Kristine, 8.

35 6 6
                                    


10:08 P.M.

    Ser tocada por alguém que você ama é eletrizante, seja qual for a natureza do toque.

    O calor de sua mão em meu pulso foi capaz de me fazer repensar, por milésimos de segundos, se eu estaria agindo certo em afastá-lo de mim tão repentinamente. Cortar uma conexão profunda demandava muita determinação e força, e eu, francamente desconfiava da minha capacidade. Mas eu estava convicta de que isto era indispensável, e soube disso quando desfiz nosso contato e lembrei-me da dor que precisei sentir.

    A rispidez em minha reação não fora planejada, eu só queria livrar-me da angústia rapidamente, para que não houvessem brechas a serem aproveitadas por ele. Evitei contatos visuais, conversas e aproximações físicas com o objetivo de permitir que a ferida começasse a se fechar sem interrupções, ansiosa pelo dia em que ela deixaria de doer.

    Eu só não era tão ingênua a ponto de achar que conseguiria deixar de amá-lo. Entenda que tentar mandar nos próprios sentimentos é inútil, eles sempre te pregam peças apenas para reforçar o poder que possuem sobre seus atos. Experimente tentar esquecer um amor e perceberá como tudo irá conspirar contra a sua investida.

    Assim, concedi ao tempo a incumbência de cuidar do meu coração, pronta para seguir com toda a fé que nascera e crescera comigo. Nem sempre podemos escolher o que a nossa alma reivindica, é importante também saber negar os seus anseios, para que não soframos consequências mais graves futuramente.

    Acredito que qualquer um saiba o quanto é desgastante tomar tantas pauladas sucessivas, como se houvesse um alvo colado em sua testa, implorando para ser alvejado. Ter sido agredida, usada e perseguida num espaço tão curto de tempo me nocauteou, e o sabor doce da vida deu lugar a um violento amargor que batalhava incessantemente pela minha queda.

    Eu estava esgotada. E pessoas esgotadas fazem decisões tolas.

    Por conta do excesso de aborrecimento e fadiga mental, resolvi acompanhar Casey naquela festa absurda, projetada numa rua afastada de residências e estabelecimentos. A ampla área arborizada e vazia em seu entorno provavelmente pertencia à mesma pessoa, o que poderia explicar a distância das demais construções e o capricho empregado na decoração e manutenção do jardim. Notar que estávamos isolados não era reconfortante, mas isso evitava que policiais aparecessem para encerrar a curtição por reclamações dos vizinhos. Não se pode ter tudo.

    Mesmo depois do choque recebido com a mensagem intimidadora de Nathan, lá estava eu. Confesso que fui acometida por uma taquicardia intensa e transpirei em pavor com seu recado, que fora lido diversas vezes devido à minha incredulidade. Quis vomitar, sumir e chorar, certa de que me meti numa furada desmedida quando aceitei ser sua namorada, e esta noção não estava errada. Ele fora louco o suficiente para pressionar minha garganta com seus dedos, e eu não questionaria sua capacidade de se tornar um maníaco perseguidor.

    Entretanto, respirando fundo e buscando controlar-me, senti o pavor dando espaço para a calma e a certeza de que eu estava segura, pelo menos por ora. A primeira ameaça nunca é seguida por uma atitude, e eu sabia que ele não faria nada comigo enquanto eu estivesse acompanhada, seja lá quem estivesse comigo. Dessa forma, com um simples toque na tela, deletei sua mensagem e tentei voltar para meus afazeres, esforçando-me para arrumar uma distração para os pensamentos turbulentos.

    Além da distração, a quantidade de pessoas em volta me conferia certa proteção contra ele. Tudo bem, são desconhecidos e podem muito bem me fazer mal, mas eu gostava de ser otimista ocasionalmente. Nem parece que tenho medo de morrer.

Red WineOnde histórias criam vida. Descubra agora