Capítulo 41

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- Fernando... Ele captou o medo na voz de Lara mesmo sonolento. A luz estava acesa, o que significava que ainda não havia amanhecido. Estreitou o olhar. Lara estava junto à porta, o rosto coberto de lágrimas.

- O que foi? - Fernando indagou preocupado.

- Estou sangrando! - Lara exclamou nervosa.
Sangrando... Com seis semanas de gravidez!

As horas seguintes foram de pura dor. Fernando procurou ficar calmo e dar apoio a Lara. O trajeto até o hospital, lidar com a equipe de pronto-socorro foi um pesadelo. Após implorar ajuda, preencheu freneticamente os formulários, esperando ouvir, desejando que tudo estivesse bem, mas temendo o pior... que Lara sofresse um aborto. No fim, foi o que aconteceu.
Fernando nunca se sentiu tão impotente. Não podia fazer nada para ajudar. Nada. Para seu próprio desapontamento e dor, o flagelo era terrível. O bebê havia se tornado algo real para ambos naquele mês, fizeram planos para ele... ou ela. De repente, inconsolavelmente, o sonho não se realizaria.

- É a forma da natureza de dizer que havia algo errado. - explicou o médico para Lara, querendo ser gentil, mas só piorou o quadro.

Lara interpretou como afronta pessoal, como se o aborto fosse, de algum modo, culpa sua, embora o médico lhe assegurasse que não, e que não havia motivo para não tentarem outra gravidez após um período de recuperação. Mas ela estava desolada demais para ouvir a razão. Fechou-se em si mesma, mantendo Fernando excluído, sem querer ou incapaz de partilhar a perda com ele.
O pesadelo durou dias. Lara não queria voltar ao trabalho, embora insistisse para que Fernando retomasse a rotina. Era claro que não o queria por perto. Não que explanasse. Fernando sentia. Havia pouca comunicação vindo dela... nenhum desejo de procurá-lo, tocar... partilhar. Ela estava insensível, sem vida, morta por dentro, mal reconhecendo a presença de Fernando. Ou de quem quer que fosse.
Lia tentou conversar com ela. Sem resposta. A mãe foi visitá-la. Não lhe fez bem. Lara havia envolvido-se na tristeza, protegia-se de forma inexplicável.
Para Fernando, foi um momento terrível.
A mãe era solidária, mas não tinha conselho a dar. A secretária comentou que a taxa de abortos na primeira gravidez vinha aumentando, e ela atribuía o fato ao desequilíbrio hormonal, devido a anos de pílula anticoncepcional. Fernando não comentou a conversa com Lara. Ela já se culpava, e não existia prova científica da teoria de Rita. Mesmo assim, era uma explicação que fazia sentido, e Fernando tinha esperança de que o problema não se repetiria.

Passaram-se três semanas...

Lara continuava com depressão. Recusava ajuda profissional. Recebia indiferente mostras de compaixão, ternura e compreensão. Na cama, permanecia tensa e defronte à parede, numa mensagem clara... deixe-me sozinha. Lara literalmente estremecia ao menor contato, mantendo-se isolada.

Depois do sonho, o pesadelo do qual Fernando desejava acordar... Infelizmente a realidade era nua e crua.
O mundo de ambos, caiu sobre suas cabeças, e Lara, parecia não mais conseguir reagir. Não tinha forças. Não tinha vontades. Não tinha nada.
O céu definitivamente havia desmoronado.

Continua...

E enfim, o amor...Onde histórias criam vida. Descubra agora