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Mamãe dirigia desesperadamente rápido enquanto eu estava na linha com a mesma mulher que havia me ligado enquanto estava na igreja. Sua noiva sofreu um acidente de carro. As palavras soavam como uma canção assustadora em minha cabeça e meu coração acelerava a cada carro que ultrapassávamos para estar mais perto do hospital, estourando o limite de velocidade algumas várias vezes. A mulher no celular me atualizava de cada movimentação de minha esposa dentro do grande hospital enquanto eu não estava lá, detalhando desde sua chegada até seu caminho pelo corredor à sala de cirurgia. Sim, Camila teria de fazer uma cirurgia. Pelo que foi me dito pela enfermeira, o carro onde minha noiva estava acabou perdendo o controle em uma descida e por uma freada brusca, ela atravessou o vidro, que acabou lhe causando um corte na lateral esquerda, indo da parte da cintura até próximo do seio. Seria uma cirurgia com o foco principal de retirar o vidro, mas poderia envolver mais coisas conforme fosse acontecendo.

Não esperei que minha mãe terminasse de estacionar o carro para descer, pulei do mesmo assim que desacelerou. As pessoas me olhavam assustadas enquanto eu corria desesperado hospital a dentro vestido de noivo, uma cena talvez pouco comum para um belo sábado de manhã. Quando dei o nome de Camila à recepcionista, ela avisou que a paciente estava em cirurgia e que qualquer entrada além da equipe era proibida. Fomos guiados para a sala de espera, que estava vazia até minha família inteira chegar e lotar o lugar por quase duas horas. Todos se importavam muito com a minha garota, ela era parte da nossa família e vê-la naquela situação era horrível para todos nós. Principalmente para mim.

Ergui a cabeça quando minha irmã se aproximou da poltrona onde eu estava sentado, se abaixando ao meu lado para me olhar nos olhos. Até aquele momento eu não havia percebido que estava chorando, pelo menos não até ela me abraçar e eu ver minhas próprias lágrimas molhando seu vestido vermelho de festa.

-Ela vai ficar bem, Shawn. - ela mumurrou acariciando minhas costas - Todos nós sabemos como a Mila é forte.

-Não era para isso acontecer, Aaliyah. - eu mumurrei de volta - Por deus, como isso pôde acontecer agora?

Minha irmã se calou. Acho que ela sabia que nada do que dissesse iria adiantar muito para me acalmar um pouco mais. Eu queria vê-la, ver Camila, tocá-la, sentir sua respiração sobre meus dedos, ter certeza de que está bem. Ela tinha que estar bem. O que seria de mim sem aquela garota estranha de cabelos ondulados e olhos castanhos? Eu havia passado grande parte da minha vida ao lado de Camila, tempo suficiente para saber que não conseguiria viver sem ela agora. Apenas a hipótese de perder a minha garota fez agarrar minha irmã com um pouco mais de força, como se eu fosse cair naquele exato momento. Eu não podia perder Camila, simplesmente não podia.

Algum tempo depois, cerca de quatro ou cinco horas, um homem loiro entrou na sala, atraindo a atenção de todos pela primeira vez. Ele olhou a ficha em suas mãos e correu com os olhos por todas as pessoas presentes, parando com os mesmos em mim. Me levantei naquele exato momento, afrouxando a gravata borboleta em meu pescoço antes de caminhar até ele, parando a sua frente ainda sem me desprender de seu olhar.

-Shawn Mendes? - eu balancei a cabeça - A cirurgia de sua noiva foi um sucesso. Ela está no quarto agora. Esperávamos que ela acordasse em duas ou três horas, mas ainda está dormindo. Se quiser vê-la...

Eu nem terminei de ouvir o que ele disse para responder um sim alto. Paciente, muito ao contrário de mim, o rapaz me guiou pelo corredor até o único quarto de porta azul, onde Camila estava deitada em uma daquelas camas de hospital, aparelhos grudados em todo o seu corpo. Minhas lágrimas voltaram. Aquilo era simplesmente a pior cena da minha vida. Caminhei até a cama em passos lentos, me colocando ao lado de minha noiva calmamente. Encarei seu rosto, mordendo o lábio ao ver as várias cicatrizes de cortes causados pelo vidro, algumas escondidas pela máscara de oxigênio que ela usava. Sua expressão era tranquila, estava literalmente dormindo. Respirei fundo antes de levar minha mão até a dela, tocando sua pele gelada com meu polegar em um carinho, um carinho do qual esperei demais. Chorei mais uma vez. Eu queria muito, queria logo um sinal, um aperto, uma respiração diferente, algum toque diferente na máquina que mostrasse que ela estava viva, queria que ela reagisse e me mostrasse que estava verdadeiramente bem. Eu queria que ela acordasse.

WAITING • shawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora