O cavalo parou perto de Storm, que deu uns passos para trás, em modo defensivo. Isso me fez despertar. Podia ser um crimimoso, ou pior, um assassino! Puxei as rédeas de meu eqüino para perto. Um quase imperceptível sorriso se abriu no rosto do cavaleiro, mas não se concretizou.
- Bom dia, senhorita.- ele fez um aceno com a cabeça.
- Bom dia.- talvez se eu monstasse em Storm agora eu ainda teria chance de sobreviver. O cavalo analisou nossa estranha companhia e voltou a mordiscar a grama. Muito obrigada pelo apoio. O homem misterioso me analisou de cima em baixo e voltou a atenção para meu rosto. Provavelmente com expressão assustada. Isso pareceu mudar sua postura.
- Perdão senhorita, não quero causar desconforto. Não vou lhe fazer mal.- disse com as sobrancelhas franzidas. Pareceu sincero. Inclinei a cabeça para o lado.
- Está perdido, senhor...
- Montini. Caleb Montini.- ele sorriu. Uma covinha se revelou na bochecha direita, abrindo espaço entre a barba. Meu estômago teve uma reação estranha.- Respondendo a sua pergunta, não estou perdido. Irei visitar meu grande amigo, o senhor Guimarães.- relaxei instantâneamente. Abri um sorriso.
- Ah, claro. Está quase em seu destino, então.- percebi que seu olhar estava preso em meus olhos. Engoli seco.
- Obrigado, senhorita Marina. Precisa de ajuda?
- Não, eu...- me interrompi.- Como sabe meu nome?- disse, arredia. Outro sorriso. Parece que é meu dia de sorte.
- Bom, esta não é a primeira vez que nos encontramos.- olhei confusa.- Como não está em apuros, seguirei minha viagem. Nos vemos em breve.- ele acenou com a cabeça novamente e com um último olhar, seguiu rumo a casa de tia Lisa. Só quando não o via mais, percebi que minhas pernas estavam bambas. Com certeza pelo risco de ver meu possível assassinato. Balancei a cabeça. As vezes eu tinha idéias muito incoerentes. Montei em Storm e calvalguei com certa desconfiança. Assim que entrei no estábulo, desci apressada.
- Ei amigão, este será nosso segredinho. Não conte para meu pai, não quero que ele conte passos, certo?- pisquei pra ele e ri. Storm aproximou o focinho do meu rosto e eu o acariciei. Tirei a cela dele e pendurei no gancho. Precisava de uma boa limpeza. Peguei do bolso interno do vestido meu relógio. Oito e meia! Oh não. A casa já deve estar toda desperta! Corri para dentro e me esquivei pela porta dos fundos, entrando em meu quarto sem ser vista. Bem, quase. Trombei com Madalena, que praparava meu banho. A governanta deu um grito.
- Marina Clarke! Quase mata-me de susto menina!- conti o riso. Assim que ela deu uma olhada em meu estado, seus olhos se aregalaram.- A falta de senso foi herdada de sua mãe, isso posso lhe afirmar!- falou horrorizada. Apenas dei de ombros.
- Sabe que isso soa como elogio, certo?- ri de sua cara indignada.
- Tome seu banho e se aprume. Imagine se um cavalheiro lhe vê nesse estado?!- estanquei no lugar. Me dei conta da situação em que me encontrava quando aquele homem desconhecido me abordou. Algo se agitou em meu estômago.- Que vestido irá usar?- olhei pra ela e disfarcei a cara de espanto.
- A-acho que o azul.
- Menina, metade de suas roupas são desse tom!- ela deu uma risadinha. Fui ao armário e peguei o vestido acinturado azul celeste com linhas finas brancas.
- Ótimo, agora vá se lavar, eu pego o resto.- assenti. Madalena não parecia ter percebido meu estado aéreo. Consolei-me. Tirei as roupas e pus os tênis cuidadosamente na beirada da cama. Entrei na banheira e a água quente me saldou. Deixei meus músculos relaxarem e comecei a higiene. Madalena cantarolava uma música e dei uma risadinha baixa. A governanta estava mais que animada com meu baile. Não perdia uma oportunidade de mostrar seus dotes culinários! Me sequei e vesti as roupas íntimas. Mada me ajudou com o espartilho e com os botões trazeiros do vestido. Bufei. Nunca gostei daqueles botõezinhos minúsculos. Alisei a saia com a mão e me vi no reflexo da janela. Talvez uma trança lateral? Um coque solto? Meus pensamentos foram interrompidos pela minha irmã esbaforida estrando com tudo pela porta.
- Ainda bem que está aqui! Pensei que ainda estivesse cavalgando. Temos que nos apressar!- Analu estava com seu vestido lilás e as mechas loiras presas em um rabo. Um rabo bem torto. Comecei a rir.
- Qual o motivo da pressa?- virei-a e ajeitei o penteado.
- Nosso primo, aquele da família de mamãe, vem nos visitar.- franzi o senho.
- Mamãe os achou?- Pelo o quê eu sabia, não tinha dado nenhum resultado. Minha irmã me fez sentar na penteadeira e pegou forquilhas.
- Ele respondeu em carta. Acabaram de chegar!- ela pulou de entusiasmo.
- Eles já estão aqui?- arregalei os olhos.
- Não, as cartas! As cartas que chegaram.- rimos. Madalena recolheu o vestido sujo e olhou com desaprovação para os tênis.
- Tudo bem Mada, pode ir. Eu os levo.- ela assentiu, desgostosa por sinal, e se retirou. Com um último aperto nos cachos, Analu sorriu. Olhei no espelho e o meio rabo com a parte inferior do cabelo solta me fez sorrir também.
- Agora vamos! Temos que tomar o desejum, terminar os arranjos e você ainda não me contou o conteúdo da carta!- ela pegou minha mão e saiu puxando-me pelo corredor. Quando chegamos a porta da sala, nos aprumamos. Meu coração deu uma palpitação a mais ao lembrar da carta. Sorri timidamente.
- Depois lhe mostro.- ela assentiu e ficou me observando com as sobrancelhas erguidas.
- Parece-me promissora. O sorriso a entrega Nina!- ela sorriu com covinhas. Dei de ombros. Aliás, o quê mais eu poderia fazer? Entramos na sala e meus pais já estavam lá. Mamãe que comia contente, com a boca cheia, sorriu.
- Bom dia!- Analu saldou e beijou o rosto dos dois.
- Bom dia Analu.- nosso pai disse contente e me mirou. Dei um beijo na bochecha de mamãe. Dei outro na de papai e ele serrou os olhos.
- Bom dia pai.- falei confusa.
- Bom dia Nina.- ele continuou me olhando com aquela expressão. Mamãe parou de mastigar e ficou olhando de mim pra ele.- Como Storm se comportou?- ele uniu as mãos em baixo do queixo. Lá vem.
- Bem, muito bem.- falei desconfiada. Ele concordou e levou um pouco de comida à boca. Mastigou como se ponderasse sobre um assunto importante.
- A cavalgada foi tranquila? Encontrou alguém no caminho?- então pôs seus olhos escuros nos meus. Por um momento cheguei a pensar que Storm poderia ter contado algo. No momento seguinte recordei-me que cavalos não falam. Então só me restou uma opção. Ele me viu. Ótimo.
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Aguardada
RomanceA história de Marina Alonzo Clarke. Nina nunca foi uma pessoa propensa as regras do século 19. Diferente da irmã Analu, sempre foi mais "saidinha", nas palavras de Sofia. Agora com 18 anos, ela enfrentará o maior desafio de sua vida, conhecendo algo...