06:05 - A balada da supernova

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[Noite de sexta-feira, 03 de março.]

Seulgi estava em chamas.

Quando seus lábios encontraram os de Irene, foi como se uma estrela explodisse dentro dela e a consumisse por inteiro. Uma supernova de sensações, que logo se condensaram e se tornaram uma coisa só. Fogo.

Uma cascata de chamas douradas brilhantes, visível mesmo sob suas pálpebras fechadas, que envolveu cada centímetro de sua pele, devorando tudo em seu caminho. O receio. A timidez. Nada disso ficou.

E durante dois segundos, os dois segundos mais longos e alucinantes da sua vida, não houve nada além daquilo. Foi tempo o bastante para muita coisa acontecer. Tempo para ela perceber que aquele contato, o toque superficial, cândido e suave entre suas bocas não bastava. Tempo para ela descobrir que queria mais.

Seulgi estava em chamas, e ela queria continuar queimando.

Mas também foi tempo o suficiente para o choque se dissolver, para que a surpresa de seu ato repentino se dispersasse, e a razão que lhe faltava naquele momento despertasse e assumisse o controle dentro da outra mulher. Dois segundos. Foi o tempo que durou o beijo, antes de Irene segurar seu ombro e recuar meio passo para trás.

- Não.

Três letrinhas. Uma palavra. Uma sílaba. Seulgi piscou, o salão inteiro dançando, diante de seus olhos.

Ela ainda se sentia quente. As chamas douradas ainda estavam ali, impacientes. O fogo tinha recuado, mas ainda ardia, inconformado. Ele tinha encontrado a matéria de que precisava para se manter, e não suportava a ideia de ser separado dela. E ele não desistiria tão fácil. Seulgi não desistiria tão fácil.

- Pare. - Os dedos de Irene se tornaram mais firmes, quando Seulgi fez menção de se aproximar dela, novamente.

Não estava pensando quando se moveu. Para ser mais exata tinha certeza que não seria necessário. Mesmo tendo se passado um período considerável, no qual não se viu precisamente próxima de ninguém a ponto de querer fazer algo semelhante, a seu ver, haviam coisas impossíveis de se esquecer. Era como andar de bicicleta.

A dor da queda, essa também, nunca desaparecia por completo. E ela encontrou seu caminho para dentro de Seulgi, nas linhas duras do rosto de Irene, na solidez séria de seu olhar, nos lábios apertados.

- Você não quer - Seulgi se ouviu dizer, distante, como se uma terceira pessoa falasse por ela. Não era uma pergunta. Irene balançou a cabeça.

- Não assim. - Suas mãos se firmaram nos ombros alheios, fazendo cessar um balanço sutil de seu tronco, que não notara até aquele segundo. - Não se for esquecer de tudo pela manhã. Pior: se for se arrepender.

- Eu não vou.

A frase veio carregada de simplicidade. Mais que isso, de um desespero sutil que era como espinhos, rompendo a superfície e se expondo. O fogo ainda mantinha seu receio afastado, mas a ansiedade, robusta, rodopiava por entre as chamas como os corpos dançavam, ao redor delas. E junto com ela, um temor fino e frio feito a espetada de uma agulha envenenada.

A rejeição era como um joelho ralado em uma queda. A princípio, não parecia tão terrível. Um exame mais cauteloso, o passar dos segundos, expunha a verdade dolorosa.

O espaço entre elas ainda era mínimo. O braço de Irene sequer estava estendido. Seulgi conseguia distinguir as linhas mais escuras em suas íris castanhas. Elas permaneciam próximas, se repelindo e se atraindo, como imãs que acabam de descobrir sua polaridade e não sabem bem o que fazer com ela.

Se aproximar ou fugir? Ficar ou se afastar?

- É o álcool falando mais alto, agora. Isso não é você.

Angels - SeulreneOnde histórias criam vida. Descubra agora