Julho já estava acabando, assim como minha paciência com o pai do Joel. Tudo bem que não esperava que ele me desse os parabéns por estar esperando um neto dele com 17 anos, mas também não sabia que iria me tratar com tanto descaso. Por sorte, Tom continuou trabalhando mesmo nas férias, porque seu período de descanso não era aquele. Então poderia passar o dia sem me sentir uma invasora, sendo 6:30 o horário que mais detestava, pois indicava que ele estava chegando em casa.
Comecei a sentir saudades da Isa, pois minha rotina social acabou voltando a ser monótona, saindo com Joel, Sophie e os outros meninos. Algumas vezes, saía com Valentina e Esther, mas não era sempre, pois a segunda tinha notado que o interesse do Erick era muito além do que na amizade e estava o evitando para não ter outra briga com a amiga.
Hoje à tarde, quando eu e o Joel estávamos assistindo séries no sofá (a gente dividia o tempo entre Grey's Anatomy e The Walking Dead, a série que eu gostava mais. Se bem que a preferida dele combinava mais com o futuro emprego que eu queria), Chris nos ligou, chamando para passar a tarde em sua casa. Ele disse que era para variar o lugar dos encontros, mas todo mundo sabia que era só para poder namorar com a Sophie sem receber olhares de repreensão de Jasmine.
- Vamos? - Joel me perguntou, já se levantando do sofá e me puxando junto. Ele era muito apressado para ir aos encontros, enquanto eu apenas chegava na hora certa.
Acabamos chegando na casa do Chris mais cedo do que a maioria, só estando o Chris e o Zabdiel. Nem a própria Sophie tinha chegado ainda.
- Coitada da Débora - Chris brincou, assim que abriu a porta - agora vai ser obrigada a chegar sempre cedo. Se acostume.
Dei uma risada, enquanto ajustava meu vestido no corpo. Minha barriga ainda continuava imperceptível, mas eu já estava começando a me sentir incomodada nas minhas roupas. Me sentia incomodada quando vestia algo justo e só vesti esse porque o Joel tinha me apressado.
Fiquei conversando e rindo com os meninos enquanto o Joel preparava cachorros-quentes para o jantar. Sim, o Chris literalmente estava com muita saudades de Sophie, e nós éramos a desculpa. Depois de um tempo, resolvi ajudar o Joel a preparar, pois os meninos estavam falando de futebol e,sinceramente, não gostava muito desse assunto.
- Sorriaaaaaaaaa - falei, com o celular na minha mão.
- Pode ir se sentar - Joel fingiu estar bravo - fique lá com as pessoas que gosta de conversar.
- Deixa de ser ciumento - puxei ele pela mão, colocando-as na minha cintura - sabe que é a minha pessoa preferida do mundo.
- E você é a minha - ele me beijou.
Depois de uns minutos, Sophie abriu a porta, entrando com cara de assustada. Ela procurou por alguma coisa, até que seus olhos me encontraram.
- Deh - ela falou, com a voz meio trêmula - nosso pai está aqui. Do lado de fora.
- Ricardo? - perguntei, sentindo meu coração bater violentamente - mas...como???
- Ele só viu as mensagens da minha mãe ontem - explicou, vindo até mim - meu Deus, Débora. E agora?
- Alguém pode me explicar o quê está acontecendo? O que tem demais o pai dela vim visitar? - Richard perguntou.
- Depois explico... - Chris pela primeira vez na vida parecia não estar levando algo na brincadeira.
Olhei para Joel, que estava com uma expressão muito alarmada. Ele retribuiu o olhar, pegando minha mão e a apertando.
- Vamos falar com ele. Nós dois - Joel falou, com a voz firme.
- Mas... - tentei convencer ele que não fosse, com minhas pernas trêmulas. Meu pai poderia destruí-lo só com palavras.
- Ela está aqui ou não? - ouvi a porta se abrir estrondosamente, revelando aquele homem odioso que convivi por anos.
- Estou aqui - respondi, com vontade de chorar por causa do susto que tive.
- Ah - ele veio até onde eu estava, com os olhos pequenos e com um sorriso assustador no rosto - aí está você. E esse aí deve ser o pai do bastardo.
- Ele não é bastardo. Nós vamos nos casar futuramente - Joel tomou a frente, enfrentando-o.
- Sinto pena de você - meu pai ignorou o que Joel disse, se dirigindo à mim com cara de nojo - acha mesmo que esse... garoto que arrumou vai assumir você pelo resto da vida dele? Mal saiu das fraldas, não sabe o que é responsabilidade!
- E o que um homem que jogou a filha em outro país pode ensinar sobre responsabilidade? - Joel não se intimidou por Ricardo tê-lo ignorado.
- Escuta, garoto - Ricardo se dirigiu a ele bruscamente - eu posso acabar com sua vidinha em um piscar de olhos. Então não me enfrente.
- Pode tentar, se quiser. Mas o que a imprensa acharia de Ricardo Koch, um homem que abandonou a filha no México? Que despachou a ex-mulher e a outra filha? Que a esposa fugiu?
- Está me ameaçando? - os olhos de Ricardo queimaram de ódio, suas mãos fechadas ameaçando bater em Joel. Mas ele parou, voltando a sua cara de desprezo - não vou me rebaixar ao seu nível.
- Para chegar ao nível dele, você teria que subir muitos degraus. Não descer - respondi, com ódio. Ele poderia me tratar como lixo, mas mexer com o Joel, muito superior a ele, já era demais.
- Agora chega - Ricardo gritou, fazendo meus olhos ficarem cheios de lágrimas. Joel apertou ainda mais a minha mão - você tem duas opções: ou volta para os Estados Unidos e tira isso de dentro de você ou fica aqui. Mas, se ficar, nunca ouse nem sequer uma vez se dirigir a mim como pai. O seu sobrenome será tirado de você, obviamente.
- Não pode tirar o sobrenome dela - Sophie interviu.
- Com dinheiro, tudo se pode - ele respondeu, se virando para mim novamente - pense bem, Débora. Poderá estudar medicina, se voltar. Aqui, a única coisa que você será é uma mera dona de casa.
As lágrimas escorriam dos meus olhos, não tendo previsão de parar.
- Decida rápido - ele gritou novamente, de forma violenta.
- Eu preferiria morrer a voltar para os Estados Unidos com você, Ricardo - imitei a cara de nojo dele, mesmo com os olhos inchados e vermelhos - queria que soubesse que nunca tive orgulho de chamar você de pai e nem de ter seu sobrenome. Para mim será um prazer não ter que olhar para sua cara nunca mais.
- Ora, sua... - ele deu um passo em direção mim, mas Joel me colocou atrás dele, me protegendo - tudo bem. Seja feliz, orgulho do papai.
Observei Ricardo sair da casa do Chris, me dando de cara com os rostos espantados dos meus amigos. De todas as piores coisas que já aconteceram, aquele havia sido particularmente vergonhosa e humilhante.
- Débora... - Joel tentou me segurar quando eu saí abalada demais da casa do Chris.
E eu que não sabia o que era estar desorientada, descobri hoje.
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A meia-irmã [ * EM REVISÃO * ]
Roman d'amourFilha de um empresário rico, Débora Koch é mandada para o México. Será que a fuga de sua mãe serviria como uma ajuda ao destino ou para o seu declínio emocional? [PLÁGIO É CRIME! ART.184 do Código Penal]