Os anjos a chamavam Floresta Azul.
E talvez (só talvez) não houvesse maneira melhor de nomear aquele lugar.
Uma área extensa, que de longe parecia tomar toda a extensão do horizonte leste de Urano, salpicada de árvores de folhas coloridas. A paisagem, exuberante durante o dia, se tornava mística ao anoitecer.
A Floresta não era só um ambiente de árvores, mas também de rios. Centenas de cursos d'água corriam livres pela planície, admiradas há milênios pelos uranianos, que viam nas águas azuis uma das personificações mais perfeitas da magia que moldara todo aquele domo, milhares de anos antes.
À noite, sob a luz das duas Luas, as águas azuis brilhavam, iluminando a vegetação e o céu, criando uma espécie de aurora boreal terrestre. Seu brilho era tão intenso, que poderia ser facilmente visto além dos altos arranha-céus e construções imponentes da capital.
Um espetáculo de magia e mistério, como tudo naquela dimensão.
A Floresta não era a única maravilha de Urano. Aquele solo, muito mais fértil que o solo da Terra, se tornara o lar de milhares de criaturas em êxodo. Animais que outrora habitavam as lendas dos homens saltavam por entre seus arbustos, e os risos dos espíritos das árvores poderiam ser ouvidos com facilidade por um ouvido mais atento.
O tapete verde se estendia para o Norte e para o Sul, suas bordas fazendo as vezes de fronteira entre três grandes Reinos. De um lado, as terras geladas e ancestrais de Æstyrea, onde se encontravam as nascentes dos rios azuis. Do outro, o deserto poeirento que um dia fora a poderosa e próspera Auster.
Seguindo o curso das águas, serpenteando por entre troncos e juncos, um visitante inevitavelmente acabaria diante do mar. Da praia, erguendo o olhar para o horizonte, avistaria um certo brilho dourado, as formas arredondadas de um conjunto de ilhas. Atlântida, em sua glória e imponência, despedindo-se de seu observador com um último resfôlego de seu imponente farol, mergulharia nas águas salgadas.
E voltando-se para o centro, dando as costas para Auster e para as árvores, seu olhar logo seria atraído para uma outra fonte de luz. Além do horizonte, muito além do que um olhar humano poderia alcançar sem o auxílio de instrumentos especiais, a vida fervilhava no ponto médio de Urano. Era no Centro que residia a maior parte da população, onde se concentravam suas tropas militares e as instituições mais poderosas daquele mundo. Além, claro, dos deuses.
O Centro, como a própria denominação deixava claro, era a alma de Urano.
Mas as árvores da Floresta Azul não deviam se sentir insultadas, diante de todas as belezas narradas. Elas não sabiam, mas seriam as únicas a não sofrerem o mal que estava por vir.
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Angels - Seulrene
Fanfiction"Há mais coisas entre céus e terra do que os olhos humanos podem ver." Quando dois mundos ameaçam entrar num conflito sangrento e absurdamente desigual para um dos lados, o mais frágil, e a ameaça de uma tragédia em proporções absurdas surge no hori...