Capítulo 36

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- Desculpe-me. - pediu ele. - Não queria aborrecer você.

- Eu disse que não queria. - replicou Lara.

A garçonete veio retirar os pratos. Vendo uma oportunidade, Fernando pegou a flor.

- Leve a rosa também. - ordenou ele.

A garçonete surpreendeu-se.

- Posso ficar com ela?

- Pode. - disse Fernando.

- Obrigada. - ela respondeu.

A resposta natural tornou Lara ainda mais estranha. A garçonete lançou-lhe um olhar interrogativo, que não foi correspondido, e rapidamente deixou-os, sem argumentar mais.

- Foi-se. - declarou Fernando, tentando derrubar o muro que Lara havia erguido entre eles.

Ela respirou fundo e soltou um suspiro. Fernando via o esforço que lhe custava em erguer o olhar para encará-lo.

- Não quero que me dê rosas, Fernando.

- Posso saber por quê? - indagou ele, confuso.

Lara franziu a testa e baixou o olhar novamente.

- Foram usadas... da forma errada. Trazem-me más lembranças. Não quero me sentir desse jeito, não com você. - justificou ela.

O amante gringo! Fernando lembrou-se da descrição dela do caso... surpresas, cenários românticos, presentes lindos. Ele provavelmente a cobria de flores, talvez até usando-as para fazer amor com ela. Dois anos de idílio levando a nada, exceto desilusão amarga! E Lara ainda sofria por causa dele!
Fernando sentiu como se lhe fincassem uma adaga no coração. Tudo o que partilharam desde o casamento havia sido fingimento da parte dela? Não tinha significado nada? Por que teve que mencionar o ex-amante?
Fernando sentiu raiva da angústia que ela havia despertado. Onde estava a ficha limpa que ela havia lhe oferecido? Só porque o traiçoeiro lhe dava rosas, ele não podia oferecê-las, nem por sentimento genuíno por ela? Ela não via a diferença? Haviam trocado alianças de casamento, céus!

- Não me importo em banir as rosas de nossa vida, Lara. - disparou, mal conseguindo conter o ciúme que lhe corroía por dentro.

O desafio chamou a atenção dela.

- Rosas vermelhas supostamente simbolizam o amor, Fernando. - Lara descruzou os braços, como se percebesse a postura defensiva, e apoiou as mãos na mesa, voltadas pra cima, num apelo.

- Não é o que temos, é?

Fernando a encarou, espantado com a percepção dolorosa de que Lara não o considerava alguém especial.

- O que nós temos, Lara? - Fernando questionou, sentindo-se na beira do precipício, com uma grande fenda escura entre os dois.

Lara sorriu irônica.

- Você mesmo disse... um casamento de conveniência... para termos uma família.

A motivação que ele havia usado para convencê-la... atirada de volta. Não importava que já houvessem transcorrido oito semanas. Para ela, nada havia mudado. Nada. Enquanto para ele... Fernando esforçou-se para colocar a situação sob perspectiva. Era simples... o mundo se movimentava.
Afastou-se do abismo criado pelo ódio que sentia. Por mais que fugisse da realidade lógica que tinha oferecido a Lara, estava em terra firme, convenceu-se, numa plataforma estável na qual poderia trabalhar.
Ela acarinhou a aliança no dedo anular. Estava séria, triste. Fernando sentiu dor no coração.

- Desculpe-me Fernando. - ela ergueu o olhar pesarosa. - Estraguei a noite, não é?

Continua...

E enfim, o amor...Onde histórias criam vida. Descubra agora