- Ele está muito bem desenvolvido - disse o obstetra, o mesmo que acompanhou a gravidez da mãe do Joel. Se tratava de um senhor de uns 70 anos, que tinha a aparência tranquila e dócil. Ele movia aquele aparelho que me dava cócegas na minha barriga o tempo todo, observando o bebê de todos os ângulos - estão vendo o coração dele batendo?
- Estamos - respondi por nós dois, pois Joel, que havia segurado minha mão o tempo todo durante o exame, apenas concordou com a cabeça e sorriu, abismado com o quanto o bebê já estava grande.
- A cabeça ainda é grande em relação ao corpo, os olhos que ainda estão muito separados estão começando a se aproximar e estão cobertos pelas pálpebras. O músculos do rosto do bebê que permitem sugar e mastigar estão se desenvolvendo. Não podemos saber qual é o sexo, mas daqui a 3 semanas já poderão descobrir - Daniel falou, ainda analisando cada detalhe do bebê, para não deixar escapar nada. Ele era um amor, e não estava nos olhando com um olhar de julgamento como aquelas pessoas que também estavam na sala de espera.
Depois que acabou o exame, ele nos fez sentar em uma cadeira na outra parte da sala, para anotar os resultados do Ultrassom, como a idade gestacional, o desenvolvimento, se ele tem alguma anomalia cromossômica, como a Síndrome de Down. Também anotou exames que precisava fazer, me assustando com a lista enorme: Determinação de grupo sanguíneo e do fator Rh, Hemograma, Glicemia de jejum, Coleta de sangue para pesquisar hepatite B, toxoplasmose, HIV (o vírus que causa AIDS), rubéola e sífilis, exame de urina e Papanicolau.
- O bebê é muito saudável - Daniel comentou, enquanto carimbava o receituário - porém, foram muito irresponsáveis por só virem aqui com 3 meses de gravidez. Poderiam ter adiantado vários exames que são de extrema importância, portanto devem ser feitos imediatamente. Quero todos eles em mãos até a próxima consulta, daqui a 3 semanas. Esse bebê precisa ser acompanhado de perto, até porque gravidez na adolescência pode causar má formação do feto.
Tive dor de cabeça só de ouvir. O obstetra deve ter percebido, pois me olhou empaticamente, de forma reconfortante.
- Não precisa ficar com medo, Débora. A mãe do Joel também engravidou dele muito nova e cuidei muito bem dela. O bebê de vocês só precisa de acompanhamento e precauções - falou, alternando o olhar entre Joel e eu.
- Nós tivemos alguns problemas, por isso acabamos atrasando a consulta - Joel se desculpou, um pouco envergonhado - mas vamos agir com mais responsabilidade.
- Nem acredito que a alguns anos atrás eu te vi quando era feto - Daniel sorriu, coçando sua cabeça calva, enquanto relembrava o passado. Tive a impressão de que ele nem sequer escutara a justificativa de Joel - agora estou vendo o seu filho. O tempo passa muito rápido.
- E como - Joel respondeu sorrindo, involuntariamente massageando minha barriga. Já era um costume, tanto é que eu estava começando até a gostar.____________________///______
- Pode estudar amanhã comigo? - perguntei, assim que entramos no nosso quarto, no mesmo momento em que me lancei a cama. Era sexta, e eu tinha faltado a escola, assim como Joel tinha faltado a faculdade. Acontece que o médico não atendia à tarde, nem nos sábados, por isso tivemos que abdicar dos estudos.
- Claro que sim - Joel respondeu, tirando a camisa preta social que ele gostava de usar e pegando outra mais caseira, colocando-a por cima de um dos ombros - como vai a escola? Tem certeza de que está tudo bem?
- Está normal - puxei ele junto a mim, deitando-o ao meu lado. Senti a pele quente dos seus braços fortes no meu rosto, o que tirou metade da tensão emocional que havia sentido o dia todo - as pessoas estão meio esquisitas comigo, mas nem por um momento soltaram piadinhas. Quero dizer... acho que soltaram.
Soltaram muitas. Na Educação Física, por exemplo, me excluíram do grupo inteiro, dizendo para o professor que eu não podia fazer, porque estava grávida. O que fizeram não tem nada haver com preocupação, até mesmo porque pessoas preocupadas não lhe olham rindo. Até mesmo Valentina e Esther pareciam estar me evitando, como se eu estivesse com alguma doença muito contagiosa.
- Débora, não minta para mim - Joel falou - eu te conheço, sei que não está tudo bem.
- Não quero desistir, Joel - lágrimas se formaram nos meus olhos, me incentivando a enterrar ainda mais a cabeça no peito dele.
- Não vai estar desistindo - ele falou, me apertando contra o corpo dele - só vai estar preservando a nossa saúde mental. Esqueceu que estamos juntos nessa? Se você está mal, o dia se torna escuro para mim.
- E o que eu faço? - perguntei, sentindo ainda mais vontade de chorar depois das palavras de carinho.
- Posso te ajudar com todas as matérias de Exatas, e, se precisar, os nossos outros amigos te auxiliam em Humanas - raciocinou - você poderia ir para a escola apenas para fazer as provas.
É uma boa ideia.
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A meia-irmã [ * EM REVISÃO * ]
RomanceFilha de um empresário rico, Débora Koch é mandada para o México. Será que a fuga de sua mãe serviria como uma ajuda ao destino ou para o seu declínio emocional? [PLÁGIO É CRIME! ART.184 do Código Penal]