E enfim, o amor...

Capítulo 51

Matheus começou a sugar-lhe a camisa. Fernando imaginou que a frustração se manifestaria a qualquer momento e, para um bebê recém-nascido, Matheus tinha pulmões bem fortes. Provavelmente, seria um bom nadador quando crescesse. Mas, por ora, só sabia usar os pulmões para gritar. Tentou distraí-lo andando pelo quarto e cantarolando uma velha canção de ninar, que se lembrava da infância.

- Ganhando a guerra, Fernando?

Surpreso com a pergunta de Lara, ele parou de embalar o filho. Ela estava bem acordada e sorria. Meneou a cabeça, espantado. Não entendia como Lara podia sorrir após a provação do dia anterior, mas ela parecia encarar com naturalidade.

- Só estava contendo o ataque. - explicou, exausto. - O pequeno Matheus tentava mamar minha camisa.

- Passe-o para mim. Já passou da hora de mamar. - disse Lara.

- Eu não queria acordar você.

- Estou mais descansada agora, Fernando. Você foi maravilhoso o tempo todo. - Lara fitou o marido com orgulho e admiração.

Ele, maravilhoso? Sentia-se uma pilha de nervos, mal se contendo. Não entendia como Lara podia parecer mais serena ao segurar o filho para amamentá-lo. O pequeno Matheus também não apresentava estresse. Agarrou uma das melhores coisas do mundo, ciente de que era só sua por direito. Um pedaço do céu, pensou Fernando, recostado na cadeira, contemplando um dos milagres da natureza.
Fernando estava tão cansado que quase adormeceu. Ficou alerta novamente quando alguém bateu na porta. A atitude de cautela esvaiu-se ao ver a sogra, e não outra enfermeira rude.

- Mãe! Que prazer! - exclamou Lara, surpresa. - Não a esperava senão hoje a noite.

A mãe de Lara entregou ao genro os presentes que havia comprado para o neto e correu para abraçar a filha.

- Não pude esperar pelo seu pai. Vim o mais rápido que pude. Céus! Ele é cabeludo.

Lata riu. Riu de verdade!

- Ele não é lindo? - indagou Lara.

As duas ficaram enaltecendo a beleza do bebê, e Fernando permaneceu quieto. Exceto pelo breve período após o aborto, Lara mostrou-se lutadora, capaz de suportar tudo e seguir em frente, de cabeça erguida. Ele sabia disso, mas estava espantado com sua rapidez em superar as dores de um passado próximo.

- Espero que não esteja desapontada, mãe... - disse Lara.

- Desapontada? - indagou Fernando. - Por que ela estaria?

- Talvez gostaria de ter uma neta.  Uma menina. - explicou Lara. - A Lia já teve um menino. Mamãe estava querendo uma neta.

- Isso não importa, querida. - assegurou a mãe. - O importante é que ele seja saudável.

Fernando aprovou o sentimento sensato.

- Ele é perfeito mãe. - informou Lara, orgulhosa. - Talvez venha uma menina, na próxima vez.

Fernando não acreditava no que ouvia. Próxima vez? Como Lara podia pensar numa próxima vez? Estava com amnésia?

Em seguida chegou Dona Cândida, a mãe de Fernando. Um amigo do clube havia lhe levado até o hospital.
Após o spa, a vida de sua mãe progrediu, e muito. - concluiu Fernando.

Dona Cândida olhou para o bebê e emocionou-se.

- Oh, mas é a imagem exata de Fernando!

Lara riu. Novamente. Talvez fosse um tipo de euforia que se seguia ao parto, racionalizou Fernando.

- Não há dúvida de quem é o pai. - concordou, sorrindo-lhe amorosa.

Dona Cândida sorriu para o filho também, e Fernando manifestou-se:

- Desculpe-me por não ter produzido uma menina, mãe. - Tanto para a Sra, quanto para a minha querida sogra. Vocês as duas, pensavam em itens cor-de-rosa, e agora, terão de contentar-se com um menino. - Principalmente porque Matheus seria seu único neto...

- Bem querido, tenho certeza que você e Lara terão tanta alegria com seu filhinho quanto seu pai e eu tivemos com você. - retrucou a mãe de Fernando, emocionada.

- Claro que sim. - concordou Fernando. - Só estava pensando em você.

- Não se preocupe comigo, querido. - Para espanto de Fernando, a mãe enrubeceu. - Acho que não terei tanto tempo para bajular meu neto.

Fernando não disfarçou a surpresa.

Continua...