Kristine, 12.

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Sexta-Feira - 10:20 A.M.

    Sou uma péssima atriz, não sei fingir e muito menos inventar desculpas para fugir de situações embaraçosas, e isso deve ter ficado bem claro ao longo desses capítulos. Após uma noite tão agitada, repleta de confissões e sentimentos expostos, eu fui incapaz de me imaginar comparecendo àquela formatura, sobretudo depois da conversa séria que tive com Mia.

    Passamos bons minutos discutindo a respeito do que acabara de ocorrer, e durante todo o debate fui estimulada a acreditar que era de mim que ele falava. Mas como convencer um coração partido?

    Diversos argumentos foram jogados na mesa, provas incontestáveis eram utilizadas, porém, nada me fazia acreditar na sua hipótese por mais que eu desejasse imensamente que fosse verdade. Ainda que ele tivesse me olhado imediatamente após abrir seu coração, e que todas as informações coincidissem com o meu perfil, eu era impedida pelo meu cérebro de aceitar essa possibilidade. Existem tantas mulheres lindas, incríveis e únicas nesse mundo, não tinha por que ele ter me escolhido.

    Nossa conversa se encerrou com uma fortíssima revirada de olhos, acompanhada de um "vocês só não estão namorando porque são dois tontos". Concordo que sou uma tonta, cheia de desconfianças e detentora de um impenetrável coração de pedra, mas sua afirmação não era bem verdade. Mesmo que o amor fosse recíproco, eu tinha acabado de completar 18 anos, e uma relação com um cara mais velho antes disso seria inaceitável.

    No entanto, quando deitei minha cabeça sobre o travesseiro e me permiti divagar sobre a enxurrada de coisas que aconteceram, senti meu corpo flutuar com fantasias exageradamente infantis. Se ele realmente gostasse de mim, se fosse comprovado mesmo, atestado em cartório, eu nem saberia como reagir. Se beijá-lo sem nenhum compromisso já era bom, tocar seus lábios no altar seria magnífico. Aproveite essa pequena fagulha de sensibilidade e romantismo que deixei escapar acidentalmente, e faça uma fogueira em homenagem à minha fragilidade.

    No fim das contas, dormi criando cenas bobinhas que todo ser humano precisa para manter-se saudável, mas acordei com um dilema no colo.

    Sua mensagem, enviada às 7:00, deixou meu coração a mil. Com poucas palavras, Hayato perguntava sobre minha presença em sua festa de formatura, a qual havíamos sido convidados meses atrás, e me fez cair na realidade de novo. Minha versão sonhadora morreu, deixando no lugar a boa e velha Kristine desconfiada, que tinha certeza que o grande amor da vida dele era uma amiga da faculdade. Porque veja bem, fazia muito mais sentido eu optar por deletar as suposições delirantes para conformar-me com a alternativa mais provável. Quem sonha muito alto pode cair.

    A única coisa que eu conseguia pensar era que não podia me deixar iludir, seria catastrófico entregar-me para sofrer outra vez. Apesar de tudo, ele ainda era o homem que transou com a namorada logo após me beijar na piscina, o mesmo que me deu evidências suficientes para comprovar que tinha me usado, e eu seria idiota de cair nessa novamente. Suas palavras foram lindas, entretanto, eu só trabalhava com duas opções: ou elas não eram para mim, ou eram só mais uma de suas táticas sujas para enganar trouxa.

    É claro que minha roupa já estava comprada e separada para a ocasião, entretanto, tudo que eu faria seria olhá-la pendurada no cabide, dentro do armário. Doeria muito ter de vestir trajes tão lindos e calçar sapatos tão desconfortáveis para ver seus olhos brilhando em outra direção, meus cílios postiços e a base tão cara que comprei para usar raramente seriam desperdiçados. Eu era forte, mas esse soco me nocautearia.

    Nesse caso, ainda que meu coração doesse e minha lucidez me pedisse que eu ao menos assistisse à cerimônia, fui obrigada a rejeitá-lo com uma justificativa vaga e terrível. Demorei meia hora reunindo coragem para abrir sua mensagem, e quando consegui, levei mais dez minutos batucando com os polegares no teclado buscando pelas melhores palavras. Não queria magoá-lo com minha incompreensão, ele não tinha culpa de não me amar.

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