[Madrugada de sábado, 18 de fevereiro]
Durante toda a sua vida, Irene nunca havia sido verdadeiramente próxima de outro imortal.
Sua mãe fazia a linha durona e não era nem um pouco fã de muita intimidade com outras pessoas, de modo que a menina cresceu em um ambiente vazio de presenças que não fossem a progenitora. Taeyon também não era muito falante, característica que acabou absorvendo com o passar dos anos, e demonstrações de carinho entre ambas eram raras e sempre vistas com certa estranheza por ambas as partes. Seu pai durante muito tempo foi uma verdadeira incógnita na sua existência, tendo parado de fazer perguntas quando percebeu o quanto estas deixavam a mulher consternada e nervosa. O nome de Baekhyun era um termo proibido em suas rotinas, e a pequena acabou se convencendo que o melhor que fazia era seguir ignorando sua figura, uma vez que sua curiosidade não acrescia-lhe em nada; não haviam fotografias pela casa e os poucos objetos que Taeyon misteriosamente ainda guardava dele estavam trancados a sete chaves em um cofre no fundo do sótão empoeirado, onde ninguém jamais se lembraria de olhar. Acabou aceitando a versão da mãe, de que Byun não as queria mais em sua vida do que ela gostaria de uma adaga de lâmina cega, sufocando determinada e terminantemente qualquer vontade que pudesse ter germinado em seu peito de conhecê-lo e se aproximar dele, vivendo seus dias sem o menor vestígio do pai o mais pacificamente que a estranha relação que tinha com a mais velha permitia.
E tudo tinha ficado bem, até Baekhyun aparecer em sua frente quando menos esperava. Era para ser só mais uma manhã tediosa de domingo, na qual a menina acabava escapando da vigilância materna e se embrenhando nas ruas e becos da área em que morava, seguindo o caminho de sempre até terminar em um dos mercados abertos, na porção noroeste do Centro. No fundo, sentia que teria sido exatamente assim, se o homem não houvesse surgido em sua frente vindo literalmente do nada, não lhe dando sequer tempo para pensar em se desviar do choque com suas costas; o impacto a desequilibrou, fazendo-a vir o chão e adquirir essa patética cicatriz no joelho que, ironicamente, Yuta achara ser de bom tom imitar em seu autômato - um círculo irregular um dedo e meio acima do centro da articulação, pouco mais claro que a própria pele.
Baekhyun, atraído pelo contato brusco e pelo som da queda, voltou-se para ela. Ajudou-a a levantar, sussurrando um pedido de desculpas tão vago quanto a expressão em seus olhos quando ela o reconheceu, uma fração de tempo depois; apesar de nunca ter visto um retrato seu e não conseguir arrancar da mãe durante vários anos mais do que descrições superficiais de sua aparência, Irene sabia perfeitamente que não havia nenhuma outra maneira de aquele homem ter os traços tão parecidos com os seus, a menos que fosse ele. Seu pai. A pessoa que sua mãe tanto amaldiçoava por, palavras dela, ter interferido em sua carreira de futuro brilhante na Guarda Pretoriana. O maldito Byun Baekhyun, que tão logo assegurou-se que a garota estava de pé, deu-lhe as costas e desapareceu em meio à multidão, deixando para trás uma Bae ainda mais furiosa do que estivera ao sair de casa horas antes.
A frustração de seu primeiro e último contato com a outra parte de sua pequena família assombrou-a semanas a fio. Não contou para a mãe que havia encontrado-se com Baek, mas Taeyon estava mesmo aquele um passo à frente de que tanto falam, porque não demorou muito a deduzir o que estava acontecendo - e para desespero próprio, estava completamente certa. A discussão foi inevitável, mas dali para adiante a relação das duas tornou-se melhor que havia sido até então. A mãe pareceu convencer-se de que a filha não mais desejava ver aquele que um dia referenciara como pai, e isso foi suficiente para deixá-la mais aliviada, bem como abrir espaço para que se entendessem mais como mãe e filha; jamais esqueceria o quanto a progenitora ficou radiante quando comunicou-lhe sua decisão de ingressar na vida militar, e do incentivo recebido antes de seu teste de aptidão física e mental para adentrar o Ginasium. Mas uma vez admitida, os exercícios e treinamentos foram ágeis para destruir a relação construída repentinamente entre elas, fazendo-as retornarem para um estado tão apático quando anteriormente, se não mais.
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Angels - Seulrene
Fiksi Penggemar"Há mais coisas entre céus e terra do que os olhos humanos podem ver." Quando dois mundos ameaçam entrar num conflito sangrento e absurdamente desigual para um dos lados, o mais frágil, e a ameaça de uma tragédia em proporções absurdas surge no hori...