Capítulo 46

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Fernando tomou o café da manhã e arrumou a cozinha, impaciente para sair do apartamento e ir ao trabalho. Sentia um vazio constante ali, sem Lara. O apartamento continuava o lugar funcional de sempre, prático para tudo, porém desprovido dos pertences dela, de seus toques e detalhes femininos, do perfume, da presença... lembrança constante e dolorosa do que ele não tinha mais.

Fazia apenas um mês que ela havia partido, sem levar nada além do que havia trazido. Se não contasse o curto período em que viveram juntos... Aquilo era passado, embora ele não conseguisse esquecer. O apartamento guardava impressos os bons e maus momentos.
Devia procurar outro lugar para morar. Mesmo assim, não se animava. Não conseguia abrir mão de Lara, corrigiu-se. O que era estupidez, considerando o tom final do bilhete que ela havia deixado.

Não mereço você, Fernando. Desculpe-me...

Que adiantava ela se desculpar? Indicava alguma preocupação, imaginava, embora ela demonstrasse pouco cuidado com ele. As pessoas pediam desculpas quando não sabiam o que dizer, uma expressão educada que no fundo não significava nada.
Meneou a cabeça e pôs-se em ação, reunindo documentos de que precisaria no trabalho. Cinco minutos depois, dirigia o carro através do trânsito matinal de sempre. Era pior naquela época do ano, com a aproximação do Natal e os consumidores ansiosos em começar o dia cedo. Procurou manter a paciência. Nada aconteceria se não fosse a hora.
Venceu o trajeto até a Ilha do Governador em passo de tartaruga. Entretanto, ao chegar lá, encontrou livre a via expressa até o aeroporto Galeão. Ao parar num sinal vermelho, viu um avião de companhia aérea nacional pousar e imaginou se Lara estava naquele vôo. Ela havia voltado a trabalhar. Lia havia lhe contado quando ele lhe telefonou para saber notícias.
Isso significava que ela teria saído da depressão. Estava contente por Lara, mas a recuperação obviamente não havia mudado sua visão do casamento. Ou dele. Imaginava que o próximo contato entre ambos seria para tratarem do divórcio.
O sinal ficou verde e os carros avançaram. O telefone no carro tocou. Era sua mãe.

- Estava imaginando o que fazer no Natal, Fernando...

- O que quiser, mãe. - respondeu ele, totalmente desinteressado da estação festiva.

- Bem... detesto lhe perguntar, mas não disse nada... há chance de você e Lara voltarem?

Fernando franziu a testa. Não tinha conversado sobre a separação com a mãe, estava ciente das dúvidas que ela levantaria sobre o casamento, e não suportaria quando ela dissesse: " Eu não disse?"

- É pouco provável. - declarou ele, sucinto.

- Então... - Dona Cândida hesitou, ciente do assunto delicado. - É pouco provável que passemos o Natal com a família Rodrigues? É que eles me convidaram... no casamento.

- É melhor esquecer, mãe. Faça seus próprios planos. - aconselhou Fernando, desdenhando de si mesmo por não seguir o próprio conselho.

- Tudo bem, querido. Desculpe-me.

- Não se preocupe. - Fernando estava cheio daquela palavra. - Telefono durante a semana e você me conta o que quer fazer no Natal. - Sempre faziam assim.

- Está bem, Fernando.

Ele suspirou de alívio quando a mãe desligou. Não queria falar sobre Lara. O tema o abatia demais. Era melhor se enterrar no trabalho. Com certeza, andavam atarefados no escritório com a comoção do Natal. Pedidos extras por camisetas com gravuras natalinas chegavam sem parar. Tinha trabalho para o dia todo, felizmente! Precisava se entregar ao ponto da exaustão, pois só assim não notaria o lugar vago na cama, no apartamento vazio.

Continua...

E enfim, o amor...Onde histórias criam vida. Descubra agora