E enfim, o amor...

Capítulo 37

Fernando praguejou contra o impulso que havia despedaçado suas ilusões. Mas não era melhor ter as ilusões arrancadas antes que permitisse outras tolices? Aceite o que tem e aproveite o melhor que puder, instruiu-se.
Ele sorriu e deu de ombros, desejoso de recuperar o espaço perdido.

- Erro meu. Tudo que partilhamos nessas últimas noites... só não me pareceu uma conveniência.
Fez um gesto descontraído, não querendo que a frase parecesse acusação, não querendo pressioná-la a responder.
Lara relaxou na cadeira, e ele percebeu que ela juntava determinação para superar aquele momento. Ela queria consertar a questão. O desejo... a necessidade... estava em seu olhar, enquanto ela forçava um sorriso.

- Luxúria mútua pode nos levar longe. - disse ele.

Fernando pegou a deixa e reforçou-a.

- E dá muito prazer também. - Sorriu satisfeito.

- Foi uma lua-de-mel maravilhosa, Fernando. - afirmou ela, com ternura. - Nós nos divertimos muito.

- Adorei cada minuto. - declarou ele, contente.

- Eu também. Principalmente a descida na montanha russa do parque. Mesmo apavorada a ponto de meu coração sair pela boca.

Fernando expressou dúvida.

- Eu a pressionei além de onde gostaria de ir?

Lara riu e meneou a cabeça.

Continuaram conversando, recordando os melhores momentos que partilharam, esforçando-se para recuperar o ânimo de se sentirem bem um ao lado do outro, deixando o incidente para trás.
Mas Fernando não conseguia esquecê-lo, por mais que tentasse. E achava que Lara também não conseguia dispersar o sentimento ruim. Disfarçaram, mas o estremecimento perdurava sob cada palavra, uma sombra que os encobria constantemente.
Lara forçou-se a consumir a torta de queijo que havia pedido, porque ambos procuravam convencer-se de que estava tudo bem.
Mas não estava nada bem.
Lara havia lhe magoado muito.
Lara havia magoado Fernando por causa de Otávio... e havia agido como uma idiota. Mas Fernando não era falso. Ele havia lhe dado a substância do casamento, comprometendo-se a fazer dar certo, e ela o derrubou quando ele quis passar-lhe um pouco do prazer que sentia.
Era ruim... era errado... mas, por pior que fosse, não podia permitir que Fernando usasse a rosa como instrumento sensual na intimidade deles. Era impossível esquecer que Otávio havia feito o mesmo. Ela não queria aquela lembrança na cama, entre ela e Fernando. Não queria a lembrança de Otávio em nenhum lugar naquele casamento.
Mesmo assim, havia convocado a presença dele com a repulsa à rosa. E com a explicação que teve de dar a Fernando.
O incidente todo havia acontecido tão rápido... Lara foi pega de surpresa, reagindo em vez de racionalizar o efeito que isso teria em Fernando. Agora, o dano estava feito, e não podia ser remediado. Ela via nos olhos dele, apesar da máscara alegre que tinha adotado.
Ela havia magoado ele.
Havia abalado o relacionamento deles, que ela tinha passado a valorizar muito naquelas últimas duas semanas. O que tinham juntos era bom, muito melhor do que... torta de queijo!
Otávio havia lhe dado doces por dois anos.
Sentiu enjôo com a torta.
A culpa e a vergonha emergiam, e não suportaria mais doces. Queria o que Fernando lhe dava... o arroz com feijão da amizade, da ternura, da consideração por suas necessidades e anseios, e queria lhe retribuir tudo aquilo.

Lara largou a colher.

- Não gostou? - indagou Fernando.

Ela o encarou.

- Prefiro ter você.

A compostura que ele mantinha esvaiu-se, e o desejo ressurgiu.
Lara sentiu o coração mais leve.

- Vamos embora, Fernando. Vamos voltar ao hotel. - sugeriu ela.

- Não vou discutir. - respondeu ele. O tom indicava que também precisava exorcizar aquela terceira pessoa no casamento deles.
Lara prometeu que o faria esquecer de tudo, exceto de ambos... juntos. Era a última noite de lua-de-mel, e lhes pertencia.