Irene fez seu máximo para não deixar o pânico aflorar sob sua pele, por mais complicada que fosse a situação.
Era uma guerreira treinada, com décadas de experiência em batalha e estratégia, mas diante de um inimigo invisível e desconhecido não havia muito que seu treinamento pudesse fazer por si. Seus olhos varriam o escuro, o breu não a deixando distinguir nem mesmo os móveis que tinha por tão familiares naqueles poucos dias no apartamento.
As instruções de Yuta sobre não se mover bruscamente ou falar continuavam, a voz morna lhe dizendo a todo tempo que não denunciasse seu novo status. Quem quer (ou o que quer) que estivesse ali, não precisava saber que ela estava acordada.
Conservou imobilidade total, controlando sua respiração para permanecer lenta e profunda como haveria de ser se ainda estivesse envolta pelo sono. Maldisse mentalmente o cansaço do dia anterior por fazê-la tão exausta a ponto de apagar por completo; se fosse em outro momento, se estivesse com seu próprio corpo e com seus próprios reflexos não teria sido pega tão facilmente. Mas aquele não era momento para se lamentar ou despejar maldições sobre os fatos que a tinham levado até a Terra, afinal de contas eles tinham sido necessários em prol de um bem maior.
A Caixa de Pandora precisava ser encontrada não importava o sacrifício que tivesse de fazer, haviam dito. O desaparecimento de Jongin a levará a reconsiderar essa frase, avaliar novamente a penitência que esta sugeria que fosse precisa para que o objeto fosse reavido e chegara à conclusão de que alguns preços eram demais. Ali, no momento em que sua própria vida poderia estar correndo risco, a depender da natureza e das intenções da criatura oculta no escuro de seu quarto, passou-lhe pela mente que os Olimpianos não deveriam ter a menor ideia de que como era essa sensação.
Medo. Os deuses não conheciam essa palavra, como não parecia existir um limite quando o assunto eram suas ambições.
Sua audição apurada captou uma movimentação sutil no ar, e logo em seguida passos leves deslizaram pelo chão. O eco tornou-se mais alto conforme o dono das passadas aproximava-se, a imobilidade do corpo de Irene sendo posta à prova quando uma mudança considerável no peso sobre a cama foi notada por seus sensores; o colchão em um dos lados afundou, um som tão baixo quanto o sussurro dos lençóis ganhando o ar e se perdendo antes que pudesse medi-lo e descobrir o que era.
Todo o segundo que se passou foi lento, de uma quietude em tamanha proporção que a pressão antes leve em seu peito assumiu um caráter infinitamente mais forte, tornando-se pesado como uma rocha maciça de metros de altura logo depois. Fria como uma corrente de ar em pleno inverno, a voz se ergueu, percorrendo o pouco espaço que separava os dois indivíduos, registrando-se em sua mente como algo bonito mas ao mesmo tempo assustador. Um brilho fantasmagórico e arroxeado emanava daquelas íris escuras, envolvendo-a e fazendo crer que poderia ceder sua vida ao homem à sua frente se ele lhe pedisse.
Era uma ilusão, algum lugar da sua consciência apontou. Mas seu corpo não tinha forças, nem vontade de reagir diante de um rosto que se tornou cada vez mais distinto apesar da escuridão que os rodeava, o sorriso perfeito e sedutor da criatura tornando-a ainda mais bela. Impossivelmente irresistível.
- Então você é a famosa Irene...?
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Angels - Seulrene
Fanfic"Há mais coisas entre céus e terra do que os olhos humanos podem ver." Quando dois mundos ameaçam entrar num conflito sangrento e absurdamente desigual para um dos lados, o mais frágil, e a ameaça de uma tragédia em proporções absurdas surge no hori...