Hayato, 13.

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Sábado - 19:23

    Marina devia ter confundido meu convite com uma proposta de casamento, porque sua demora era digna de uma noiva exigente. Saí do meu apartamento assim que recebi seu ok, já que ela dizia estar totalmente pronta, mas eu já estava a aguardando por aproximadamente 15 minutos. Minha sorte era que a rua estava tranquila, então pude reclinar o banco para aproveitar o ar condicionado e a boa música que selecionei no rádio.

    Além disso, pude dar mais atenção para Kristine no chat do jogo.

    Não tive escolha, seria insensível demais da minha parte negar seu pedido, ainda mais depois de tudo o que fora conversado na noite anterior. Ela se abriu, mesmo que parcialmente, e me contou coisas que nem Casey suspeitava, fazendo com que eu me sentisse um bombonzinho de avelã. Seria um enorme desafio estar em dois lugares ao mesmo tempo, oferecendo as mesmas doses de atenção para cada cenário, mas ela merecia isso e muito mais de mim. Nada que um bom vira-tempo não resolva.

    Aliás, um trecho em particular do seu desabafo me estimulou a continuar essa saga ela dizia estar apaixonada por um homem, e estava vacilando muito com ele ultimamente. Não sou de tirar conclusões precipitadas ou me encher de esperanças antes da hora, entretanto, confesso que fiquei positivamente desconfiado. A forma como eu pretendia descobrir as coisas era indiscutivelmente imoral, uma atitude execrável que me traria muitos problemas se fosse descoberto, e eu estava determinado mesmo assim.

    Contudo, ainda que minha conduta fosse condenável, as intenções eram boas.

    Se você pretende dizer que os fins não justificam os meios, experimente ir tomar no seu cu. É foda assistir o amor da sua vida afundando em amargura, isolada como nunca antes, e não conseguir ajudar por causa da barreira impenetrável que ela mesma criou. Eu bem que tentei fazer diferente, mas essa foi a única forma que eu encontrei para alcançar o objetivo. Me perdoem.

    De qualquer forma, naquele instante, a existência da KinyX também permitia que eu soubesse como estava minha princesinha naquela noite solitária. Não adianta, mesmo magoado com ela, eu ainda era seu fiel escravo e me preocupava muito com seu bem estar. À propósito, eu gostaria de pedir mais respeito por todos os gados do mundo, nós somos um poço de amor e zelo que move céus e terras por quem amamos.

    Enquanto eu aguardava por alguém que não era minha namorada nem minha ex, Kristine estava fritando hambúrgueres e bebericando um pouco do vinho que eu mesmo dei na semana passada. Seus planos eram ideais para um casal apaixonado  ver filmes na sala, lanchando algo gorduroso, e quem sabe até se embriagar um pouco pra ficar zero bala. Juro que largaria tudo, até minha formatura, para ficar agarradinho com ela naquele sofá, mas a vida não era muito justa comigo.

    Enfim, quando eu já estava pronto para ligar para Marina, avistei a porta de sua casa se abrindo. E a mulher que saiu de lá era indescritível.

    Quando terminei de me preparar, acreditei que não existia, no mundo, alguém mais bonito, gostoso e cheiroso do que eu. A verdade é que não existia mesmo, mas quando a vi caminhar em minha direção, concluí que alguém estava disputando este título comigo.

    Ela avançava lentamente, equilibrando-se confiantemente em seus escarpins, enquanto a fenda em seu vestido longo exibia sua perna esquerda de maneira sensual. Os cabelos ondulados desciam pelos ombros, perfeitamente alinhados e arrumados, e o sorriso em seu rosto a deixava ainda mais encantadora.

    Entretanto, ainda que ela fosse a legítima personificação de Amaterasu  Deusa do sol e do universo na crença xintoísta , eu não senti uma pontada sequer de interesse. Sei lá, vê-la daquele jeito era como encarar a Kanna Hashimoto de perto, já que eu a achava impressionante ao mesmo tempo que não conseguia me imaginar aos beijos com a mesma. Não me pergunte o motivo, eu também não faço a menor ideia.

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