Naquela noite fiquei encarando a janela. Me convenci que a greta que deixei aberta era para a brisa da noite entrar, mas caso outra pessoa entrasse por ela seria uma agradável surpresa também. Conforme o tempo passava e a vela ia diminuindo, o sono me sobreveio. E com ele as imagens começaram a se formar em minha cabeça.
Caleb estava correndo na chuva. Suas botas batiam firmemente contra a grama molhada e a camisa branca se colava no peito. Seus cabelos estavam negros como a noite e pingavam sobre suas sobrancelhas franzidas. Os olhos verdes estavam perturbados, parecendo em pânico enquanto olhava para um ponto no horizonte. As imagens se repetiram diversas vezes, até que a visão começou a virar. Quando o sonho começou a focar, despertei repentinamente. A luz do sol banhava minha pele descoberta e o canto dos pássaros estavam bem alto. Peguei o relógio na gaveta do criado-mudo rapidamente. 10:30! Oh não, havia perdido desejum! Murmurei, dando um salto da cama. Agarrei o primeiro vestido que vi pela frente e comecei a colocar todas as peças que o acompanhavam. Decidi usar um espatilho com as faixas laterais e a bota marrom com as meias brancas. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo e o adornei com uma bela fita perolada. Apenas quando me olhei no reflexo que percebi o roxo radiante que emanava de mim. O corte era reto e bem acinturado e não tinha mangas, apenas duas alças que caiam graciosamente sobre os ombros. De onde aquele vestido havia aparecido? Balancei a cabeça, apressando-me no corredor. Cheguei a sala de jantar e não havia ninguém ali, mas a mesa ainda estava posta. Sentei-me, comendo o mais rápido possível. Onde todo mundo havia se metido? Limpando minha boca, fui até a cozinha em busca de informações. Encontrei Mada e Ise trabalhando em algo que parecia chá, biscoitos e bolinhos.
- Bom dia.- falei, sentando-me no banquinho.
- Bom dia, menina. Esta atrasada.- Mada lançou-me um olhar cortante. Dei de ombros.
- Não é minha culpa se dormi até mais tarde. Não é algo que eu controle.
- Sei...- ela cerrou os olhos e ouvi uma risadinha de Luise.
- Onde estão todos?- perguntei, mordiscando uma uva.
- O senhor seu pai está cuidando dos novos garanhões e ensinando Anthony a administrar o estábulo. A senhorita Ana Laura saiu com sua tia Elisa para fazer alguma compras. Elas não quiseram te acordar.- a governanta enumerava, algo que me divertiu muito.- E a senhora sua mãe está tomando chá no jardim com a senhora Lima.- assim que Mada disse isso, engasguei com um pedaço da fruta, fazendo ruídos nada delicados. Elas vieram a meu encontro, levantando meus braços e batendo nas minhas costas. Tossi até sentir o alívio na garganta.
- Como assim?- disse rouca e bem alarmada. Aquela mulher era uma peça muito importante na vida de Caleb.
- Sofia soube que a senhora Lima esteve aqui. Como você conhece bem a sua mãe, saberia que ela não deixaria passar a oportunidade de conhecer uma possível concorrente.- Mada me olhou de esguelha, oferecendo um copo de água. Beberiquei.
- Acho que vou me juntar a elas. Até mais.- pulei do asseto, quase correndo para a porta. O que ela acharia de mim? E se soubesse que dormi até aquela hora... Oh carambolas. Tinha que encontra-las! Inspecionei o jardim, até que vi duas damas sentadas a mesa redonda em baixo do ipê-branco. Respirei fundo e segui com o máximo de calma que reuni. Não foi muita. Mamãe foi a primeira a notar minha presença, sorrindo para mim.
- Bom dia, Nina!- ela saldou, indicando o espaço vago a seu lado para mim.- Senta com a gente.- sorri educada e fiz uma mesura para a senhora Lima, que me observava com certa curiosidade.
- Bom dia mamãe, senhora Lima. Como vai? É um prazer revê-la.- ri, nervosa, acomodando-me na cadeira e ficando entre as duas.
- Estou muito bem, senhorita Marina. Obrigada. Estávamos falando de sua pessoa nesse instante.- ela disse, com um sorriso contido, mas os olhos pareciam ter um brilho de divertimento. Corei. Minhas mãos suavam e o coração palpitava nervoso.
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Aguardada
RomansA história de Marina Alonzo Clarke. Nina nunca foi uma pessoa propensa as regras do século 19. Diferente da irmã Analu, sempre foi mais "saidinha", nas palavras de Sofia. Agora com 18 anos, ela enfrentará o maior desafio de sua vida, conhecendo algo...