Sentei-me na cadeira, olhando a andança de empregados abarrotados de flores nos braços, sendo mandados por Mada.
- Temos que colocar os vasos dourados ao lado da janela, como a menina disse!- observei a pobre Mel se encolher com as broncas da governanta.
- Pegue leve Mada, o baile é só amanhã. Dá tempo!- dei de ombros, rindo de sua cara indignada.
- Oh, se sua irmã a vê falando isso! Aposto que a colocaria para...- ela desandou a falar, mas meu pensamento estava longe. Após eu e Caleb retornamos de nosso piquenique, encontramos meu pai - nem um pouco contente - me esperando na sala de estar. Desde então ele insistira a retornarmos para casa. O pior foi o longo sermão que recebi sobre ter que repousar o pé, que deveria avisar onde ia, entre outros assuntos. Eu entendia a genuína preocupação dele, mas eu sabia que ia além disso. Suspirei, pensando naqueles par de olhos verdes. Eu entendo que mal o conhecia, mas não faz mal admira-lo em meus pensamentos, faz?- ... deveria prestar mais atenção!
- Não adianta Mada, a cabeça dela tá longe.- mamãe repousou sua mão no ombro da mulher, rindo.
- Como a da mãe, não é senhora Clarke? Ah, e eu sei muito bem a causa disso! Espero que a menina seja mais ajuizada que a senhora, já que...- e começou novamente. Admirei o arranjo que Analu fazia misturando as peônias brancas, lavanda e ramos verdes variados. Os vasos dourados davam um charme a mais no ambiente, deixando-o requintado. Ela realmente tinha um dom excelente para tal coisa.- ... deve ser meus nervos novamente!
- Acho que um chazinho vai te fazer bem Mada, você precisa relaxaaaar.- mamãe massageou os ombros da governanta. Ri.
- Concordo, a senhora está muito tensa ultimamente.- apertei sua mão.- Será por causa do treinamento de Luise?- falei baixo, como se estivesse contando um segredo. O rosto dela adquiriu a cor de tomates maduros.
- Aquela minha sobrinha desatenta! Deixou a toalha perto do fogo! Onde já se viu tal coisa?- colocou a mão no peito. Luise havia se mudado para nossa residência a pouco mais de dois anos e era tão excelente quanto a tia, já que a mesma foi sua tutora.
- Nós conversamos sobre isso, já está na hora de você se aposentar.- mamãe disse com calma. Madalena estava quase roxa. O-ou.
- Me aposentar? Ora senhora Clarke, eu sirvo essa família desde que me entendo por gente! Não vou deixa-los até chegar a hora de eu partir! Para o céu!- falou, irritada. Mordi o lábio, prendendo o riso.
- Eu entendo e curto muito sua dedicação!- ela disse, divertida.- Mas... não seria bom ter um tempinho a sós? Só você e seu maridão? Reacender a chama da paixão...
- Sofia! Você só pode ter perdido o juízo!- Madalena se levantou, visivelmente ofendida, e marchou rumo a cozinha. Nos entreolhamos e caímos na gargalhada.
- Mamãe, você não deveria ter falado isso, pensei que o rosto dela iria explodir de vergonha!- limpei as lagrimas que empossaram meus olhos, devido as risadas.
- Eu não resisti Nina, ela ta tensa demais com isso. Até seu Gomes ta passando o manto pro filho.- deu de ombros, sentando-se a minha frente.
- Mas ela gosta do que faz, talvez só precise atenuar as tarefas.- minha mãe me olhou pensativa.
- Hum, pode ser...- vi seus olhos chisparem com as idéias passando pela cabeça. Comecei a observa-la. Haviam pequenas rugas, assim como marcas de expressão no rosto e seu cabelo continuava loiro e reluzente - ainda mais agora com os novos produtos da fábrica -, mas dava-se para ver os poucos fios brancos nascendo. Se eu não a conhecesse lhe daria uns 35 anos. Ela continuava a dama linda e reluzente que sempre admirei e queria me tornar.
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Aguardada
RomanceA história de Marina Alonzo Clarke. Nina nunca foi uma pessoa propensa as regras do século 19. Diferente da irmã Analu, sempre foi mais "saidinha", nas palavras de Sofia. Agora com 18 anos, ela enfrentará o maior desafio de sua vida, conhecendo algo...