Red Wine

Hayato, 5.

14:00 P.M. - Casa de campo de Benjamin

    Virei churrasqueiro por um dia e minha vida mudou.

    Debaixo de um sol deliciosamente forte, eu cuidava da churrasqueira e suas grelhas repletas de bifes suculentos com maestria. Os acompanhamentos, preparados previamente pelas meninas, já estavam distribuídos em travessas bem decoradas sobre a enorme mesa de piquenique da área gourmet, faltando somente que eu fornecesse o prato principal.

    O calor que emanava da brasa e do sol me obrigara a tirar a camiseta nos primeiros minutos de trabalho, e no entanto, Elena não parecia confortável com tal decisão. Estávamos entre amigos, família, não existia motivos para ciúmes. Pelo menos ela não sabia se existia.

    Retirei as peças de carne da grelha, mal passadas como devem ser, e coloquei sobre a tábua para cortá-las. Não faça a burrada de assá-la demais, ela estraga e fica parecendo um pedaço de madeira.

    Todos estavam reunidos em volta da mesa, com seus respectivos pratos, conversando sobre teorias da conspiração e coisas absurdas que eu, particularmente, adorava. Eu sou um absurdo em forma de ser humano, e de vez em quando me assusto quando percebo o tanto de bobagem que me interessa. Se o assunto é polêmico, questionável e idiota, eu certamente possuo fascínio.

      — Paul McCartney morreu em 1966 e foi substituído por um sósia. — Soltei, enquanto pousava a tábua com carnes na mesa. — O que acham dessa?

      — Porra, Hayato, essa é pior do que a história da Terra oca. — Marvin respondeu, fazendo-os rir.

      — Pô, veja bem os fatos. — Sentei-me ao lado de Elena, dando-lhe um selinho rápido e voltando a atenção para eles novamente. — Dizem que o Paul foi embora do estúdio no meio da madrugada, depois de discutir com o John, e deu carona a uma mulher. Aí essa doida teve um ataque de histeria, porque né, era um Beatle! — Cocei a garganta, fazendo suspense — Nisso, o carro capotou e ela conseguiu sair das ferragens, diferentemente dele. Pro azar do nosso querido amigo, o carro explodiu e ele foi decapitado.

    Eles me olhavam com desdém, mas eu estava empolgadíssimo para continuar a história, dava um frio enorme na barriga. Qualquer dia eu falo da teoria da Avril Lavigne também, aguardem.

      — Daí, imediatamente depois disso, os outros integrantes foram levados ao local do acidente e o reconheceram, mortinho. E olha, ele não estava só decapitado: perdeu um olho e só restaram dois dentes em sua boca. — Dei um gole em minha bebida, sendo observado com atenção e morrendo de rir por dentro — Mas os caras queriam continuar, então tiveram a brilhante ideia de procurar um sósia do Paul em uma revista, e enquanto isso eles anunciaram uma pausa nos shows. No fim das contas, eles acharam alguém quase perfeito, que passou por umas cirurgias pra ficar cem por cento fiel ao original, e começaram a lançar pistas em seus álbuns pra "avisar" aos fãs.

      — Hm, que pistas? — Mia questionou, intrigada.

      — Então, o álbum Rubber Soul, conhece? Dizem que representa os quatro no funeral sob o ângulo de visão do Paul, morto. Já em Revolver, o cara é o único olhando para fora e só tem um olho visível. A capa do icônico Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band simula justamente um funeral. Se eu ainda não te convenci, dá uma checada nas fotos aí.

    Marvin pegou seu celular na mesma hora e digitou os nomes dos álbuns, arregalando os olhos ao ver todos os sinais que tinha descrito. É claro que eu não acreditava neste boato, mas adorava atiçar as mentes alheias com temas idiotas. Seria minha segunda opção de profissão.