Hayato, 12.

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12:26 - Sexta-Feira


    Eu fico muito gostoso de roupa social, e o Benjamin concorda comigo.

    Durante nosso horário de almoço, logo após devorar uma incrível refeição no restaurante da esquina, fomos até o atelier onde eu havia reservado meu terno para a festa. Os últimos ajustes haviam sido feitos, restando apenas que eu provasse para analisar se faltava mais alguma coisa, pois só assim eu poderia retirá-lo na manhã seguinte.

    Dentro do provador, olhando-me no espelho de cima a baixo com trajes tão elegantes, desejei que voltássemos aos anos 40 só para que os ternos fossem novamente usados como roupas casuais. Um homem nunca saberá o quanto é bonito e másculo enquanto não vestir um conjunto formal na vida, e digo isso porque era a primeira vez que eu me sentia irresistível.

    Mentira, eu me sentia assim frequentemente.

    Ao abrir as cortinas, fazendo a melhor pose de Don Juan já vista na Terra, recebi assobios de aprovação vindos de um Benjamin animado e orgulhoso. Ele agia como meu pai, só que com olhos bem mais abertos e claros.

      — Nossa, esse é o Imperador do Japão?  Brincou, inclinando a cabeça.

    Talvez eu fosse uma versão mais jovem do Akihito, mas não possuía o mesmo prestígio que ele, já que ninguém iria pra minha festa de formatura. Tô magoado sim, Kristine Mondego.

    Aliás, o atual imperador é o Naruhito, mas durante essa narração, Akihito ainda não havia renunciado ao seu posto. Eu também sirvo para dar informações legais, de vez em quando.

      — Pô, eu não tô parecendo o CEO de uma empresa de tecnologia?  Perguntei, olhando os detalhes do tecido.

      — Melhor que o Tim Cook, parceiro.

    Eu havia escolhido uma combinação de peças em preto, e ao contrário do que pensei, fiquei ainda mais elegante do que se tivesse optado por outras cores. Se levássemos essa história de usar branco até para o evento, ficaria parecendo que estaríamos comemorando o ano novo, só que sem fogos de artifício às 00:00. O ensaio fotográfico com jalecos já havia sido feito, e eu prometo que logo deixo uma palhinha pra adoçar a boca de vocês.

      — Então tá ok.  Concluí, referindo-me ao costureiro.  Pode manter assim mesmo que tá sinistro.

      — Sim, senhor.  Ele concordou.  Vou só pegar o contrato pra assinar, e já volto.

    Com um aceno de cabeça, o funcionário se retirou e nos deixou sozinhos na sala, enquanto eu me admirava por ser um grande gostoso. Claro que eu deveria tirar a roupa nesse meio tempo, já que a visita terminaria logo após a assinatura, mas eu estava adorando aquela sensação de poder. Se um charuto cubano brotasse do chão, eu certamente acenderia e colocaria na minha boca, como um típico mafioso italiano. O certo seria eu dizer Yakuza, mas não tenho tatuagens.

    Daí, no momento em que encarei meus próprios olhos no reflexo, tive uma crise existencial. A única pessoa que me acompanharia era Ben, e querendo ou não aquele era um momento especial em minha vida. Gastei boas moedas para contribuir na realização, na expectativa de que todas as pessoas que amo estivessem lá para desfrutar de tudo, comer até estourar e encher a cara com os coquetéis, e no fim acabei nesse buraco. Por mais que eu entendesse seus motivos, era inevitável frustrar-me com o rumo das coisas, e minha animação era visivelmente menor agora. Poor Hayato.

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