava de mau humor. Pelo jeito, acho que os carros fizeram sim eu ficar estressada, mesmo que fosse sem eu perceber.
- Calma aí, nervosinha - Chris falou, sentado do sofá, fazendo eu perceber que ele estava ali - só estão preocupadas com você.
Revirei meus olhos, indo em direção ao armário. Peguei um cereal e um leite de caixa, depois peguei um prato.
- Débora, você tem que comer algo mais forte - Jasmine comentou, se aproximando de mim, para que Chris não ouvisse.
Não estava a fim de discutir, por isso não reclamei quando Jasmine fez uma vitamina para mim, que, segundo ela, tinha leite, frutas e sei lá mais o quê. Valorizava o fato dela estar cuidando de mim, mas já estava chateada de viver cheia de regras e privações.
- Bom dia - disse, abrindo a porta e saindo da casa. Minha bolsa estava pesada, porque estava levando muito livros dentro. Que ninguém sonhasse com aquilo, porque tudo que eu fazia era motivo de dizerem que iria prejudicar o bebê.
- Débora? - Joel me chamou, quando eu tinha dado apenas dois passos em direção à escola. Ele estava usando uma blusa branca e uma calça jeans, combinando com a faixa preta na cabeça.
- Ah, oi - respondi, tentando parecer simpática. Mas não consegui.
- Você vai para a escola?
Não, Joel. Eu estava indo para o parque de diversões.
Ele deve ter notado no meu rosto que a resposta era óbvia e apenas sorriu, se aproximando.
- Vai tão cedo? Ainda são 06:30 - perguntou, tentando entender.
Eu acordei mais cedo hoje, justamente para sair mais cedo. Precisava conversar com minhas amigas, esquecer os problemas, mesmo que por 30 minutos.
- Eu sei, estou indo mais cedo para conversar.
Joel riu, achando graça no que eu falei. Mas eu não estava vendo graça naquilo. Estava tentando não estar irritada, mas por algum motivo sinceramente não conseguia.
- Débora, você está bem? - Joel pegou no meu braço, me puxando para perto. Ele estava me olhando como seu fosse um enigma.
- Não. Mas não tem nada haver com...bem, você sabe - olhei ao redor, para garantir que ninguém sequer suspeitasse da gravidez.
Joel ficou me olhando por alguns minutos, até que resolvi dar um basta naquilo.
- Tchau, até mais tarde - dei um beijo na bochecha dele, correndo para longe antes de ter uma resposta.
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A meia-irmã [ * EM REVISÃO * ]
RomanceFilha de um empresário rico, Débora Koch é mandada para o México. Será que a fuga de sua mãe serviria como uma ajuda ao destino ou para o seu declínio emocional? [PLÁGIO É CRIME! ART.184 do Código Penal]