10:01 - Uma rotina rotineiramente "rotinesca"

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Só a critério de curiosidade, hoje é meu aniversário🙊💖🎉🎂 mas o presente vai ser de vcs. Que tal uma att dupla, com a volta do projeto, hein?🤔

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[Início de tarde, 12 de fevereiro.]

— Eu posso saber o que tu tá fazendo empoleirada aí, que nem uma galinha?

Seulgi fez um gesto impaciente com a mão, como se pretendesse afastar as palavras de Amber. Não era a primeira vez que o amigo a importunava, naquele dia, mas não se encontrava com um fio de disposição para dar ouvidos a ele agora.

O motivo? Ela estava extremamente concentrada em leitura corporal.

O que, em condições favoráveis, já seria um pouco complicado. Seulgi não costumava passar muito tempo olhando diretamente para as pessoas. Logo, não era como se ela soubesse exatamente que tipo de movimentos analisar. Por via das dúvidas, analisava tudo, o que lhe dava mais material para trabalhar em cima.

Por exemplo, quando a mulher que havia ajudado mais cedo passou os braços sobre os ombros da loira que acabara de chegar, estaria ela apenas sendo afetuosa, ou havia algo mais naquele contato? Era difícil determinar. Para cada possibilidade que lhe surgia em mente, havia uma centena de quadros prévios que precisava analisar. Se a alternativa correta fosse a 2, então de onde elas se conheciam? Aquela mulher teria alguma relação com seu nervosismo, na madrugada? E, caso sim, por quê?

Eram muitas perguntas, e a maior parte delas sequer fazia sentido. Como não fazia sentido o que estava fazendo, naquele exato momento.

Sentada em frente à vitrine, com o nariz praticamente colado no vidro numa tentativa de enxergar melhor o que acontecia do outro lado da rua, Seulgi se perguntava o que tinha acontecido com seus neurônios. Talvez os sobreviventes estivessem desorientados demais, ou a voz de sua consciência conseguia convencê-los de que o que estavam fazendo não era, assim, uma loucura tããão grande.

Por mais que tentasse, não conseguia explicar a si mesma qual era o seu interesse naquilo. Não conhecia aquela mulher. Nunca a tinha visto antes, até o momento que atropelaram uma à outra na faixa de pedestres. Que ela estivesse em seu ônibus, e viesse lhe pedir ajuda, eram apenas grandes coincidências. Então, por quê?

Curiosidade. Curiosidade, talvez? É. Podia ser. Mas, a julgar pelo som de repulsa que Amber continuava fazendo às suas costas, não era tão aceitável quanto gostaria que parecesse.

— Vai acabar ficando cega, forçando a visão desse jeito - insistiu, num tom que a lembrou imediatamente de sua avó. Ela adorava dizer aquele tipo de coisa, aos filhos e aos netos. Algumas de suas mais antigas memórias envolviam a vovó Kang acertando suas coxas com uma colher de pau enquanto esbravejava sobre todos os males e doenças que poderia contrair da luz do monitor e dos componentes químicos da televisão.

"Vai queimar suas retinas, e precisar de óculos como os do seu avô, antes de ter uma década de vida. Sem falar que você quase não come, pendurada o dia inteiro nesse negócio. Na minha época, criança vivia do lado de fora. Minha mãe, sua bisa, tinha que me arrastar da rua e me obrigar a tomar banho. Eu vivia rolando junto com os moleques do bairro. Subia em árvore pra pegar fruta, pulava muro pra catar bola e corria de cachorro... E olha só você! Magrela! Não aguenta um sopro de vento. Só quer saber de televisão... televisão! Vai brincar, menina! Cadê o seu irmão? Outro apalermado. Vão brincar, vão! Xô, xô! Não quero ver ninguém aqui dentro até a hora do almoço. E ai de vocês se eu vir esse troço ligado..."

— Olha, eu acho melhor tu sair daí. Vai acabar espantando os clientes, se eles te virem com a cara grudada no vidro desse jeito...

A morena revirou os olhos. Desde que se instalara ali, há mais ou menos uns dez minutos, os resmungos de Liu não a abandonavam nem por um segundo.

Angels - SeulreneOnde histórias criam vida. Descubra agora