Hayato, 2.

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    Levei quinze minutos para chegar até a clínica onde trabalho, no centro da cidade. Diferentemente dos demais dias, aquele começara especialmente feliz e revigorante, e nem mesmo o pequeno trânsito que enfrentei foi capaz de roubar minha paz. Tudo voltara aos eixos?

    Desci do carro e adentrei a recepção, onde duas pessoas conversavam sentadas. Identifiquei um deles instantaneamente: Jake Stin, meu primeiro paciente do expediente. Seu caso não era nada simples, uma vez que seu siso encontrava-se numa posição desfavorável e ameaçadora. Sua sorte era que eu já havia lidado com essa situação anteriormente na clínica Universitária, saindo com êxito em todas elas. Um verdadeiro mestre jedi odontológico.

      — Bom dia!  Cumprimentei, sendo retribuído em seguida por Jake e sua acompanhante.

      — Bom dia, Dr. Yoshizawa!  Clarice, nossa recepcionista, falou alegremente.

    Às 8:25 da manhã, Clarice esbanjava bom humor como ninguém. Trabalhava conosco desde a abertura da clínica, dominava todos os processos e lidava com os clientes de maneira majestosa, sem deixar a desejar. De vez em quando, dava indícios de que tinha um caso com Benjamin, mas nunca fiquei sabendo de nada.

      — Bom dia, Clarice!  Respondi, apoiando-me em seu balcão.

      — Marina já está te esperando, chegou há dez minutos.  Ela remexia em suas pastas, procurando pela minha.

    Marina era minha assistente de saúde bucal, aquela que me ajudava em todos os perrengues e preparava a sala de tortu... ops, cirurgia.

      — Rápida como sempre.  Observei-a puxar uma pasta azul marinho cuidadosamente.

      —Pois é. Ela estendeu o objeto para mim.  Aqui está. Seu primeiro paciente já o aguarda.

      — Obrigado, querida.  agradeci, piscando um olho para ela enquanto ia em direção ao corredor.

    Meu consultório ficava no fim do corredor, com porta de madeira ostentando o número 5 em metal no topo. O delicioso aroma de eugenol, famoso cheiro de dentista, já invadia minhas narinas romanticamente, roubando um sorriso do meu rosto. Só eu sei o quanto amo minha profissão.

    Antes que pudesse segurar a maçaneta, Benjamin surge de trás da porta número 4, abaixando sua máscara cirúrgica para falar comigo.

      — Ohayou, Yoshizawa-san!  Disse, alegremente.

      — Aprendeu a falar bom dia em japonês pra me seduzir, é?  Brinquei, estendendo a mão para cumprimentá-lo.  E pra você não é san, é sama!

      — Sama só é usado para pessoas muito grandiosas ou importantes, é respeitoso demais pra usar com você.  Desafiou, rindo.

      — E tá errado? Sou o deus dessa clínica, me respeita.  Disse, fazendo Ben explodir em uma gargalhada.

      — Beleza, Yoshizawa-SAMA.  Frisou o sufixo, retornando para sua sala.  Daqui a pouco apareço lá pra ver essa divindade em ação.

    Concordei, lançando um símbolo de ok com os dedos e finalmente abri minha sala, carregando minha mochila nas costas.

    Lá estava Marina, trajando seu uniforme impecavelmente branco, arrumando a bancada de cirurgia cuidadosamente. Em um mundo sem Kristines ou Elenas, Marina decerto seria uma imensa distração ao meu serviço. Possuía 19 anos, uma beleza ímpar e um perfume sensacional, que conseguia disfarçar o eugenol sem causar cefaleias. O único perfume superior ao seu era o de Kristine, um líquido vermelho contido em um frasco de vidro em formato de taça: Red Wine. Só de imaginá-lo, sentia meu corpo queimar em desejo. Seria ele feito com ostras ou amendoim para ser afrodisíaco?

Red WineOnde histórias criam vida. Descubra agora