Décimo Quarto Capítulo

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Sentei na escrivaninha com o coração aos pulos. Não, não é possível! Como? Será que alguém tinha guardado para entregar-me sem que ninguém percebe-se? Mas isso significaria que ele tem certa amizade com as pessoas da casa de tia Lisa. Ou então dera um bom trocado para um dos empregados. Mas se ele fez qualquer uma dessas coisas... ele está aqui!

Comecei a inspirar e expirar para não ter um colapso nervoso ou algo semelhante. Meu corpo todo tremia de nervoso e ansiedade quando me pus a ler aquelas linhas na minha escrita favorita nos últimos anos.

Querida Marina,
Creio que essa carta chegou mais rápido do que o habitual. Bom, a curta distância física entre nós ajuda a comunicação. 
Sim, eu estou voltando para a vila e, se me permite confessar, nunca estive tão nervoso. Creio que saiba o motivo de minha ansiedade. Sempre é você.

Acho que parei de respirar naquele momento. Minhas mãos soavam tanto que temi estar desidratando.

Estou tão empolgado para poder conversar com a senhorita pessoalmente, se o quiser, é claro. Ter a certeza que seus olhos ainda brilham como a lua no céu estrelado. E sinto que estou perdido se constatar o fato, pois não vou querer olhar para mais nada.

Eu sentia meu coração pulsar por todo meu corpo. Era como se eu tivesse virado meu próprio coração, pulando rebeldemente a cada palavra.

Nos vemos em breve,  
Seu amigo, seu admirador.
Seu.

Fiquei parada relendo aquelas linhas por séculos. Ao menos foi isso que me pareceu. A realidade havia me atingido com toda a força e eu sentia meu corpo todo tenso, febril. Me assustei com a miríade de sentimentos tomando conta de mim. Ele estaria aqui! Oh céus! Como vou saber quem ele é? E se ele passar por mim e eu ao menos reparar? E se ele me ver e constatar que meus olhos não eram tão brilhantes assim? E se ele desistir?

Um soluço alto sobressaltou sobre o silêncio, me fazendo tampar a boca. Aquele quarto estava ficando sufocante com minhas inseguranças me rondando, me atacando e não queria acordar Analu. Eu precisava tomar um ar. Coloquei o roupão sobre minha camisola. Ambos chegavam até os pés, mas me sentia nua conforme mancava até o jardim. O ar gelado saldou minha pele suada, me fazendo notar as lágrimas que escorriam pelas bochechas. Encontrei o banco mais próximo e me joguei nele, respirando fundo para que o ar fresco me acalmasse.

Conforme observava o céu estrelado e o perfume das flores envolvia-me, tentei ponderar sobre minha reação. Eu estava apavorada. Receber e responder cartas, admirar o corte a distância era seguro, confortável. Porém confrontar o homem afável que estava em todos meus sonhos românticos, me abrir e conhecer seu mundo, olhar em seus olhos, sentir o calor da sua pele... era outra situação totalmente diferente!

De repente meus pensamentos vagaram para outro cavalheiro. Em que eu havia olhado nos olhos e sentido o calor de sua pele. Lembrei de Caleb me segurando no cavalo, com tanto carinho e firmeza que era desconcertante. Suspirei. Estava tão absorta em meus pensamentos que não reparei que alguém se aproximava. 

- Senhorita Marina?- Meu estômago embolou, meu peito palpitou. Oh não! Por algum motivo que me escapou, não queria que ele me visse chorando por causa de outro. Aprumei as costas e passei a mão no cabelo, só então notando que eu ainda segurava a carta.

- Boa noite, senhor Montini.- disse com a voz embargada. Notei que ele se aproximou e sentou-se ao meu lado.

- Uma bela noite não?- me virei e o vi me observando com o senho preocupado. Suas íris esmeraldas chisparam ao encontrar meu olhar, ou foi isso que pareceu. Não estava em condições de julgar nada.

AguardadaOnde histórias criam vida. Descubra agora