- Comissários de bordo, por favor, tomem seus lugares para o pouso.
Lara acomodou-se na poltrona e travou o cinto de segurança. O vôo matutino de duas horas entre Rio de Janeiro e Porto Alegre, costumava estressar os comissários... servir cafés para pessoas lendo jornais em posição incômoda e, depois, limpar toda a sujeira. Seria ótimo voltar para casa e tirar uns dias de folga. Esses vôos eram de enlouquecer, apesar de curtos.
Fernando veio repentinamente em seus pensamentos, e ela havia lembrado dos bons momentos. Foi um período feliz. Nem mesmo o poço profundo em que ela havia mergulhado após o aborto apagaria as lembranças de tantas diversões.
Quando pensava nos homens que passaram por sua vida, Fernando definitivamente se destacava como o melhor companheiro, sob todos os aspectos.
Sentia falta daquele companheirismo. Muito. Da intimidade, inclusive. Luxúria ou amor... o prazer tinha sido bastante intenso, às vezes. Um mês antes, não teria acreditado que sentiria falta de sexo, mas agora admitia que era difícil enfrentar as noites solitárias, em particular a noite anterior, ao lembrar-se do desejo que os havia inflamado durante toda a lua-de-mel.
Suspirou triste. Provavelmente, sobrevoavam o Rio de Janeiro naquele instante, na aproximação da pista. Fernando devia estar a caminho do trabalho, ou já estava no escritório, cheio de tarefas. O Natal era a melhor época do ano para o ramo de negócios dele.
Afastou a idéia de Natal, uma data de reunião familiar, com atenção especial às crianças. Fernando provavelmente odiaria a comemoração naquele ano, também.
Havia feito muito mal a ele, e era impossível desfazer o dano.
O avião tocou na pista e desacelerou gradualmente. Lara voltou a se concentrar no trabalho. Assim que aqueles passageiros desembarcassem, receberiam os viajantes do próximo vôo, mas logo se veria dispensada para o merecido descanso. Talvez devesse telefonar para Lia, ver se a irmã estava livre para uma visita.
Encontrava-se na sala de tripulação, já quase deixando o aeroporto, quando um dos pilotos comentou casualmente:- Tem um camarada perguntando por você, Lara.
- Um camarada? Quem? - indagou ela.
O piloto deu de ombros e sorriu provocante.
- Moreno, alto, bonito...
Fernando? Ela sentiu o coração falhar e retomar as batidas num tranco.
- Ele ainda está aqui? - perguntou, aflita.
- Não sei. Indiquei por onde você sairia.
- Obrigada. - agradeceu ela.
Lara sentiu um misto de alarme e excitação. Por que Fernando a procuraria ali? O que isso significava? Talvez quisesse agarrá-la e levá-la embora... num impulso selvagem, tal qual cavaleiro arrebatando a amada sem aceitar objeções. Se ele fizesse isso... permitiria? Queria... certo ou errado, não se importava mais. Queria desesperadamente Fernando de volta.
Mas ele ainda estaria a sua espera?
Agitada, animada, quase temerosa, saiu apressada da sala de tripulação e chegou ao terminal. Olhou ao redor ansiosa e surpreendeu-se.
Não era Fernando esperando por ela.
Era Otávio... tão elegante quanto sempre no terno de grife e o ar confiante de um homem que sabia que chamava a atenção das mulheres.
Por mais bizarro que parecesse, após o choque inicial de vê-lo ali, no Rio, Lara sentiu-se completamente desconectada dele.
Embora Otávio lançasse seu olhar sensual, ela não se abalou. Não sentiu o coração disparar. Não conseguia sequer recuperar a sensação de ter dedicado dois anos de sua vida àquele homem. A única emoção que experimentava era a decepção por não se tratar de Fernando.
Ele abriu os braços, como se anunciasse: " Vim por você" . Lara sentiu repugnância, não correria ao encontro dele. Não teve a mínima vontade, aliás. Era quase grotesco o fato de ele oferecer aquilo, esperar algo dela.
