Trigésimo Primeiro Capítulo

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Naquela noite fiquei encarando a janela. Me convenci que a greta que deixei aberta era para a brisa da noite entrar, mas caso outra pessoa entrasse por ela seria uma agradável surpresa também. Conforme o tempo passava e a vela ia diminuindo, o sono me sobreveio. E com ele as imagens começaram a se formar em minha cabeça. 

Caleb estava correndo na chuva. Suas botas batiam firmemente contra a grama molhada e a camisa branca se colava no peito. Seus cabelos estavam negros como a noite e pingavam sobre suas sobrancelhas franzidas. Os olhos verdes estavam perturbados, parecendo em pânico enquanto olhava para um ponto no horizonte. As imagens se repetiram diversas vezes, até que a visão começou a virar. Quando o sonho começou a focar, despertei repentinamente. A luz do sol banhava minha pele descoberta e o canto dos pássaros estavam bem alto. Peguei o relógio na gaveta do criado-mudo rapidamente. 10:30! Oh não, havia perdido desejum! Murmurei, dando um salto da cama. Agarrei o primeiro vestido que vi pela frente e comecei a colocar todas as peças que o acompanhavam. Decidi usar um espatilho com as faixas laterais e a bota marrom com as meias brancas. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo e o adornei com uma bela fita perolada. Apenas quando me olhei no reflexo que percebi o roxo radiante que emanava de mim. O corte era reto e bem acinturado e não tinha mangas, apenas duas alças que caiam graciosamente sobre os ombros. De onde aquele vestido havia aparecido? Balancei a cabeça, apressando-me no corredor. Cheguei a sala de jantar e não havia ninguém ali, mas a mesa ainda estava posta. Sentei-me, comendo o mais rápido possível. Onde todo mundo havia se metido? Limpando minha boca, fui até a cozinha em busca de informações. Encontrei Mada e Ise trabalhando em algo que parecia chá, biscoitos e bolinhos.

- Bom dia.- falei, sentando-me no banquinho.

- Bom dia, menina. Esta atrasada.- Mada lançou-me um olhar cortante. Dei de ombros.

- Não é minha culpa se dormi até mais tarde. Não é algo que eu controle. 

- Sei...- ela cerrou os olhos e ouvi uma risadinha de Luise.

- Onde estão todos?- perguntei, mordiscando uma uva.

- O senhor seu pai está cuidando dos novos garanhões e ensinando Anthony a administrar o estábulo. A senhorita Ana Laura saiu com sua tia Elisa para fazer alguma compras. Elas não quiseram te acordar.- a governanta enumerava, algo que me divertiu muito.- E a senhora sua mãe está tomando chá no jardim com a senhora Lima.- assim que Mada disse isso, engasguei com um pedaço da fruta, fazendo ruídos nada delicados. Elas vieram a meu encontro, levantando meus braços e batendo nas minhas costas. Tossi até sentir o alívio na garganta. 

- Como assim?- disse rouca e bem alarmada. Aquela mulher era uma peça muito importante na vida de Caleb. 

- Sofia soube que a senhora Lima esteve aqui. Como você conhece bem a sua mãe, saberia que ela não deixaria passar a oportunidade de conhecer uma possível concorrente.- Mada me olhou de esguelha, oferecendo um copo de água. Beberiquei. 

- Acho que vou me juntar a elas. Até mais.- pulei do asseto, quase correndo para a porta. O que ela acharia de mim? E se soubesse que dormi até aquela hora... Oh carambolas. Tinha que encontra-las! Inspecionei o jardim, até que vi duas damas sentadas a mesa redonda em baixo do ipê-branco. Respirei fundo e segui com o máximo de calma que reuni. Não foi muita. Mamãe foi a primeira a notar minha presença, sorrindo para mim. 

- Bom dia, Nina!- ela saldou, indicando o espaço vago a seu lado para mim.- Senta com a gente.- sorri educada e fiz uma mesura para a senhora Lima, que me observava com certa curiosidade.

- Bom dia mamãe, senhora Lima. Como vai? É um prazer revê-la.- ri, nervosa, acomodando-me na cadeira e ficando entre as duas.

- Estou muito bem, senhorita Marina. Obrigada. Estávamos falando de sua pessoa nesse instante.- ela disse, com um sorriso contido, mas os olhos pareciam ter um brilho de divertimento. Corei. Minhas mãos suavam e o coração palpitava nervoso. 

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