Vigésimo Sétimo Capítulo

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Fui para o único lugar onde saberia que encontraria paz, onde poderia ser eu mesma. Enquanto caminhava pelo jardim, senti a grama molhada ensopando a barra do vestido e o sereno arrepiar a minha pele, mas não importei-me. Estava furiosa demais, farta de ser tratada como um bebê. Abri a porta do celeiro e andei para lá e pra cá, numa tentativa de acalmar-me. Naquela hora senti falta de poder comunicar-me com o preletor. Sempre me sentia na liberdade de falar tudo para ele, coisas que eu desconhecia até pôr no papel. Pouco me importava quem era naquele momento, por muito tempo ele foi um ponto de fuga para mim, alguém onde eu podia extravasar tudo que estava entalado na garganta. Bom, minha mãe diz que quem não tem cão, caça com gato. Sentei-me em frente á maquina para escrever, mas algo bem diferente do livro. Talvez eu poderia entrega-la a Arthur, ele saberia quem é. Uma pontada de culpa espreitou meu coração, mas decidi ignora-la, aliás eu precisava daquilo e não era nada de errado, só mais uma carta em meio a tantas outras. Repeti umas onze vezes, tentando me convencer. Mordi a lateral da bochecha, lembrando de Caleb. Porque? Por que me sentia tão corroída em falar com outro cavalheiro que não fosse ele? E se... Balancei a cabeça. Ok... Talvez eu não precisava mandar a carta, poderia apenas escrevê-la. Com essa resolução, comecei a colocar no papel tudo que estava em meu coração. Sentia a raiva ir se desmanchando pouco a pouco conforme as frases surgiam, tão carregadas de sentimentos que se tornavam palpáveis. Ouvi um ranger de madeira e olhei para a porta. Quase caí da cadeira ao prender o fôlego. 

- Eu ia bater...- Caleb falou, pressionando os lábios num claro constrangimento. Meu coração estava tão disparado que fiquei sem ar. 

- Ahn...

- Não quis interrompê-la, parecia tão absorta e...- falou, coçando a cabeça daquele modo fofo. 

- Não tem p-problema.- sorri, nervosa. Ele estava ali! Estava ali! Mordi o lábio, tentando conter a empolgação. 

- Está trabalhando em algo?- ele olhou curioso para os papéis dispostos a mesa. O-ou. 

- N-nada demais, apenas escrevendo algumas coisas...- recolhi os papéis o mais rápido possível, escondendo o teor da carta. Ele não podia ver aquilo! No começo apenas discorri sobre minha frustração, mas de alguma forma o assunto voltou para os novos sentimentos ligados ao homem a minha frente. E a ele próprio também. Senti minhas bochechas esquentarem ao lembrar do paragrafo em que descrevi com bastante detalhes a firmeza de seus músculos...

- Algo secreto?- ele brincou, mas percebi o questionamento brilhando no seu olhar, enquanto dava alguns passos para perto de mim. 

- Quase isso - murmurei, me levantando. Observei Caleb analisar o ambiente, parecendo surpreso. 

- É um belo esconderijo.- falou, mirando aquelas esmeraldas em mim. 

- Prefiro pensar como um escritório particular.- disse, dando de ombros. Apoiei-me na beirada da mesa, olhando-o. Soltei um suspiro. O casaco azul contrastava com a calça bege, o cabelo estava em uma bagunça negra que deixava os olhos verdes ainda mais selvagens. Engoli em seco. Absurdamente lindo era pouco para a visão que eu tinha. Distraída, deixei minha mão esbarrar no esboço do livro e ele caiu no chão. Caleb foi mais rápido que eu e capturou-o, olhando curiosamente para ele. 

- O que é isso?- falou, virando o livro em suas mãos, as sobrancelhas baixas. 

- Você sabe o que é...- disse, encabulada e envergonhada, não estava acostumada a mostra-lo. Ele olhou pra mim rapidamente, o olhar perturbado. Senti uma drástica mudança na postura de Caleb, parecia ter ficado mais alto e alerta, como se esperasse alguma coisa.

- O... O que quis dizer?- senti ele fazer esforço para manter a voz calma, mas algo nela parecia instável. Encrespei o cenho. O que estava acontecendo?

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