Hayato, 4.

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05:20 A.M - Residência dos Mondego

    O grande dia havia chegado, e não era o meu casamento.

    No centro da mesa de café da manhã, entre pães, biscoitos e xícaras de porcelana, um mini bolo de chocolate ostentava duas velas acesas formando o número 23.

    Na noite passada, Marvin dissera que o bolo comprado no supermercado seria para o café da manhã, e o trouxa aqui caiu em sua lábia. As velas? Reaproveitadas de aniversários anteriores da família, daquelas que guardamos por anos em potes de vidro no armário. Gestos como aquele confirmavam que, no fundo, as melhores e mais significativas declarações de carinho pelas pessoas são singelas.

    À propósito, você deve estar se perguntando como ele não me viu pegar a garrafa de Jacques Charlet Bourgogne que dei à sua irmã, se estávamos fazendo compras juntos. É simples: sou inteligente. Assim que terminamos de guardar as sacolas na mala do carro, fingi ter esquecido um refrigerante que, supostamente, ela me pedira mais cedo. Embalei o conteúdo cuidadosamente numa bolsa e consegui enganá-lo sem muito trabalho. Voilà.

    Fiz isso porque estava feliz com seu retorno no dia anterior, por ter aceitado viajar conosco e porque ela amava vinhos Pinot Noir. Era uma forma de mimá-la por não nos abandonar.

    Por não me abandonar, mais especificamente.

    Ainda com o cabelo bagunçado e o rosto amassado como um pão dormido, fui até a mesa coçando o olho e rindo feito uma criança recebendo uma festa surpresa. Na verdade, era basicamente isso que eu era mesmo.

      Feliz aniversário, Ultraman!  Mia, naturalmente eufórica, correu para me abraçar forte, mastigando um pedaço de pão.

    Era divertido ser descendente de japonês naquela casa, eu recebia apelidos de personagens icônicos o tempo inteiro, e eles nunca se repetiam. Já fui Goku, Naruto, Jiraya, Godzilla, Pikachu, Hello Kitty... Hoje eu era o Ultraman.

      — Obrigado, doida.  Abracei-a de volta, buscando retribuir o carinho na mesma medida.

    Quando ela se afastou, animada, foi a vez de Marvin.

    Ele era meu irmão de alma, não tinha como negar. Éramos muito diferentes em vários aspectos, mas aquilo fazia nossa amizade funcionar incrivelmente bem. Ele era mais sério, centrado, impulsivo e um pouco cabeça quente, mas era uma das melhores pessoas que conheci no universo. Solidariedade, empatia, zelo e prestatividade eram suas marcas registradas, e não existia nada que ele não pudesse fazer por você. Sua amizade era muito especial para mim, sempre foi.

    Ele estendeu seus braços e me abraçou, dando tapas fortes em minhas costas, de forma bruta. Nada de novo sob o sol.

      — Parabéns, irmão. Você é foda.  Sua voz estava rouca por ter acordado recentemente.

      — Valeu, cara.  Sorri, alegre com aquela demonstração rara de afeto.

    O bolo e as velas me aguardavam, e eu não queria deixá-los esperando.

    23. Duas pequenas chamas no topo que foram apagadas com um sopro leve.

    Parece muita coisa, uma criança diria que com 23 anos seria uma completa adulta, mas eu não me sentia assim. Cresci, evoluí como ser humano e tomei decisões importantes, mas tinha a sensação e a certeza de que minha vida só estava começando. Muita coisa ainda aconteceria, muitos arrependimentos viriam e muitas metamorfoses seriam necessárias.

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