Sábado - 22:13
Eu pareço um pai de primeira viagem: é só ouvir minha bebê chorar que eu corro para satisfazer as vontades dela, e nem mesmo um bar regado a álcool é capaz de me impedir.
Aquele solucinho quase inaudível cortou meu coração, pois além de indicar que estava visivelmente mal, também denunciava que a situação estava tão grave que ela não conseguiu disfarçar. Demonstrar fraqueza na frente dos outros era inadmissível para Kristine, e se eu fui escolhido para testemunhar aquilo, minha obrigação era largar tudo para cuidar dela.
Mesmo sem saber o motivo do seu sofrimento, queria que ela soubesse que eu estaria ali, ao seu lado, para ajudá-la a superar o que quer que fosse.
Se um caco de vidro cortasse seu dedinho, eu estaria lá para limpar o ferimento e aplicar o curativo.
Se um osso do seu corpo se quebrasse, eu estaria lá para fazer os primeiros socorros e levá-la a um hospital.
Se seu coração fosse partido... Bem, eu partiria a cara do desgraçado.
Por isso, ávido por encontrá-la o mais rápido possível, meti-me entre os colegas de turma procurando por Benjamin, que permanecia no mesmo lugar desde o início da festa. Meu desespero era tão grande que eu nem notei os rostos que me encaravam, e sequer ouvi as vozes que saíam de suas bocas, como se todos fossem borrões insignificantes que atrapalhavam minha missão final. A única coisa que me importava era achar meu amigo, para que assim pudesse prosseguir.
E, graças à cachaça liberada, não precisei me esforçar muito.
Abrindo espaço no meio da multidão, dirigi-me até o homem mais animado do recinto, que parecia sóbrio mesmo após encher sua cara. A ideia de deixar Marina sob seus cuidados tentava me perturbar, até porque ele desconhecia a palavra limite quando se tratava de bebida, mas no fundo eu sabia que poderia confiar. Ainda que estivesse completamente bêbado, apoiando-se nas paredes para chegar em casa, ele era um verdadeiro cavalheiro e jamais admitiria que ela corresse qualquer perigo. Ele cuidaria dela assim que eu pedisse, a olharia como se fosse uma criancinha numa festa infantil, e, no fim, pediria um Uber para que voltasse em segurança.
Assim, certo de que a deixaria em boas e loucas mãos, alcancei seu ombro e me aproximei, precisando aumentar o tom de voz para ser ouvido.
— Ben, preciso ir embora agora! — Gritei, demonstrando urgência. — Cuida da Marina pra mim!
Assim que terminei de dizer a última frase, Ben virou-se e me encarou com o cenho franzido, visivelmente desconfiado. Para ele, a única razão plausível para abandonar uma comemoração daquelas seria a morte de algum familiar, então, vendo minha reação, não pôde deixar a preocupação de lado.
— O que tá rolando?! — Questionou, arregalando os olhos.
Claro que eu não ia dizer, né? Assumir que está agindo impulsivamente por amor é muito mal visto, e eu meio que não estava a fim de enrolações. Eu cuidaria dele depois.
— Emergência. — Contornei, dando dois tapinhas em suas costas. — Depois te explico!
Depois eu invento uma desculpa — pensei — nem tudo precisa ser exposto.
Dessa forma, antes que ele pudesse contestar, deixei-o para trás com suas taças e corri para longe do salão, esbarrando em alguns corpos durante o percurso. Atravessei o jardim a passos largos, convicto de que Marina ficaria imensamente chateada comigo, mas não vacilei — segui firme até o concreto do estacionamento, e só parei quando meus dedos encostaram na maçaneta do carro.
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Red Wine
RomanceQuão condenável é ter vinte anos de idade e apaixonar-se pela irmã de seu melhor amigo, cinco anos mais nova? E quão torturante é ter de sufocar seus sentimentos por julgar ser improvável que alguém tão mais maduro se interesse por você? Dominados p...