Kristine, 15.

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Sábado - 23:12


    Eu poderia morar em seus braços.

    Durante toda a minha vida, a única ocasião em que experimentei tantas sensações boas de uma vez só foi em nosso primeiro beijo, mas aquele abraço certamente conquistava o segundo lugar em meu top 10. Não durou muito, talvez tenha sido coisa de segundos, e mesmo assim foi o suficiente para aquietar minha alma, como uma boa xícara de chocolate quente numa noite chuvosa.

    Meu orgulho se esvaiu como poeira, permitiu que eu desfrutasse de toda a doçura presente em sua atitude, e isso sem me preocupar com a fragilidade que acabara ficando conspícua. Que se dane a minha imagem, que se exploda a força que eu fingia ter. Eu só queria me livrar daquela armadura por ora, deixar que alguém se conectasse com a minha verdadeira identidade, me dando a chance de abandonar o personagem para ser quem realmente era.

    E, na realidade, eu era como uma Prímula uma flor frágil, que demanda cuidados muito especiais para que floresça. Cuidados que somente bons jardineiros podem oferecer.

    Hayato me cercou de amor e afeto, aniquilou minhas defesas e me fez concluir que, a partir dali, não fazia mais sentido evitá-lo e destratá-lo. Meu comportamento parecia razoável para alguém que teve o coração partido, que acreditava veementemente que havia sido enganada e usada, mas que provas eu tinha disso tudo?

    Ainda que ele não me amasse no sentido romântico da palavra, o que mais faria com que ele abandonasse sua formatura por mim?

    No fundo, eu sentia que ter o seu amor fraternal já era o bastante.

    Pode parecer absurdo, mas eu estava tão em paz que cheguei a uma conclusão simplista e agradável: amigos também se aventuram, e isso não anula o respeito e a consideração que têm um pelo outro. Ele poderia muito bem ter me beijado porque sentiu vontade, e teríamos transado também sem qualquer sentimentalismo envolvido, contanto que sua estima fosse real. E eu sabia que era.

    É claro que a unilateralidade não soava de maneira confortável aos meus ouvidos, porém, enxergar que eu era especial me trazia certo alívio. Ele não tratava ninguém como objeto descartável de prazer, desde seus casinhos até suas namoradas, então não tinha nexo deduzir que eu era exceção à regra. Ele me amava sim, de um jeito ou de outro, e não merecia o meu desprezo.

      — Preciso te mostrar uma coisa, meu pãozinho de mel.  Sua voz ecoava em meu ouvido  Confia em mim, você vai adorar.

    Meu pãozinho de mel.

    É impressionante como coisas bregas se tornam incrivelmente atraentes quando estamos apaixonados, e a ideia de paparicar alguém com voz de criança já não lhe parece mais absurda, mas sim, tentadora e inevitável. Meu lado desconfiado se debatia, mas o lado sentimental só queria se afogar naquele mar de felicidade.

    E eu? Nem sequer hesitei, só me joguei em suas águas.

    Assim, convencida de que poderia confiar nele, decidi aceitar seu convite e deixei que fizesse o que planejava. Seja lá o que fosse ou aonde fosse, se exigiria determinados esforços ou não, certamente me faria trocar as lágrimas por um sincero sorriso. Esse é o grande poder de Hayato  cuidar de quem ama acima de tudo.

    Ele não pediu que eu fizesse nada, somente que sentasse e aguardasse na sala, para que resolvesse os demais detalhes sozinho. Como eu não tinha forças para oferecer ajuda nem tinha de onde tirá-la, optei por atender ao seu pedido e permaneci estática, alisando a superfície do sofá em ansiedade, enquanto o observava subir as escadas e adentrar ao meu quarto. Escutei o som dos seus passos perambulando pelo andar de cima, as portas do armário sendo abertas e fechadas, e objetos chocando-se um contra o outro durante aproximadamente dez minutos, quando sua missão finalmente chegou ao fim. Não demorou muito, mas parecia uma eternidade.

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