Capítulo 14

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Estou contente em saber Fernando. - aprovou a mãe dele, carinhosa.

- Bem, sempre há o armazém na vila, se você ficar desesperado. - lembrou Lara, cética.

- Não. Tomei a decisão. - afirmou Fernando, saboreando os cogumelos.

Dona Cândida ficou quieta durante a refeição.

- Qual é o nome da sua empresa? - indagou Lara, quando os pratos foram retirados.

- Riolight Comércio e Representações. - respondeu Fernando, imaginando se ela pretendia checar as informações.  Era óbvio que Lara havia parado de aceitar a palavra dos outros. Não a culpava. Uma vez escaldada, a cautela dobrava.

- Fica na Ilha do Governador, perto do aeroporto. - detalhou Dona Cândida, animada. - Vocês pegam a mesma avenida para ir ao trabalho.

Fernando lançou um olhar ameaçador à mãe. Ela não conseguia se conter?

Felizmente, Lara ignorou o comentário e indagou:

- Você não se incomoda com o barulho dos aviões?

- O prédio tem proteção acústica. - explicou Fernando.

- É necessário mesmo! - exclamou Lara.

- Oh, o Fernando não poupa quanto ao bem estar dos funcionários. - assegurou Dona Cândida orgulhosa. - E está se saindo muito bem. Muito bem mesmo. Você deve ter lido nos jornais sobre a venda de um apartamento na Barra da Tijuca por um milhão e duzentos dólares. - continuou Dona Cândida.

- Mãe... - Era tarde demais. - pensou Fernando.

- Foi Fernando que o comprou. - revelou Dona Cândida.

Lara arregalou os olhos castanhos, e Fernando teve a impressão de ver cifrões neles, provavelmente calculando quanto ele valia. Não queria que ela o aceitasse por causa de seu dinheiro. Detestava aquele tipo de parâmetro, odiava saber que sua riqueza podia afetar a opinião das pessoas a seu respeito, a atitude delas, as conclusões que tiravam sobre ele.

- É um investimento. - Fernando justificou, sucinto. - Não moro lá. Está alugado para cobrir o empréstimo no banco. É uma questão de responsabilidade... - ele completou.

Depois disso, Fernando fechou a boca, deixando de explicar como gerenciava suas finanças. Pouco adiantou. O estrago já estava feito. Lara o fitava especulativa, sem dúvidas vendo-o como uma proposta bem mais atraente agora.
Engraçado, pois no passado, com suas antigas namoradas, nunca havia chegado à questão do dinheiro.
Ele não sabia quanto uma aeromoça ganhava, mas não devia ser muito.
Será que Lara ficava excitada com a idéia de arrebatar um milionário? Talvez agora liberasse mais... Fernando não parava de pensar no assunto, e não se excitou nenhum pouco com a idéia. Ele preferia a Lara lutadora.

- Com licença. O jantar chama. - Fernando levantou-se e foi ao bufê de pratos quentes, carregado de travessas. Por ele, que a mãe tagarelasse bastante se quisesse. De repente, ele não se importava mais.
Frango assado, batatas cozidas, brócolis, feijão, tomates grelhados com manjericão... Nada mau... exceto que, de algum modo, havia perdido o apetite. Mesmo assim, serviu-se e voltou à mesa. Um homem precisava se alimentar. Lara, a mãe e os outros da mesa pegaram a fila, e ele pôde adicionar o sal sem receber olhares de censura. Levado por um sentimento de descontentamento, exagerou no tempêro.
A mãe tagarela e o tentador suéter vermelho voltaram para atormentá-lo. Tentou se concentrar na refeição, mas seus pensamentos continuavam dispersos. Talvez estivesse sendo sensível demais com a questão do dinheiro. Só desejava que o tema não tivesse vindo à tona tão cedo, mas não havia como negar as vantagens de um pretendente financeiramente seguro, quando se tratava de casamento. Agora, Lara entendia que nada os impediria de começar uma família logo. Claro, outros fatores importantes tinham peso. Como a atitude dela em relação ao sexo. Principalmente com ele!
Lara e Dona Cândida conversavam sobre família. Lara revelou que tinha uma irmã mais nova, Lia, que havia acabado de ganhar um bebê.
Por sua vez, Dona Cândida explicou que Fernando era filho único, e que quase havia morrido ao dar à luz quando ele nasceu. Com isso, seu falecido marido, não quis arriscar em tentar mais filhos.
Só havia Fernando para dar continuidade a família, e dar-lhe os tão sonhados netos... ele já estava com quarenta e cinco anos e continuava solteiro. Dona Cândida suspirou com pesar.

- Eu imagino que a Sra. tenha o mimado demais, já que sempre foi filho único. - observou Lara, meiga.

Fernando instantaneamente reconheceu a alfinetada de Lara e ergueu o olhar.

- Eu não sou mimado e nunca fui. - ele declarou determinado, antes que a sua mãe começasse a contar sobre sua infância, lembrando fatos constrangedores.

- Fernando sempre foi bem-humorado. - afirmou Dona Cândida.

- Meu pai estabelecia regras e cuidava para que eu obedecesse. - insistiu Fernando, devolvendo o olhar desafiador de Lara. - Ele me ensinou a ter responsabilidade, e eu sempre respeitei suas lições. Farei o mesmo com meus filhos. Se eu os tiver. - acrescentou, sombrio, magoado com a suposição que ele havia sido uma criança rica e mimada.

- Então, por que tenho a impressão de que você está acostumado a ter tudo o que quer? - questionou Lara.

- Provavelmente, porque eu conquistei tudo aquilo que eu queria. - rebateu ele. Com certeza, não havia ganho nada de mão beijada. Os pais estavam numa boa situação financeira, mas nunca tiveram a riqueza que ele havia acumulado.

Lara sorriu, mas não em aceitação ou aprovação.

- E agora acha que pode comprar tudo ou todos que quiser.
O olhar de Lara dizia... Não a mim, senhor. Nem em um milhão de anos!

Fernando a encarou, forçando-a a rever a idéia insultante que havia formado dele. Ela não vacilou e manteve o olhar desafiador. Para Fernando, era como um soco no estômago, reforçando seu desejo de dominá-la.

Continua...

E enfim, o amor...Onde histórias criam vida. Descubra agora