Kristine, 11.

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10:15 P.M. - Quinta-feira

    Eu estava isolada em meu quarto há mais de 24 horas, presa em jogos on-line e sendo alimentada por barras de cereais esquecidas no armário, uma verdadeira alma digna de pena. Ninguém havia estranhado minha ausência até então, mas eu não os culpava por isso  sabia que deviam estar acostumados com a distância que eu mesma criei, e respeitavam o espaço que, no fundo, eu não queria mais ter.

    Nunca fui muito de grude, fazia pouco caso do excesso de carinho e atenção que tentavam me oferecer, e agora agonizava em arrependimento. Meu sonho era poder demonstrar o quão frágil eu era, jogando-me nos braços daqueles que insistiam em mim, somente para chorar e permitir ser finalmente defendida e cuidada por alguém de confiança.

    Por trás de muitas pessoas fortes, existem bebês vulneráveis que imploram por afeto.

    Depois de ter respondido Nathan desafiadoramente, aguardei por uma réplica que não aconteceu. Sua covardia era tão grande que as mensagens se limitavam a ameaças vazias ou frases próprias de uma dor de cotovelo, sempre seguidas de um sumiço que denunciava a babaquice de uma criança que se recusou a crescer. Eu estava com tanto ódio que senti-me capaz de enfrentá-lo com a cabeça erguida, mas minha consciência me fazia lembrar do nosso término.

    Ainda que fossem relativamente recentes, as marcas deixadas por ele já eram quase imperceptíveis, e eu já não precisava mais me preocupar em escondê-las com tanto afinco. É clichê, mas posso afirmar que os hematomas não eram nada se comparados à cicatriz que ele deixou em minha memória, cuja ferida fora realizada com ferro em brasa. Que grande cuzão.

    Por esse motivo, entendi que eu não deveria ser tão ingênua em achar que Nate não faria algo comigo novamente, pois ele já tinha me provado que era capaz, e era melhor eu tomar cuidado.

    Por outro lado, as marcas deixadas no incidente da piscina ainda acenavam para mim e cochichavam que, apesar de fraquinhas, permaneciam firmes na pele. Elas me forçavam a lembrar como eu o amava e como foi delicioso experimentá-lo, mesmo que um litro de decepção fosse empurrado em minha goela logo após. Era uma pena perceber que nem 100 cubos de gelo diminuiriam sua intensidade naquela altura, e eu estava condenada a vê-los até quando decidissem sumir. Minha coleção de desgraças ficaria linda numa estante.

    KinyX havia saído há vinte minutos, me deixando sozinha outra vez. Nos falamos por aproximadamente uma hora, mas fora o suficiente para preencher um pouco do vazio que me dominava, cedendo alegria a quem estava angustiada até o último fio de cabelo. Não posso desmerecer o papel de Casey e Aaron nesse processo, eles eram ainda mais importantes que aquele amontoado de pixels, mas KinyX tinha algo especial. Algo a mais, não sei dizer.

    E foi durante esta reflexão que ouvi batidas animadas em minha porta. Eu conhecia bem a dona dessa afobação, e não posso negar que sua visita viera bem à calhar.

      Krissy!  Mia chamou, com a boca próxima à porta.  Abre aqui!

    Ela se recusava a lembrar que eu dificilmente trancava a porta, e se eu o fizesse, era por estar me masturbando. Tenho medo de sofrer um infarto dentro de um local inacessível, pois dificultaria o socorro e poderia me condenar à morte, então eu preferia nunca girar a chave.

      — Tá aberta, lesada.  Gritei.  Pode entrar.

    Então, abrindo vagarosamente a porta, minha cunhada surgiu com um largo sorriso estampado no rosto. Ela sacudia uma das mãos freneticamente, como uma criança ansiosa para sua festa de aniversário, e caminhava rebolativamente. Seu comportamento, sem dúvidas, indicava uma inquietação absurda para contar algo, e ela realmente não conseguia manter a língua dentro da boca em algumas situações.

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