[Manhã de sexta-feira, 21 de janeiro (Urano). Quinta-feira, 02 de fevereiro (Terra).]
- Espero que nosso último encontro não a tenha traumatizado em demasia, Joohyun. - a voz mansa ganhou seus ouvidos, independentemente de sua vontade de ouvi-lo.
Sendo sincera, não queria muito. A parte magoada em seu íntimo lhe gritava que não devia estar ali, de maneira nenhuma. E isso nada tinha a ver com os olhares tortos que recebera até ali, dez ou doze trainees que não fizeram questão alguma de disfarçar o descontentamento por tê-la em seu habitat natural.
Ariana suja, eles haviam lhe dito?
Sentia-se mil vezes pior somente em pensar no que havia feito naquela manhã.
Cometera o erro sem precedentes de, silenciosamente, oferecer-se para prestar apoio à Jennie. No fundo de seu coração insensível, sabia que se havia alguém sofrendo mais do que ela própria com a partida de Kai - outro evento trágico daquele dia fatídico - esse alguém era a Kim. Mas, deuses, quando se postara à porta desta, mais enrolada sobre que deveria falar ou fazer, a última coisa que esperava era encontrar a nimphe desfrutando de uma versão 3.0 da fossa mais profunda de Atlântida; passara uma hora inteira tentando assimilar o quão profundas estavam as olheiras naquele rosto de marfim, repetindo para si mesma de que, sim, era apenas sua imaginação fértil até então adormecida pregando uma peça. Jennie não poderia estar com aquela cara de enterro. Ainda mais quando não havia morte nenhuma em jogo.
Não mesmo.
Mas ainda assim, estar novamente diante de uma demonstração tão grande de perturbação do sono foi consternador. Definitivamente, lidar com meio-zumbis a deixava irritada. Então, Yuta que não viesse lhe dizer nada. Ela não estava com paciência.
- Você faz isso parecer dramático. - foi sua resposta, seca. Como imaginava, ele não se dignou a erguer o olhar, sua atenção cem por cento em sua mais nova obra prima da arquitetura. Não demorara muito a ligar os pontos e detectar que o tipo estava muito mais para lá do que para cá, nos medidores de sanidade mental. Mas tinha de admitir, havia algo de realmente brilhante debaixo daquela figura frágil e franzina. A torre Eiffel de palitos de chocolate em sua frente não a deixava duvidar, nem esquecer-se desde detalhe. Meio minuto depois ele se moveu - se é que uma contração dos músculos da face pode ser chamada "movimento" - , uma sobrancelha sua se arqueando por uma fração de tempo, o bastante para ela concluir que não era consigo que sua atenção estava. Encarava a torre enfim finalizada, a seriedade em seus olhos fundindo o arroxeado típico da insônia com o castanho escuro de suas íris. Permaneceu estático por algum tempo, o silêncio ferindo seus ouvidos. E então tudo mudou.
Num movimento surpreendentemente rápido, ele se inclinou sobre a mesa, vencendo o pouco espaço entre si e a escultura de doces. Atingiu-a com um único golpe e a estrutura completa veio abaixo, desintegrando-se como se fosse feita de areia. Pedaços de chocolate menores que pontas de lápis voaram por toda parte.
E então, como se os últimos trinta minutos de dedicação exclusiva à réplica comestível não houvessem existido, voltou a se recostar em sua cadeira de couro, mangas maiores que seus braços se envolvendo ao redor dos joelhos magros. O moletom de hoje era branco. Igual ao do dia anterior. Em silêncio, questionou-se se havia qualquer outra cor em seu guarda-roupa.
E quando esse questionamento passou, perguntou-se se aquilo eram realmente camisas de força.
A julgar pelo episódio do dia anterior, Joohyun não tinha lá muitas dúvidas.
- Você gostaria que não fosse? - lançou o questionamento, o tom enfadonho em sua voz de repetindo, tal qual suas roupas. O lábio superior da Bae se crispou.
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Angels - Seulrene
Fanfiction"Há mais coisas entre céus e terra do que os olhos humanos podem ver." Quando dois mundos ameaçam entrar num conflito sangrento e absurdamente desigual para um dos lados, o mais frágil, e a ameaça de uma tragédia em proporções absurdas surge no hori...