DOMINGO - 17:23
Eu sei que não tô bem quando só consigo falar no meu idioma nativo.
Desde a pré-adolescência, quando a ideia de fazer intercâmbio começava a ser semeada em minha cabeça, eu decidi estudar outras línguas por conta própria. Fiz isso não somente para ajudar a mim mesmo no futuro, mas também porque sempre fui apaixonado pela pluralidade de linguagens existentes, o que foi cultivado pelos meus pais desde o meu nascimento. Sim, nós estudamos inglês na escola, mas os professores, em geral, se preocupam apenas com a gramática e o vocabulário, deixando a conversação um pouco de lado.
Dessa forma, para alcançar a excelência e ostentar outros idiomas em meu histórico, virei autodidata e alcancei o título de poliglota aos 17 anos, adquirindo fluência em cinco línguas diferentes. Foram anos e anos exercitando para que eu perdesse o sotaque, e, ainda assim, ele acaba aparecendo de forma bem clara quando digo algumas palavras.
Enfim, não tô falando pra me gabar, até porque 2 desses 5 me foram ensinados desde a infância — meu pai é descendente de japonês e cuidou para que eu crescesse bilíngue. O que estou querendo passar é que, mesmo sabendo tantas palavras, expressões e gírias diferentes, eu só conseguia falar japonês quando estava abalado. Seja positiva ou negativamente.
Por esse motivo, mesmo horas depois de Kristine ter saído pela porta da frente, eu ainda estava pensando em japonês e sussurrando uma canção que cantávamos muito quando pequenos, parecendo uma criança do youchien — uma espécie de jardim de infância.
— Yuuyaaaake koyakeeee no... aka tooombo. — Murmurava, escutando o ritmo passeando pelo meu inconsciente. — Owareeeete mita noooo, wa itsu nooo hi kaaa.
Eu estava encarando a TV sem prestar atenção na programação, completamente imerso no vazio do meu cérebro, que só projetava a imagem da libélula vermelha descrita na música. Se um simples beijo daquela mulher já tinha feito um estrago desses, eu não conseguia nem imaginar o que aconteceria se a gente tivesse transado. Provavelmente eu já estaria na UTI ou morto e cremado em Hamamatsu.
Foi nesse momento, durante minha crise de identidade, que o toque do meu celular tratou de me acordar com um susto. A intro de Smells Like Teen Spirit berrava em meus ouvidos, fazendo o aparelho vibrar freneticamente no sofá, o que devolveu minha lucidez em questão de segundos. Nirvana tem esse poder em mim e sempre terá, de um jeito ou de outro.
Quando o tomei em minhas mãos, encarando o visor antes de atender a chamada, me deparei com uma fotografia que acompanhava um contato inesperado: Ellie.
Sim, era minha ex, Elena. Havíamos terminado há pouco tempo, e nosso relacionamento, a partir daí, se resumia a poucas mensagens descompromissadas durante o dia. Uma ligação era algo inédito.
— Moshi-moshi. — Atendi no automático, percebendo instantaneamente o erro. — Aliás... Alô?
— Moshi-moshi, Yato! — Ela riu. — Tá em casa hoje?
Por que ela queria saber se eu estava em casa? Suspeito, muito suspeito.
— Ahn, sim... — Afirmei, confuso.
— Ótimo! Posso dar uma passada aí? — Perguntou animada. — Tive que vir numa loja aqui perto, e pensei em te visitar rapidinho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Red Wine
RomanceQuão condenável é ter vinte anos de idade e apaixonar-se pela irmã de seu melhor amigo, cinco anos mais nova? E quão torturante é ter de sufocar seus sentimentos por julgar ser improvável que alguém tão mais maduro se interesse por você? Dominados p...