Capítulo 45

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O ruído era a campainha. Desesperada em entregar-se a qualquer distração, Lara levantou-se da cama, vestiu um penhoar e foi à porta, amarrando o cinto e ajeitando os cabelos. Uma coisa era certa. Não era Fernando. Ele usaria a chave.
Abriu a porta, resignada a ter de lidar com alguém. Exceto que esse alguém era Lia, que entrou no apartamento sem ser convidada. Ela estava sozinha, sem Caio, e Lara achou melhor assim, embora imaginasse quem havia se encarregado de cuidar do bebê.

- Vai dormir dia e noite? - indagou a irmã, mostrando determinação para brigar.

Lara suspirou e desejou que Lia tivesse ficado longe.

- Que horas são? - Lara perguntou.

- Hora de você cair em si. - respondeu Lia.

- Oh, não comece...

- Farei mais do que isso. Estou cheia da sua falta de sensibilidade, Lara. Crucificou um homem decente, e vou fazer você reconhecer isso nem que seja a última coisa! - Lia olhou-a de cima a baixo. - Vou lhe fazer um café antes. E acredite, isso é amor fraternal.
Ela foi para a cozinha antes que Lara se recuperasse do ataque repentino. Crucificar? Sentiu um arrepio com a palavra. Rapidamente, convenceu-se de que a irmã exagerava, como sempre fazia quando estava preocupada. Fernando devia ter lhe telefonado, embora com certeza não tivesse comentado nada sobre a noite anterior.

Trapaceira...

Estremeceu e foi atrás da irmã, encontrando-a junto à cafeteira elétrica.

- Não sei o que Fernando lhe disse...

- Ele me telefonou porque estava preocupado com você, Lara. - Lia fitou-a. - Você, que não deu a mínima para ele desde que abortou. Como se não fosse o filho dele também.
Lara sentiu-se culpada e envergonhada. Havia estado tão imersa na própria dor que não tinha visto o sofrimento dele... E Fernando devia ter sentido a perda, querendo o bebê tanto quanto ela. Ele até havia declarado isso na noite anterior. Devia ter reagido, mas o peso em seu coração era grande demais para se abalar por ele.
Lia instalou o coador na cafeteira e ligou-a, sempre com movimentos nervosos.

- Nunca pensei que diria isso da minha própria irmã... - Voltou-se e encarou-a. - Mas você é uma miserável egoísta e cega, Lara.

Em choque, Lara abriu a boca para falar, mas Lia não deu chance:

- Tomar o amor de Fernando e fazer o que fez a ele... tratando-o como se fosse nada... dando-lhe as costas... desconsiderando-o...

- Espere um pouco! Fernando nunca disse que me amava.

- Não, acho que ele não se revelou. - Lia ergueu o queixo, desafiando uma negativa. - É o tipo de homem que não diria isso porque você já havia dito que não o amava. E você confirmou isso nas últimas semanas, não? Deixou bem claro, para que ele não tivesse a que se agarrar.

Lara ruborizou a face, mas procurou se defender.

- Amor nunca entrou no nosso casamento. - esclareceu. - Desde o começo...

- Fernando estava perdidamente apaixonado por você, Lara. - informou Lia, com um olhar compassivo. - Isso ficou claro para a família toda no batizado de Caio. Pergunte a qualquer um. Pergunte a qualquer convidado do casamento. Só você estava cega. Só você...

- Não, está enganada! Ele se sentia fisicamente atraído por mim, sim. E queria uma família...

- Com você. Porque era você. - impôs a irmã, sem dó.

- Não... - Lara meneou a cabeça convicta. - Porque ele estava pronto.

- Ele a amava. - repetiu Lia, inabalável. - Ele a adorava. Você sempre foi o foco das intenções... cuidar de você, fazer o que a satisfazia... ele fez tudo o que podia para fazer você feliz. - Fez uma pausa, meneando a cabeça ante a estupidez cega. - Aceite, Lara. Não é luxúria. É amor em letras maiúsculas.

E enfim, o amor...Onde histórias criam vida. Descubra agora