[Manhã de domingo, 12 de fevereiro. 11:40]
Sabe aqueles momentos em que alguma coisa tão, tão inesperada acontece, que a sua única reação é ficar olhando para os lados esperando que um apresentador apareça, gritando: VOCÊ ACABA DE CAIR EM UMA DE NOSSAS PEGADINHAS! Aqui está a nossa a câmera escondida e esse é o nosso ator que te fez pagar de palhaço em rede nacional!?
Então...
Seulgi estava se sentindo exatamente assim. Só que nenhum dos passageiros estava saltando em sua direção e empurrando um microfone em seu nariz. O que, em uma tradução bem literal, só poderia significar uma coisa.
Aquilo estava acontecendo de verdade. O que era muito pior.
Cada um de seus órgãos internos estava agitado. Como se, do nada, seu fígado tivesse tirado o pâncreas para dançar uma salsa, transformando toda a sua cavidade abdominal numa pista de dança. Suas glândulas salivares tinham parado de funcionar, e agora sua boca estava seca. Mais do que seca, arenosa. Lembrava um pouco a vez que sua família fora à praia, no meio de suas primeiras férias escolares de todos os tempos. As lembranças daquele dia estavam desbotadas, mas ainda conseguia sentir o gosto de areia molhada de quando seu irmão a empurrara na direção das ondas e ela caiu com a cara no chão.
Desagradável, para dizer o mínimo. Mas pelo menos tinha conseguido sua revanche. Jin passara o resto do dia preso à toalha sob o guarda-sol, emburrado e com um saco de gelo sobre o joelho, ralado em uma queda para além de natural ocorrida sobre as pedras. As mesmas pedras das quais sua mãe os proibira de se aproximarem. Nada que um pouco de paciência e as palavras certas não pudessem resolver.
Tinha colhido mais frutos do que esperava, no final das contas. Se hoje Seokjin odiava praias e caranguejos, tinha cem por cento de certeza que a culpa era a sua. O pensamento animou Seulgi, mas não a ponto de fazer sua tensão se dissipar.
Não haveria retaliações, ali. Antes de mais nada, porque a mulher ao seu lado nem devia imaginar o que se passava em seu interior. Segundo, porque estava espantada demais para arquitetar planos vilanescos.
Se obrigou a fechar a boca. Não queria parecer ainda mais idiota. Não que houvesse uma forma de impedir que isso acontecesse. Estava além de suas capacidades momentâneas, se concentrar mais que o básico em algo como manutenção de sua aparência.
E mesmo que fosse diferente, não havia muito que pudesse fazer. Seulgi sabia que suas expressões eram como um livro aberto. Qualquer um poderia lê-la, com a mesma facilidade com que leriam os escritos em um outdoor.
Haviam momentos em que isso era benéfico, e outros em que odiava ser transparente em excesso. Esse, era um dos que poderiam ser encaixados dentro dessa última categoria.
— Moça?
Seulgi piscou, arquejando. Sentiu uma pontada estranha em suas costelas. Tinha começado a respirar mecanicamente em algum momento dos últimos instantes, e aparentemente não o vinha fazendo corretamente. Seus pulmões protestavam a escassez de oxigênio.
Encheu-os, dando a si mesma um pouco de tempo para reunir as palavras e treinar sua pronúncia mentalmente. Apesar de sua tentativa, o que saiu de sua garganta mais poderia ser considerado um chiado do que qualquer outra coisa.
— Eu... eu conheço você.
Silêncio. Arriscou erguer o olhar. As sobrancelhas da mulher estavam curvadas, pequenos vincos se formando em sua pele.
— Perdão? - murmurou. Seulgi experimentou passar a língua pelos lábios. Sentiu-os secos, pouco rachados. Tentou formular sua frase um pouco melhor.
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Angels - Seulrene
Fiksi Penggemar"Há mais coisas entre céus e terra do que os olhos humanos podem ver." Quando dois mundos ameaçam entrar num conflito sangrento e absurdamente desigual para um dos lados, o mais frágil, e a ameaça de uma tragédia em proporções absurdas surge no hori...