Raramente tinha motivos para reclamar do Joel, com exceção daquelas vezes em que ele insistia em deixar as roupas dele penduradas em cima da cadeira que ficava ao lado da mesa de estudos. Contudo, estava sentindo ele cada vez mais distante, ocupado com outras coisas que não me envolviam.
- Joel? - Fui da cozinha até o quarto para chamá-lo, bastante irritada. Mesmo já chegando do estágio, ele se perdia naquelas xérox da faculdade - Não vai jantar?
- Já estou indo - falou, com o tom de voz ansioso, espremendo o lábio até ficar em uma linha reta.
Andei batendo forte com os pés no chão até chegar na cozinha, chateada demais para admitir. Ouve um tempo em que Joel perceberia que eu estava chateada, mas agora bater pés não iriam fazê-lo captar alguma mensagem.
- O que foi querida? - me sentei na mesa, observando Patty me olhar com preocupação - está acontecendo alguma coisa? - dei de ombros, olhando para meu prato.
- Não está acontecendo nada.
- É algo que envolve Joel? - ela perguntou, insistente.
- Hmmm...não - menti, tentando evitar de qualquer maneira possível aquela conversa. Afinal, o que eu esperava? Que ele fosse o mesmo para sempre? - ele está fazendo nada - Não era uma mentira.
- Está tudo bem entre vocês? - ela pegou meu queixo, me obrigando a olhá-la nos olhos - olhe para mim, por favor.
- Nosso relacionamento anda meio conturbado - olhei para o outro lado, tentando evitar que ela me visse choramingando. Admitir aquilo era como um golpe na alma - ele sempre anda cansado e ocupado demais, sempre mergulhado naqueles livros. Quando está dentro de casa, continua tão distante quanto fora. Mas eu estou bem, não tem nada demais...
- Vou conversar com ele sobre isso - Patty havia percebido que estava lutando contra o choro, pois havia em seus olhos pena.
- Não precisa - falei, fingindo que aquilo não me abalava - sempre é a senhora que resolve nossos problemas. É pedir muito que assuma essa responsabilidade.
- Ele é meu filho, preciso orientar ele. Não está certo o comportamento dele - Patty pegou em minha mão - e você é como uma filha para mim...além do fato de estar esperando um neto meu.
- Mas... - estava pronta para protestar, porém vi nos olhos de Patty que nada iria fazê-la mudar de ideia - tudo bem. Apenas não tenha essa conversa com ele quando eu estiver presente, por favor.
- Tudo bem - Patty olhou para Joel, que acabara de cruzar a divisão que dava para a cozinha. Ele estava com um olhar um pouco desorientado, os cabelos assanhados e a blusa mal-arrumada. Eu já havia feito de tudo para tentar ajudá-lo, mas sempre respondia que estava tudo bem, que não me preocupasse...mas era impossível.
Segurei o garfo com mais firmeza, usando-o apenas para jogar o alface do meu prato de um lado para o outro. Não tinha mais nada a ser dito. Todas as minhas formas de tentar ajudar o Joel e me aproximar dele estavam falhando.
- Bem... - tirei o meu prato da mesa, consciente de que era falta de educação não ter esperado ele para jantar. Mas estava me sentindo desconfortável e enjoada, principalmente ao ver Joel naquele estado tão...nojento - acho que vou para a sala ver aquela novela.
Patty me olhou com um olhar compreensivo. Ela entendia o meu lado. Joel era minha referência de resistência, de carinho.Eu precisava dele.
Fechei a porta da cozinha quando passei, para impedir que percebessem que eu não iria assistir de fato a novela. Odiava novelas, porque não tinha paciência de acompanhar fielmente.
- Joel - ouvi Patty falar do lado de dentro, com uma voz firme- o que está acontecendo com você?
- Nada - Joel falou baixinho demais, mas ainda conseguir ouvir. Coloquei os ouvidos na porta, curiosa demais.
- Estou esperando uma resposta - Fiquei feliz por estar presenciando Patty ser tão autoritária com Joel.
- O que quer que eu fale?
- A verdade.
- Com relação ao quê?
- Sabe muito bem - Isso. Ele sabe muito bem, sim.
- Estou com medo, mãe.
- De quê?
- De não ser o suficiente. Para a Débora. Cada dia que se passa, a barriga dela estar maior, e eu cada vez mais ansioso. E se não eu não for um bom pai? E se algum dia faltar alguma coisa a ela? Não me perdoaria, mãe. Fico estudando muito para que ela não perceba o quanto sou fraco, não deixá-la nervosa. Tenho vergonha.
Lágrimas escorreram pelos meus olhos. Então era aquele o motivo? Passei dias achando que ele havia se cansado de mim, se arrependido de tudo o que havíamos tido...
Corri para o nosso quarto. Sabia exatamente como ajudar.
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A meia-irmã [ * EM REVISÃO * ]
RomanceFilha de um empresário rico, Débora Koch é mandada para o México. Será que a fuga de sua mãe serviria como uma ajuda ao destino ou para o seu declínio emocional? [PLÁGIO É CRIME! ART.184 do Código Penal]