Hayato, 6.

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10:00 A.M. - Casa de Campo de Benjamin

    Nunca mais eu bebo hoje. Juro.

    A ressaca estava tão violenta que demorei para levantar da cama, tomado pelas dores de cabeça, náuseas, tontura e mal-estar. Como se não bastasse este lindíssimo combo de desgraça humana, eu ainda sofria com a fotofobia. Me senti como o Drácula exposto ao sol.

    Não sei quando vesti aquilo, mas um confortável roupão branco cobria parcialmente meu delicioso corpo, deixando-o bem quentinho para suportar o ar condicionado. Ainda que eu estivesse adorando usá-lo, precisaria me trocar antes de descer e me juntar aos demais, já que seus olhos saltariam das órbitas ao vislumbrar algo tão esplendoroso.

    Soltando a faixa da cintura, retirei o roupão com muito custo e o substituí por apenas uma bermuda, optando por levar a camiseta dobrada sobre o ombro para vestir depois. Minha boca estava mais seca que o Saara, e eu necessitava de um copo de água o mais urgentemente possível.

    Exaurido, saí em direção ao andar de baixo arrastando os pés pesadamente, sentindo minha cabeça e estômago revirarem. A maior desvantagem em encher a cara é a sensação de morte que acompanha a aventura, tão persistente que quase te convence a nunca mais virar umas garrafas. Ainda bem que não dou ouvidos à minha consciência.

    O aroma de café recém passado vagueava pelas escadas, e se eu não estivesse tão enjoado sentiria um prazer indescritível instantaneamente. Adoraria poder degustar uma xícara de expresso e comer um pedaço de bolo, mas naquele estado era inconcebível pensar em desafiar meus limites, ainda mais porque esta combinação poderia piorar meu quadro.

    Agarrado ao corrimão, desci cada degrau lentamente tentando não tropeçar e me estatelar no chão como uma batata. Ali perto, o som das louças e as vozes de cada um se destacavam me dando a certeza de que o único fodido que acordara ao avesso fora eu. Como sempre, só o Hayato recebia chicotadas das bebidas alcoólicas que resolvia ingerir.

    Escorando-me exageradamente pelas paredes, alcancei a cozinha já exausto. É claro que eu, como um bom homem, maximizo o sofrimento real como se estivesse morrendo, mas isto não invalidava a seriedade da coisa. Durante um parto, a mulher finalmente será capaz de entender a dor de um homem com gripe (ou ressaca).

    Como se eu já não estivesse na mão do palhaço, a iluminação que atravessava as vidraças do cômodo forçou-me a apertar os olhos e contorcer o rosto em agonia, dada a aversão à luz que me dominava. Sabe o Superman com a Kryptonita? Era eu com a claridade.

    Meu corpo estava tão abatido que eu não sabia de onde tiraria forças para chegar até a cadeira, mas estava determinado a conseguir completar esta tarefa com louvor. Ver a garrafa de água gelada suando sobre o tampo de madeira foi como encontrar um oásis no deserto, me impulsionando a fazer um esforço extra para alcançá-la.

      Bom dia, gostoso!  Marvin gritou, sorrindo largamente.

      — Ayayay, que muchacho caliente Mia emendou.

    Incrível como esse par de idiotas me fazia gastar a energia restante com uma gargalhada, e de quebra ainda me deixavam muito encabulado com suas piadinhas. Não é evidente, mas sou incrivelmente tímido e não sei receber elogios, mesmo quando eles são sinceros e não mera chacota. Pareço confiante e convencido, mas, no fundo, não me acho tão sensacional assim. Se pudesse colocar em uma escala, diria que sou só 95% sexy.

      — Bom dia, pessoal...  Respondi, jogando-me na cadeira ao lado de Marvin, enquanto recebia um beijo de Elena.

    Consegui, cheguei até meu destino final. Não, eu não queria comer. Mesmo.

Red WineOnde histórias criam vida. Descubra agora