[Segunda-feira, 27 de fevereiro.]
Devia existir uma régua para medir insanidade. Se tal instrumento existisse, Seulgi tinha certeza de que as coisas seriam facilitadas ao menos em um ou dois pontos para si. Por exemplo, ela não precisaria quebrar a cabeça nos dois dias seguintes, tentando decidir se aquilo que havia acontecido quarenta e oito horas antes era o ápice da loucura, ou se havia alguma coisa mais intensa a caminho.
Talvez devesse ter perguntado a Ten, quando teve a oportunidade. Agora tudo o que lhe restava era não cair em desespero, sentar e esperar para ver o que aconteceria. Talvez não aconteça nada, uma parte de sua consciência dizia. Ela não estava enganando nem a si mesma com esse pensamento.
Falando no garoto, precisava dizer que ele seguia sendo um grande ponto de interrogação.
Depois de erguer a carta dos Enamorados e incentivá-la a atender o telefone, Ten não voltou a lhe dirigir a palavra diretamente. Recolheu o baralho, organizando-o segundo um padrão que ela desconhecia sobre o tabuleiro e virando cartas aleatoriamente, em silêncio. Todas as atenções estavam nela, na chamada em andamento. Ninguém mais percebeu o que ele estava fazendo. A própria Seulgi perdeu seu foco do tailandês eventualmente, sua mente completamente focada na conversa com Irene.
Ou nem tão focada assim, porque várias foram as vezes em que precisou de alguns segundos para processar o que estava sendo dito e elaborar suas respostas. Quando é que falar tinha se tornado uma tarefa tão complicada?
- Esperava que eu me desde por vencida, depois dos últimos dias? Lamento te decepcionar. Minha determinação está três vezes mais forte, agora. - ela sussurrou, do outro lado.
Seulgi congelou, perdida nos significados que poderia extrair daquela fala tão breve e tão objetiva.
Estava começando a se familiarizar com a ideia de que, referindo-se à Irene, tudo sempre seria daquela forma. Ela não fazia rodeios, não tecia floreios em torno daquilo que desejava fazer e falar.
Irene não tinha medo.
Seulgi queria não ter medo, mas para ela as coisas eram um pouquinho mais complicadas.
- Você desapareceu. - prosseguiu, sem nenhum vestígio de humor. Embora não houvesse nenhum tom acusatório em sua fala, era impossível não fazer a assimilação. Seulgi ficou tensa. - Eu fiquei me perguntando se foi algo que eu fiz ou disse.
Não. Não, não é você, queria responder. Por algum motivo, as palavras não saíram de sua mente.
- Hmm... então... - sussurrou, com a voz tão quebradiça que duvidou que pudesse ouvir. Passou a língua pelos lábios. Tudo parecia distante, distorcido. Era como tentar falar debaixo d'água. - Sobre isso...
Um segundo. Um instante de distração sua, foi o tempo necessário para que tudo saísse de seu controle. Sem que percebesse, Lisa e Amber haviam se aproximado o bastante para ouvir sua conversa. O bastante para isso, e para mais.
Em um momento, o celular estava em suas mãos. No momento seguinte, apenas o ar. A voz de Amber encheu seus ouvidos, em verdadeiros gritos.
- Então é você a tal Irene?! Puta que pariu, eu achei que a Joy tava brincando!
A coluna de Seulgi gelou e seu queixo quase caiu da cara.
Congelou de puro pavor, mas quando percebeu o que ele estava prestes a fazer, seu corpo se moveu de forma quase automática. Partiu para cima dele, tentando a todo custo tomar o aparelho de volta.
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Angels - Seulrene
Fanfiction"Há mais coisas entre céus e terra do que os olhos humanos podem ver." Quando dois mundos ameaçam entrar num conflito sangrento e absurdamente desigual para um dos lados, o mais frágil, e a ameaça de uma tragédia em proporções absurdas surge no hori...