Décimo Oitavo Capítulo

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Senti o impacto de cair em cima do feno, mas quando o corpo de Caleb se chocou comigo, fiquei sem ar. E não de um jeito bom. Ele rapidamente se aprumou, ajoelhando-se ao meu lado. Seus dedos corriam pelas minhas costelas enquanto eu arfava. 

- Marina, você está bem?- disse com o rosto contorcido de preocupação. Seus olhos escrutinavam-me, possivelmente procurando alguma lesão.

- Es...tou.- disse, com dificuldade. Ele me ajudou a sentar e passou a mão pelo meu cabelo.

- Eu sinto muito, não sabia que abriria. - falou, com os olhos aflitos.- Você se machucou? Vou mandar chamar Lucas.- Caleb se levantou, mas eu segurei sua mão, puxando-o para baixo. A última coisa que eu queria é ter que explicar para meu tio como cai. 

- Calma, foi só... a pressão.- eu ainda respirava fundo em busca de ar.- O feno absorveu... a queda.- ele sorriu, mas não era um sorriso verdadeiro. Seus olhos estavam preocupados. 

- Me desculpe Marina, eu...- falou, martirizado. Pousei um dedo em seus lábios.

- Está tudo bem. A única coisa ferida é meu orgulho.- corei envergonhada, a respiração se normalizando. Caleb meio gemeu, meio riu, parecendo frustrado, mas quando me mirou, seus olhos tinham ternura. 

- O que posso fazer para recompensa-la?- falou, entrelaçando nossos dedos. Aquilo me hipnotizou. Parecia tão certo, parecia que aquela mão fora feita para... Pisquei. Eu não podia me apegar assim, não tão rápido.

- Esquecer-se do acontecido?- tentei, massageando o pescoço. Nós ficamos olhando um para o outro e começamos a rir. O riso de Caleb aquecia meu coração, era sincero e chegava aos olhos, deixava-o ainda mais lindo do que já era. 

- Estou fazendo tudo errado, não é? Eu deveria leva-la para passeios, corteja-la em sua casa, enviar cartas... Não ataca-la dessa forma.- disse, com as sobrancelhas unidas, olhando para nossas mãos. Uma esguelha de tristeza atingiu meu coração.

- Você se arrepende?- falei em um sussurro. Eu sabia que aquilo não era o que o decoro permitia, mas... eram momentos. Os únicos que nós tínhamos. Um começo. E eu os apreciava tanto, simplesmente não podia ouvir que ele os rejeitasse. Ele me olhou, parecendo entender o que se passava em meu coração. 

- Não! De jeito nenhum!- suas mãos formaram uma concha em volta de meu rosto, fazendo-o corar. Meu coração palpitou em resposta ao seu toque.- Eu me deleito em cada momento ao lado da senhorita.- sorri. Saber daquilo me trouxe confiança. 

- Então, qual é o problema?- perguntei, olhando fundo naquelas esmeraldas. Não sabia o motivo, mas eu sempre me sentia quente a seu lado, ainda mais quando me encarava daquela forma, um misto de franqueza e ternura. 

- Você merece mais. Muito mais. Mais do que encontros que acabam em quedas, ataduras...- falou, com uma sinceridade desconcertante. Não estava acostumada a isso, geralmente as pessoas dão voltas para tratar de assuntos, parecendo pisar em ovos. Mas ele não, Caleb enfrentava sem medo. Eu o admirei ainda mais por isso. Então a atmosfera começou a ficar densa, aquela tensão que sempre nos envolvia, se avolumava cada vez mais. Ele me mirava com o mesmo olhar de minutos atrás, as esmeraldas chispando com algo que não consegui identificar. Senti nossa respiração ficar mais rápida, inconstante e eu sabia o que vinha depois. E, oh, como queria o depois daquilo!

- Patroinha?- a cabeça de Isaac surgiu, por cima das divisórias das baias. Virei-me num átimo, em pânico. Oh não! 

- O-oi Isaac - falei com o coração batendo como louco, pensando nas possibilidades do fim da vida do senhor Montini. Porque é isso que aconteceria se papai soubesse de nosso estado atual.  

AguardadaOnde histórias criam vida. Descubra agora