Havia acabado completamente... o efeito que Otávio exercia sobre ela.
Como ela permanecia imóvel, ele se aproximou, sorrindo sedutor.- Caríssima... Senti tanto a sua falta.
Ela irritou-se com a voz dele. Uma voz que ela não conseguia mais ouvir. Não era como a de Fernando, sempre direto, aberto e honesto, sincero em tudo o que dizia, cumprindo a palavra, uma voz em que ela podia confiar. Uma voz que trazia paz, segurança. Que transmitia verdade.
- O que faz aqui, Otávio? - indagou ela, ressentida com a lembrança de como ele havia a enganado e de como ela foi idiota em permitir que ele... um manequim de homem... ficasse entre ela e Fernando.
- Vim da Itália para ver você novamente. Vim só para isso. Você era a luz de minha vida, bella mia. Estes últimos meses...
- Não tem negócios pendentes? - interrompeu ela, vendo-o como Fernando o veria... um amante gringo a despejar palavras românticas sem significado.
Ele deu de ombros.
- Manipulei um pouco para ter essa oportunidade.
Mais mentiras. Ele obviamente queria uma intimidade rápida com ela enquanto estava ali. Conveniente... Eis que sempre havia sido para Otávio a aeromoça brasileira. Como havia permitido que aquele homem a enganasse? Tudo nele era glamour superficial.- Bem, fico feliz que sua viagem não seja um desperdício total. - replicou, azeda. - Como lhe disse antes, acabou. Agora, com licença...
- Não... - Perturbado com a rejeição, o gringo agarrou-lhe as mãos. Então, sentiu uma pedra e fitou a jóia. - O que é isto?
- Eu me casei. - esclareceu Lara, orgulhosamente, e exibiu o belo solitário que Fernando havia lhe dado.
Devia tê-lo devolvido. A aliança também. Não era certo mantê-los. Mesmo assim, remover a última conexão ao casamento pareceria... impiedoso, outra mágoa às muitas que já havia infligido a Fernando. Teria de ser feito, claro, quando fosse a hora certa.- Não pode ser... - O olhar de Otávio obscureceu-se com a contrariedade. - É a mim que você ama. Não pode ter se esquecido... Eu não me esqueci.
- Nunca o amei, Otávio. - afirmou Lara, com certeza absoluta, refratária ao fluxo de energia que Otávio tentava envolvê-la. - Só pensei que amava porque não sabia. Não conhecia o amor verdadeiro.
Finalmente, entendi a verdade, com o coração e com a razão.- Meu marido me ensinou o que é o amor. E eu o amarei pelo resto de minha vida. - afirmou Lara, desvencilhando-se do homem que não tinha o direito de tocá-la.
Sentia o coração disparado. A percepção... a revelação... sobre seus verdadeiros sentimentos por Fernando era tão forte que não havia dúvida. Amava o marido. Amava-o demais.
Se não estivesse tão obcecada em ter um bebê... cega, cega, cega! Teria visto que havia encontrado o homem certo, o melhor do mundo. O companheiro, o amigo, o amante... Teria visto que desperdiçou a chance de sua vida. A chance de ser feliz.
Lara saiu correndo pelo terminal até o ponto de táxi. Não sabia como concertar o dano que havia causado. Fernando poderia mandá-la embora do escritório, e não o culparia por isso. Mas tinha de ir até ele e implorar outra chance, convencê-lo de que, de algum modo, o amava de verdade. Amava mais, muito mais do que imaginava amar.Continua...
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E enfim, o amor...
FanfictionLara Rodrigues e Fernando Malta, estavam prontos para viver um grande amor, porém faltava um simples detalhe: Se conhecerem! Com os dias de solteiro contados, Fernando está pronto para ter uma família. E Lara parece ser a mulher dos seus sonhos. Al...