Kristine, 3.

17 5 2
                                    

5:20 P.M. - Residência de Nathan Lisenbrode.

    Lá estava eu, aguardando Nate diante da porta de sua casa, munida apenas de meu casaco de moletom e uns trocados no bolso, caso precisasse voltar de ônibus. Combinamos, por telefone, de conversar pessoalmente a respeito de tudo que vinha ocorrendo, a fim de melhorar nosso convívio. Sua voz parecia calma do outro lado da linha, dando indícios de que tudo correria bem.

    Instantes após eu tocar a campainha, Nate abriu a porta. Estava ligeiramente desleixado, sem camisa e usando uma bermuda de tecido leve. Seus cabelos estavam molhados e alguns pontos de seu rosto exibiam tom avermelhado, me fazendo concluir que acabara de sair de um banho quente. Ele abriu espaço para que eu passasse, e logo depois fechou a porta, sem trancá-la.

    Seus pais ainda estavam no trabalho, o que deixava a casa imersa num silêncio sepulcral. A sala cheirava a lustra móveis e sua mobília era feita de madeira escura, conferindo um clima agradável e aconchegante.

      — Acho melhor irmos lá pra cima, não é?  Disse, sem me encarar.

    Concordei com um murmúrio, torcendo os dedos das mãos em nervoso. Aquela seria nossa primeira discussão de relação, e eu não sabia o que esperar de suas reações. Senti um pouco de medo, misturado com ansiedade e enjoo, e de repente conversar com meu próprio namorado parecia tenebroso.

    Ele tomou a iniciativa e começou a subir os degraus da escada, sendo seguido por mim. No fim, um pequeno corredor dava acesso aos dois quartos e um banheiro, protegidos por portas escuras. A primeira delas, repleta de adesivos de ficção científica colados em sua superfície, foi aberta com um rangido.

    Eu já conhecia bem aquele quarto, porém, ele parecia mais acolhedor nas outras vezes. Sua cama de casal estava bagunçada, com um edredom preto amassado no canto e travesseiros espalhados. O computador, como sempre, estava ligado em seu jogo online favorito, sendo a única fonte de luz em seu quarto escuro por conta das pesadas cortinas.

    Nate sentou-se na cadeira da escrivaninha e eu me acomodei na ponta de sua cama, de frente para ele.

      — O que tá acontecendo, Kristie?  Sua voz doce fez meu coração pular.

    Respirei fundo, segurei um de seus travesseiros e comecei a falar, buscando não atropelar minhas palavras.

      — Nate... Já faz um tempo que você vem me magoando com algumas atitudes, e eu não sei como reparar isso.

    Ele não reagiu, permitindo que eu continuasse a falar. Seu olhar era frio e penetrante, e a cor de seus olhos contribuía para essa dura aparência. Engoli em seco, sentindo medo do que pudesse acontecer dentro de alguns minutos.

      — E-eu...  gaguejei, suando frio.  Quero resolver isso hoje com você ou...

      — Ou...?  Sua voz, antes doce, incorporara um tom rígido.

    Sou uma covarde de marca maior. Sei muito bem fingir uma valentia inexistente em mim, capaz de enganar qualquer um que me ouvisse em meus momentos de raiva. Eu mesma acreditava que era destemida, corajosa e forte, porém, quando precisava encarar o perigo, tremia dos pés à cabeça. Ameaçar Nate era uma dessas situações.

      — Ou não poderemos mais...  apertei o travesseiro e respirei fundo  ficar juntos.

    Novamente, nenhuma palavra escapou de seus lábios. Ele curvou sua boca para baixo, fechou os olhos e balançou sua cabeça afirmativamente, espalhando-se na cadeira. Seu primeiro sinal de desprezo se manifestava diante de mim, e eu não sabia como lidar com tal atitude.

Red WineOnde histórias criam vida. Descubra agora